terça-feira, 14 de junho de 2022

Joaquim Simões, Três disposições

 


ns



Disseste

 

Tudo está bem   a estrela

brilhando para se guiar

o sol que adormece na beirinha do mar

a ave leve sobre a rama

 

agora a chuva

iluminando os silêncios do amor

e em cada gota de riso e suor

um arco-íris a brilhar que nos chama

 

lá do lugar

onde o Tempo se pôs a sonhar

com a história em que se há-de achar

este tempo que foi dado aos dois

e é nossa antes e depois

 

 

Poema ecológico

                             para os do costume

 

De ti, não vemos a cara,

só dás rosto ao rosto infecto

de uma praga, de um insecto

que se espalha pelo país

e nos destrói a raiz,

 

que fala e soa a soneto

que não é branco nem preto,

porque é de bicho-careto.

 

Levas esta versalhada,

não serves para mais nada.

 

 

Sem título

 

Ao perguntar-me, há bocado,

se sonharia, julguei

sentir-me todo encostado

a um eu de um qualquer lado,

de que nunca suspeitei.

 

Como se esse eu fosse alguém

a quem estivesse colado

costas com costas. Porém,

não vi nada nem ninguém,

ao virar-me, admirado.

 

Para o que desse e viesse,

esbracejei à minha volta,

em busca do que pudesse

estar escondido e me quisesse,

alma penada ou à solta.

 

Não sei bem o que me deu,

chamei por ele… por mim…

Mas ninguém me respondeu,

apenas um eco meu

que parecia rir, no fim.

 

Confuso, meio receoso,

pior ainda: irritado,

fiz-lhe caretas de gozo

que, eu cá, nunca fui medroso,

nem estou para ser gozado.

 

Mas nada, nada buliu

perto ou longe dali,

nada chegou ou fugiu

nem se fechou nem se abriu...

Fiquei-me, não insisti.

 

Será que sonhei um sonho?

Não será original

e não chega a ser medonho…

Uns copitos de medronho

e a coisa passa. Afinal...


Nicolau Saião, Henrik Edstrom ou A reconversão do universo

 


Henrik Edstrom, Em busca da estrela (col. ns)


   Todo o verdadeiro pintor é de facto um demiurgo. E, como referiu Pablo Picasso, “mais que o inspirado é aquele que inspira”. Que inspira o desejo de uma nova visão, de uma nova formulação e, ao mesmo tempo, fornece as faculdades interiores para que tal seja não só possível como concretizável.

   Mediante as cores e as formas com que se erguem os sinais dos três reinos da natureza, o que este pintor lírico e surrealista visa é transfigurar a existência em algo de significativo e de salubre, indo para além das condicionantes sociais e humanas. Uma vez que a pintura autêntica é uma alquimia espiritual, que transforma e que faz permanecer na existência quotidiana os signos que a sustentam e através dela permanecem no mundo.

   Sendo um filho da Europa do Norte, Henrik Edstrom. aprendeu bem cedo as lendas dessas terras onde os gnomos e as fadas dos bosques vivem paredes-meias com os habitantes dos jardins, onde os turbilhões de neve nos deixam adivinhar figuras mágicas ao crepúsculo das povoações. Onde as cores e os traços, por seu turno, nas tardes de sol e de bom tempo possuem uma exactidão precisa e luminosa.

   Porque dá mais facilidade de manejo, sendo mais libertador do gesto uma vez que confere mais rapidez à execução, o pintor utiliza preferentemente o guache e a aguarela, como nas obras (uma série de 24 pinturas encantadoras e plenas de frescura) com que ilustrou os poemas do grande poeta húngaro Attila Joszef.

   Henrik Edstrom, através da sua paleta tão sabedora e livre como o coração duma criança, viaja pelos mundos onde dá gosto viver, mas com o conhecimento que de tal pode ter um animal quotidiano ou fabuloso entre os bosques e jardins dos nossos afectos vitais.



Henrik Edstrom, O gnomo feiticeiro


   Nele habitam o poeta e o artista - que as cores e seus prestígios revelam como num encantamento que a todos é, afinal, íntimo e comunicativo.

  Tive o gosto de o conhecer na biblioteca municipal, em Portalegre, onde veio há um par de anos expor uma surpreendente série de 46 óleos, guaches, aguarelas e colagens. Eu cumpria ali os meus últimos dias de funcionário.

  Durante duas horas, na sua voz suavizada pela idade, mas firme e sugestiva como os versos do Kalevaala que aliás teve o ensejo de ilustrar, falou-me de lendas da sua terra, de projectos e de maneiras de pintar – pois este pintor-poeta é de igual modo um fabro, um hacedor no plano das matérias, da forma concreta pela qual se exerce a arte de efectivar uma obra que haverá de andar nos dois planos do tempo: a que se palpa com os olhos e a que se observa com os dedos das mãos. Adicionalmente, a que – como a ars magna, a opus primae – reside e se reconhece no plano da alma, como nos disse Eyrinée Philalète.

   Dias depois – já ele voava de regresso a Anneberg, onde nasceu em 1937 - sem que para tal eu houvesse feito algo de assinalável vieram trazer-me ao gabinete um embrulho relativamente volumoso. Abri-o com expectativa. Continha dois quadros belíssimos e, num bilhetinho, vinham os seguintes dizeres: “Para o amigo NS intitular como achar melhor”.

  Estão hoje na sala da minha casa de Portalegre. Chamam-se, com efeito, “A partida para a ilha” e “O príncipe colhendo a estrela” e epigrafam duas passagens do Kalevaala.

  Foi a fórmula mais adequada que encontrei para lhe agradecer.


Kalevala, Nagryanuli

 



terça-feira, 7 de junho de 2022

Para que a Terra não esqueça

 

O "Carniceiro da Síria" desapareceu na Rússia.

Foi afastado por Putin,

abatido pelos ucranianos

ou eliminado pelo Kremlin?

 

Há duas semanas que o general Dvornikov não é visto. Já terá um sucessor, o general Zhidko. Rotação normal, como acontecia na Síria, ou será mais um dos generais mortos pelos ucranianos?

A questão que se coloca é o que terá acontecido a Aleksandr Vladimirovich Dvornikov. Conhecido como o “Carniceiro da Síria”, devido à quantidade de mortos civis que fez em Aleppo, durante a guerra naquele país, uma das suas primeiras ordens, ao ganhar o controlo das tropas na Ucrânia, terá sido também um massacre: o ataque com mísseis a uma estação de comboios em Kramatorsk, onde morreram mais de 50 civis, incluindo 5 crianças.

(Dos jornais)

 

  Os generais Russos estão a ser caçados na Ucrânia, coisa nunca vista desde a segunda grande guerra mundial, é normal que os generais que estão a participar na criminosa invasão da Ucrânia tenham mudado de estratégia e estejam a comandar as tropas, protegidos em bunkers ao estilo do psicopata nazi do Putin aonde nada lhe falta. Quem se lixa são os soldados que são carne para canhão, nem sequer se dignam a recuperar os cadáveres espalhados pelos campos de batalha.

  Já se fala em mais de 8 generais Russos mortos devidamente confirmados a Ucrânia já diz que foram 12.

  Um exército super-desmoralizado como o é o exército russo é fácil os seus comandantes e generais morrerem de "morte súbita" e violenta, simulando que foram abatidos pelo exército Ucraniano. 

Anti Ditadores


José Carlos Costa Marques, Poema setenta e seis

 


Greta Knutson



Fantasma de mim mesmo nestas ruas de outrora

Onde está aquele que hoje por elas caminha?

O que foi só miragem mas o que nela presente

E pressente a dimensão da luz?  O que nunca emigrou?

O que retorna sobre seus passos e rasto nenhum encontra

Da realidade ou irrealidade

Ou mortiça penumbra esquálida a um canto da memória

Rio dividido em duas águas o teu tempo

Duas metades hiantes de uma ferida que não cola

O teu olhar esse é inocente do fosso que atravesso

Fantasma no tempo mas carne da tua carne

Mas na carne do teu presente onde vivo agora

Em ti a vida vive que me levará da carne

Até ao sossego maior

Levado pela tua mão ao mais belo abandono.

 

in “Por outras palavras”


Gaspar Garção, Quatro fitas, quatro textos

 


ns



1.

“Umberto D.”, realizado por Vittorio de Sica em 1952, é um filme “bandeira” do neo-realismo, movimento cinematográfico que retrata a pobreza, o desespero e a esperança da Itália no pós-II Guerra Mundial, mas é também um melodrama intemporal, em que a dignidade e a solidariedade do ser humano estão presentes em todos os frames, e nem o facto de ser um filme duro, intransigente e demasiado verdadeiro, nos leva a amá-lo menos.

Se Vittorio de Sica é hoje em dia claramente subvalorizado, dentro do panorama cinematográfico italiano, muito atrás dos génios Fellini, Antonioni, Rossellini e Visconti (podendo ser considerado como um autor de “segunda linha”, na honrosa companhia de Pasolini, Risi, Scola e Ferreri, por exemplo), foi um dos grandes responsáveis pela visibilidade em Hollywood do cinema de autor europeu e mundial, no pós-guerra: filmes como “Sciuscià - Engraxador de Sapatos”, de 1946 e o magistral “Ladrões de Bicicletas”, de 1948 (vencedores de um Óscar Especial), co-escritos pelo grande Cesare Zavatinni, foram fundamentais para levar a Academia a criar, em 1956, o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro (que venceu ainda mais duas vezes, com “Ontem, Hoje e Amanhã”, de 1963 e “Il Giardino dei Finzi Contini/O Jardim onde Vivemos”, de 1970).

Numa obra vasta, com cerca de três dezenas de filmes como realizador e quase duas centenas como ator, De Sica realizou principalmente dramas e “commedia all' italiana”, geralmente num cenário contemporâneo, destacando-se ainda “O Milagre de Milão”, de 1951, “O Ouro de Nápoles”, de 1954, “La Ciociara/Duas Mulheres” (que deu o Óscar de Melhor Atriz a Sophia Loren), de 1960, “Sete Vezes Mulher”, de 1964, e “Matrimónio à Italiana”, de 1967.

“Umberto D.” (que apesar de nomeado para o Óscar de Melhor Argumento Original e ser a obra mais amada pelo seu realizador, foi um fracasso de bilheteira), é um filme cheio de angústia e de solidão, uma solidão que Umberto D. apenas alivia nos passeios com o seu cão Flike, ou nas conversas com a gentil empregada do seu prédio, de onde está prestes a ser despejado. O ator principal, interpretado por Carlo Battisti (um ator não-profissional), poderia ter sido perfeitamente interpretado pelo próprio Vittorio de Sica, embora este estivesse habituado (e ficado rotulado) aos papéis de nobre, de bon vivant e de trapaceiro, ele que nasceu em Nápoles, cresceu na pobreza e começou muito cedo a trabalhar, tal como Umberto D., no funcionalismo público “cinzento” da Itália fascista.

E todo o final deste assombroso e impiedoso filme é Chapliniano, no sentido em que as personagens dos filmes de Charles Chaplin, mesmo à beira dum abismo existencial e material, conseguem encontrar algo, uma centelha de empatia, de calor humano (ou animal), que os leva a querer viver, a lutar pela sua dignidade, a esperar por um novo nascer do sol…

2.

“Per un pugno di Dollari”, de Sergio Leone, é um filme dominada pela palavra “tríptico”: sendo o primeiro “movimento” da trilogia temática dos “Dólares”, é talvez o mais mal-amado, em comparação com as obras-primas “Per qualche Dollaro in più/Por mais alguns Dólares” (1964) e o icónico “Il Buono, il Brutto, il Cattivo/O Bom, o Mau e o Vilão” (1966). É também uma das três versões cinematográficas essenciais, livremente inspiradas no livro “Red Harvest/Ceifa Vermelha” (1929), de Dashiell Hammett (as outras duas são o grande clássico “Yôjinbô/Yojimbo, o Invencível” (1961), de Akira Kurosawa e o assombroso “Miller’s Crossing/História de Gangsters” (1990), dos Irmãos Coen). “Dollari” põe em confronto um triângulo violento na vila de San Miguel: dois centros de poder, duas famílias com uma contenda (os Rojos e os Baxters), e o elemento catalizador da trama, o ‘Homem sem Nome”, interpretado por Clint Eastwood.

E é um filme “ensombrado” pelos três génios que o moldaram: Leone, Eastwood e Ennio Morricone.

Muito haveria a dizer sobre esta obra magnífica e algo subvalorizada, mas sendo este um ciclo sobre bandas sonoras, porque não falar do grande Morricone?

Aos 90 anos de idade, a sua lucidez e o seu espirito de “Missão”, levam-no a fazer concertos pelo mundo fora, onde a música da trilogia dos “Dólares” ocupa papel de relevo, assim como as suas muitas partituras para filmes Giallo, outros Western Spaghetti, clássicos europeus, clássicos de Hollywood…

Numa lista inesgotável, destacam-se as bandas sonoras que fez para Leone, além dos três filmes com o “Homem Sem Nome”. São três composições absolutamente brilhantes e intemporais: “C'era una volta il West/Aconteceu no Oeste” (1968), “Giù la Testa/Aguenta-te, Canalha” (1971) e talvez a mais bela de todas (e uma das mais belas da história do cinema), “Once Upon a Time in America/Era uma Vez na América” (1984).

Em “Per un pugno di Dollari”, o assobio icónico e a guitarra dedilhada suavemente por Alessandro Alessandroni, as flautas distintas e cortantes e o coro masculino de ‘Titoli”, o tema inicial/leitmotiv do filme, transportam-nos imediatamente para as cenas iniciais, e a disrupção do status quo pela personagem “sem nome” de Eastwood, ao chegar a San Miguel.

Mas este filme é um todo orgânico: os cenários e as deslumbrantes paisagens do deserto de Tabernas, na província espanhola de Almería (onde tantos Western Spaghettis foram filmados), as interpretações (destacando-se o grande Gian Maria Volonté, creditado no filme como John Wells), o argumento, a fotografia, a montagem, a realização magistral de Leone e, por fim, o “cimento” que tudo junta, a música de um génio, nascido em Roma em 1928, e que neste filme é creditado como Dan Savio, mas que todo o mundo conhece como “il Maestro”…

3.

“Tinker, Tailor, Soldier, Spy”, adaptado do grande romance de John Le Carré, um dos seus melhores livros, a par de “O Fiel Jardineiro” e “O Espião que Saiu do Frio”, também adaptações cinematográficas essenciais, é um filme cheio de silêncios, de nuances e de expressões faciais onde a verdade se oculta, e em que a luta entre mentes brilhantes e seres que vivem na sombra não decorre abertamente, mas num mundo crepuscular e traiçoeiro. Estas personagens são os mestres da espionagem de dois blocos antagonistas: um, o Ocidente, através do taciturno mas eficaz George Smiley; outro, o Leste, essa Cortina de Ferro que o gélido e impiedoso Karla representa (neste filme apenas uma voz incorpórea, ainda mais perturbante), o mágico por detrás da cortina de fumo soviética.

Esta luta não é uma luta pelo coração e a mente dos povos, nem uma luta ideológica e económica, nem sequer uma luta com regras e fair play, o “Grande Jogo”, que era o jogo dos espiões na época de Sherlock Holmes, mas sim uma luta moral.

Por toda a magistral obra de Le Carré perpassa um sentimento de desconforto, de dúvida, de incerteza, sobre o papel que ocupamos no mundo, o que está certo e errado, e quem luta pelo lado “certo” e “errado”, se na realidade há diferenças entre ambos, e onde se delimita a “linha na areia”. Smiley, um funcionário público aparentemente cinzento, mas de uma perspicácia mental digna de um Hercule Poirot, traça essa linha precisamente na traição, a linguagem dos espiões ao longo da história, mas que não deixa de considerar como blasfema, na sua bússola moral (que tem também norteado Le Carré ao longo da sua carreira), já que é uma traição aos colegas, companheiros e amigos, muito mais grave que a traição a “Queen and Country”.

Através de uma teia de intrigas fascinante, de um jogo de sombras envoltas no nevoeiro da Guerra Fria, vamos conhecendo as personagens fulcrais deste filme: Control, o líder, doente e aparentemente derrotado, mas que é feito da estirpe que fez os ingleses sobreviver ao Blitz (assombroso e fantasmático John Hurt), e os possíveis suspeitos de uma traição imperdoável, a “Toupeira” do título: Toby Esterhase (David Dencik), Roy Bland (Ciarán Hinds), Bill Haydon (Colin Firth), Percy Alleline (Toby Jones) e George Smiley (que Gary Oldman interpreta de forma fascinante, reprimida, seguindo as exemplares pegadas de Alec Guiness, que interpretou Smiley na minissérie da BBC dos anos 70).

Smiley, aparentemente o espião perfeito, imperturbável e analítico, o típico exemplar da fleuma britânica e da tradição do “civil service”, um jogador de xadrez que, tal como a sua Némesis Karla, move e manipula “peças” humanas com a destreza de um Mestre, tem no entanto uma fraqueza, que conhece, mas que ele próprio não se apercebe ser tão grave (para um espião), e é essa fraqueza (humanidade?) que o torna cego ao jogo duplo da “toupeira” à sua frente.

Se no cinema noir, a chave para descobrir o enredo era o célebre mote “cherchez la femme”, no mundo da espionagem, dos duplos e triplos agentes, que nos trouxe personagens tão icónicas como James Bond, Harry Palmer, Jason Bourne, Ethan Hunt e Jack Ryan, será mais acertado dizer “cherchez le espion”…

                                        (Folha de Sala, do Cineclube do Porto)

 

4.

“The General”, conhecido em Portugal pelo título de “Pamplinas Maquinista”, é um filme mudo, realizado em 1926 por Buster Keaton e Clyde Bruckman e, curiosamente, estreado na noite de 31 de dezembro, em duas pequenas salas de cinema de Tóquio, tendo depois a sua estreia oficial em março de 1927, nos Estados Unidos, e em fevereiro de 1929, no nosso país (sob o título inicial de “A Glória de Pamplinas”).

“Pamplinas Maquinista” é, apesar dos seus quase 100 anos de idade, um filme intemporal, que continua fascinante e imprevisível, a par de “O Garoto de Charlot”, um dos filmes mais populares do cinema mudo, e é unanimemente considerado pela crítica como o melhor filme de Keaton, e um dos apogeus dessa era quase esquecida da 7ª Arte.

Tal como José Régio, um ardente admirador de Buster Keaton e deste filme, afirmou, em maio de 1927, no número 4 da revista Presença, o genial ator “é talvez o maior fantasista e o maior excêntrico dos seus camaradas”, afirmação feita numa comparação com Charles Chaplin, Harold Lloyd e os outros génios desta época de ouro cinematográfica.

Keaton foi também admirado e reverenciado por muitos dos seus contemporâneos, tais como Orson Welles, o autor de “Citizen Kane - O Mundo a seus Pés” (muitas vezes votado como o melhor filme da história), que considerava precisamente “Pamplinas Maquinista” como “talvez o melhor filme alguma vez realizado” e Salvador Dalí, que rotulou os seus filmes como “pura poesia anti-artística”.

No entanto, é assombroso que “Pamplinas Maquinista”, uma obra-prima absoluta, tenha sido o maior fracasso da carreira de Buster Keaton, levando-o a perder a sua independência artística. Nos anos seguintes, Keaton tornou-se mais uma das “lendas esquecidas” da velha Hollywood (papel que ele brilhantemente parodiou no filme “Limelight/As Luzes da Ribalta”, do seu amigo Chaplin, em 1952).

Buster Keaton foi posteriormente “perdoado” pela Academia das Arte e Ciências, que lhe atribuiu um Óscar Honorário em 1960, tendo sido depois resgatado pela crítica francesa da Nouvelle Vague, em meados dos anos 60, sendo um dos favoritos de Jean-Luc Godard e François Truffaut, tal como o eram os herdeiros espirituais de Keaton: Jerry Lewis e Jacques Tati.

Mas já Régio crítico de cinema, no ano do filme, escrevia, a propósito das suas obras anteriores: “a imaginação é o que há mais de doido e sôfrego em nós. Buster Keaton, Pamplinas, homem que nunca ris para que os outros [o] faça[m]”.

“Pamplinas Maquinista” é, de facto, o culminar de uma obra fílmica genial, tanto em termos de realização, fotografia e montagem, com uma depuração de estilo extrema, que se cinge ao essencial, como na utilização dos cenários e das bandas sonoras e, principalmente, na perfeição absoluta dos seus gags, com um timing milimétrico e plenos de acrobacias fascinantes, que só têm rival no outro génio absoluto da época, Chaplin.

Entre 1923 e 1928, a sua produção fílmica inclui 10 longas-metragens, que só muito tardiamente foram reconhecidas, a par da obra de Charles Chaplin, de Serguei Eisenstein, de Fritz Lang, de F. W. Murnau, de Carl T. Dreyer e de D. W. Griffith, como os alicerces do cinema mudo, e que hoje em dia continuam tão frescas e originais como no dia em que foram projetadas à manivela.

O filme que iremos hoje ver, de uma autenticidade histórica e de atenção aos pormenores que ainda hoje impressiona, é baseado num acontecimento real da Guerra da Secessão Americana, a guerra civil que entre 1861 e 1865 dilacerou os Estados Unidos, entre um Norte, industrializado, progressista e sem escravatura, a União; e um Sul, onde os “velhos costumes”, as tradições sulistas e a independência frente ao estado Federal, mascaravam a ignomínia da escravatura e da exploração laboral dos negros, o sustentáculo destes estados do Sul americano, a Confederação.

Curiosamente, Keaton interpreta uma personagem do lado “errado” dos carris, um Sulista que resgata uma locomotiva confederada, roubada por soldados da União, e que no entanto é, como não podia deixar de ser, um arquétipo de todas as personagens que interpretou, “O Homem que nunca ri”, mas que nos faz rir, com as suas expressões faciais (ou melhor dizendo, a ausência das mesmas), e a sua linguagem corporal admirável, que é em si mesma um tratado da arte de fazer humor, herdeira do “slapstick/paródia” dos inícios do cinema mudo.

Referindo-se à sua obra em geral, mas não a este filme em particular, que como já foi referido, só estrearia em Portugal dois anos depois do artigo da Presença, Régio, sempre perspicaz, define a obra de Buster Keaton em poucas frases: “os seus cenários entram nele, como ele sai para os seus cenários, e a resistência da matéria ou o poder dos elementos são colegas com quem ele brinca, luta, sanha… A sua fantasia vai do burlesco ao macabro, apanha este mundo e os outros. Cómico? Ele diverte como poucos; mas, como Charlot ultrapassa o cómico por ser um grande poeta”.

Como o próprio Keaton referia, numa entrevista dos anos 60, em que com humildade extrema recusava os epítetos de “génio”, e honrando os seus inícios no mundo do Vaudeville, a sua ambição foi “sempre apenas a de fazer rir, de conseguir as gargalhadas”.

Concluo esta minha breve apresentação, mais uma vez, com as prescientes opiniões de José Régio, em que o crítico se confessa: “tu estás mais ou menos a ditar-me estas coisas. Tenho a meu lado a tua máscara longa e séria – esculpida em madeira?, em pedra?, em osso?, em carne?, por um Deus excêntrico ou por um artista negro. Essa máscara, não sei se ela é um processo, uma confissão, ou uma ironia. Mas eu também estou a ser muito sério quando falo de ti. Não obsto a que me apeteça brincar um pouco…

Falar de Pamplinas, como, sem pintar as ideias com um pouco de fantasia?”.

 

(Texto lido no Centro de Artes do Espectáculo de Portalegre, no âmbito do Ciclo “Cinema e José Régio”, integrado no programa da evocação do cinquentenário da morte de José Régio, organizado pela Casa Museu José Régio - junho de 2019)


Charles Chaplin, Luzes da ribalta

 



terça-feira, 31 de maio de 2022

Para que a Terra não esqueça

 

Iates russos em modo furtivo para evitar apreensão

 

Pelo menos seis super-iates desapareceram do sistema de identificação automática que permitia localizar barcos. Todos pertencem a oligarcas sancionados por causa da guerra na Ucrânia.

Os super-iates dos oligarcas com ligações ao Kremlin que foram alvo de sanções britânicas estão a ser transformados em barcos fantasma para que a sua localização não seja detetável pelas autoridades - e para que, sendo assim, não possam ser apreendidos. É o que revela uma investigação do jornal Observer.

(Dos jornais)

 

Quanto sangue e dor estão por trás desses barcos, quanto dinheiro sujo! 

Como é que essa gente consegue dormir? 

Haja falta de consciência! Falta de empatia! Falta de caráter! 

Adriana Cardoso


Dois poemas de Floriano Martins

 


Mimi Parent



TRATADOS DA SOMBRA


1. O poeta é exigido por uma angústia vital:

aquela do desenlace em si de uma nova

transparência a partir de toda a opacidade

de sua vida. Tudo nele busca o desespero

iluminado das formas, sua convulsão

precipitada sobre a beleza das imagens

aterradoras. Refere-se o poeta sempre

ao outro que ainda não conseguiram tocar

suas débeis figuras. Indigente do instante

e do conhecimento do mistério, concebe

para si a tarefa de escrever um livro

impossível: o da personificação da morte.

Dissolve-se na matéria de suas metáforas,

misturado à visão do livro findo inacabado.

 

 

TRATADOS DA SOMBRA

 

2. Com quem se parece o pobre poeta senão

com Deus? Indaguei o nome do guardião

de seu museu de imagens. "Cuido de sombras

que deliram do desejo de ser a medida

de todos os homens". Que nome dar a ele?

(Gorostiza Holan Bopp Schwob Pessoa Breton)

Vislumbramos as possibilidades de amor

e amizade entre os homens, por mais estranhas

que sejam as atividades humanas. Parece-nos

a diversidade uma fotografia do vazio.

Apodrecida no excesso de signos a linguagem

não é mais a glória do indivíduo. Não mais

que Deus, em sua máscara de sombras, o velho

diabo feito de livros, ignorado em seu mundo.


Nicolau Saião, Lyle Carbajal ou O passeio real pelo país da infância

 


João Garção


   Um mundo de animais fabulosos que são quotidianos e domésticos e familiares quanto baste, um universo de anjos que são pessoas vulgares, um continente de gente diversa e de situações encenadas que de repente cobram razões e têm a sua razão muito própria, a naturalidade do tempo e o inaudito que a cada momento se encontram e se completam. É possível ser livre, serve dizer: transportar a liberdade – seja de existir seja de conceber a existência desta ou daquela maneira intensa e peculiar?

   O pintor diz-nos que sim. E atesta-o com os seus quadros, onde cobra realidade uma vida tumultuosa, encantada e quase miraculosa: a do seu pensamento.

   O seu pensamento, sublinho.

   Pois Carbajal, tendo nele toda a singularidade dos ritmos que às crianças em geral se atribuem, está longe de ser um pintor naif. Com efeito, detectam-se facilmente na sua pintura os vestígios dum conhecimento profundo tanto dos autores do Renascimento como dos modernos que o antecederam, de Cézanne a Matisse, de Beckman a Picasso, de todos os pintores que souberam excursionar tanto pela realidade como pela imaginação que cria os mundos alternativos e reconvertidos que a arte permite e proporciona. Ele é mais um pintor do fantástico, daquele surrealismo onde a poesia busca um sentido de memória que lhe permita dar o retrato transfigurado – e por isso mais real – do passado que se teve e que se lembra com emoção, esse passado onde era possível encenar um futuro provável – ou antes: desejado.

   Numa entrevista dada a um órgão de comunicação onde sagazmente é chamada a nossa atenção para as suas raízes hispânicas, Carbajal refere o que sempre o motivou e orienta a sua pintura: as estórias com que as crianças pontilham o dia a dia, esse dia a dia feito de coisas habituais – de idas e vindas da escola pelo “chemin des écoliers”, de objectos e móveis de uso quotidiano, de frutos e de animais, de pessoas que se vêem ao deambular pelas horas correntes; mas também os grandes medos, os grandes espantos e as grandes alegrias das descobertas de um lugar, daquilo que se aprende seja com os parentes seja com os mestres, seja mediante o nosso próprio silêncio e a nossa meditação. E a maravilha dum livro, dum filme, dum passeio, duma ida a um circo… Para além do específico bem material dum trabalho aturado.

   Sendo um grande colorista, ou seja, um conhecedor profundo de como um rosa se liga a um cinzento, de como um verde azeitona pode fazer sentido junto a um amarelo escuro ou um anil, Carbajal tem também um domínio exemplar do inacabado, do imperfeito e do obscuro – esses que mudam de plano no interior e no exterior do suporte e que de repente criam uma nova realidade, tão multifacetada como oportuna.

    «Un soldat marche, seul, a travers la forêt. Il est minuscule, parmi les troncs des sapins immenses, serrés et compacts comme un mur. On distingue à peine un sentier étroit dans la neige». O pintor, tal como o soldado na floresta assombrada da Sabedoria Tradicional, só tem para se orientar a sua capacidade de entrega aos mundos que ele cria e que lhe permitem não desistir, rodeado que está (como todos afinal) dos perigos que a cada momento o tentam destroçar. Ou pelo menos impedir que se veja livre dos liames do hábito, do preconceito e da mesquinhez um pouco sórdida dos infernos sociais.

   Com a naturalidade dos que sabem purificar o seu modus operandi, sem os dramatismos que os zoilos tentam colar-lhe na face (a arte como objecto de turismo mental…), o pintor faz com enlevo nascer o quadro, razão de quem sabe que a arte é ou deve ser um elemento próximo e ao alcance de todos os olhos que querem de facto ver.

   Leia-se: que sabem maravilhar-se, isto é - entender a existência como inteira evidencia e doação dos adultos que souberam conservar o seu coração de criança.


Giovanni Marradi, Remember when

 



terça-feira, 24 de maio de 2022

ANTE-PROPÓSITO

 

Será Putin um agente da influência norte-americana? 


Não me arrisco a prever como terminará a invasão sangrenta da Ucrânia mas, para já, concluo que o ditador do Kremlin está a fazer o jogo dos “inimigos” da Rússia, cometendo crimes uns atrás dos outros.

Com a Rússia a afundar-se militarmente cada vez mais na Ucrânia e com lentos e custosos avanços no terreno, o país enfraquece e sofre um retrocesso económico, social e civilizacional cuja reversão poderá levar gerações. A desintegração da Federação Russa é um cenário cada vez mais realista e todos sabem – ou melhor, todos os que querem saber – o nome do seu coveiro: Vladimir Putin.

(Dos jornais)


   António Costa é dos políticos europeus mais empenhados em salvar a face de Putin, promovendo concessões territoriais e atrasando a integração da Ucrânia na UE, o que faz todo o sentido se olharmos para quem foram os aliados naturais na construção da geringonça que levou Costa a primeiro-ministro após uma derrota eleitoral, o PCP e o BE. Costa considera o PCP não só democrático como até um seu aliado preferencial.   Agora que as máscaras caíram, convém disfarçar e fazer périplos pseudo-pró-europeus mas que são acima de tudo socialistas e anti-liberais.

Paulo Morisson


Para que a Terra não esqueça

 


Javier Pagola



“Tenho muita vergonha.”

Entrevista ao procurador de Mikolaiv,

que viu um colega ser detido por trair o país


   No início de abril, cinco semanas depois do início da guerra, este homem passou por um duplo embaraço. Eugeniy Ivanovych Riaby, 44 anos, chefe da procuradoria de Mikolaiv, uma das cidades mais atacadas pelos russos, teve de enfrentar o olhar suspeito de todos os que o conheciam. Os Serviços de Segurança da Ucrânia tinham divulgado que o chefe da procuradoria de Mikolaiv era suspeito de traição e tinha confessado o crime.

   Como a nota oficial não divulgou o nome, e como a hierarquia da procuradoria é algo complexa, muita gente pensou que era Eugeniy o traidor.  

   Não era, tratava-se do chefe da procuradoria responsável por outra área de Mikolaiv, que terá sido apanhado a passar a um intermediário informações sobre a situação das tropas na região, militares e civis mortos, o resultado dos ataques, locais de detenção dos prisioneiros russos e palavras-passe de cada dia para não parar nos checkpoints.

(Dos jornais)


  Há sempre traidores neste tipo de acontecimentos. Basta olhar para a caixa de comentários de portugueses e verificar que em caso análogo encontraríamos alguns traidores entre estes que já aqui abaixo deixaram a sua laracha.

  O que motiva esta gente? Doença mental? Ambição de protagonismo? Falta de escrúpulos?  Ausência de valores? Ignorância? Obviamente muita coisa pode ser - mas algo tão simples de perceber não escaparia a uma simples autocrítica em qualquer pessoa de bem...

C. Casagrande


   Andam por aí uns sociopatas que lançam as culpas à NATO e fazem equivalências. Mas eu vou citar palavras sensatas: “Na Sérvia a NATO acabou com um genocídio em massa que estava em marcha. Acham que fizeram mal? No Iraque, Síria e Líbia urgia pôr alguma ordem nas guerras fratricidas e na rapaziada do DAESH . Deviam ter ficado de braços cruzados? E a Ucrânia nunca ameaçou a Rússia.”.

 Eis a evidência dos factos, comprovada.

 Manuel Roseira


Maria Azenha, Poema e pintura

 




NA MANHÃ SEGUINTE

na manhã seguinte as mulheres vieram
chorar junto às sepulturas

e vejam só: encontraram a céu aberto
pedras
que desabrocharam pela madrugada

os mortos
os mortos
tão vivos

um silêncio impenetrável

in A casa da memória



Maria Azenha, Ucrânia (2022)

Um texto de José do Carmo Francisco

 

Quirino Teixeira


   Anos atrás adquiri, num alfarrabista, dois livros – a preço convidativo – em segunda mão. Abundantemente sublinhados e com pequenas anotações argutas, esses volumes de entrevistas por Madeleine Chapsal haviam pertencido a Quirino Teixeira que, soube-o mais tarde, falecera pouco tempo antes (fora encontrado morto na banheira, decerto vitimado por colapso cardíaco). Pesquisando na Net, encontrei o texto que a seguir se apresenta, da autoria de José do Carmo Francisco, que de pronto me facultou a sua publicação. Mais uma vez cabe a frase proverbial de que o mundo é pequeno e procede a curiosas triangulações…(ns)



             Quirino Teixeira – memórias dum jornalismo romântico


 

  Quando refiro (e nunca é de mais) os meus mestres do Jornalismo no «Diário Popular» (Jacinto Baptista) e em A BOLA (Carlos Pinhão) não posso esquecer o que aprendi com Quirino Teixeira na redacção da Revista do Jornal TEMPO. Foi ele que me ensinou o pouco que sei sobre paginação de jornais e revistas, coisa essa que tão útil me foi mais tarde em todos os jornais onde trabalhei primeiro como colaborador e depois como redactor efectivo.

 

     Há muitas histórias engraçadas. Um dia, por alturas de uma passagem de ano, sugeri que na próxima semana só se referissem livros infantis sob o título de «Na semana mais pequena, livros para os mais pequenos». Quirino achou piada e disse-me para nunca me acanhar com sugestões. Um fim de tarde, passámos largo tempo a escolher uma capa para a Revista a cores (era uma igreja numa ilha açoriana) e, dois dias depois, quando o jornal saiu para as bancas, a capa era outra. Alguém se tinha chegado à frente com duzentos e cinquenta mil escudos e por isso a capa era uma família feliz – pelo menos na fotografia.  

   

    Outra vez foi a nota de leitura que assinei sobre um livro do José Agostinho Baptista; ao chegar ao Funchal o poeta recebeu um envelope da sua irmã com vários textos de jornais da Madeira sobre livros recentes deste autor. Alguém, num jornal local, tinha achado que o melhor e mais fácil era copiar na íntegra o que eu tinha escrito no TEMPO.  

 

    Chamo-lhe jornalismo romântico porque não havia interesses materiais em jogo, as coisas eram feitas pelo prazer de, todas as semanas, sair para a rua uma revista onde estava o melhor de nós. Era essa a contrapartida, a moeda de troca. Poderia lembrar que Quirino Teixeira entrevistou Fernando Namora, Salvador Dali, Juan Miró, Antoni Tapiés, Ana Maria Matute, Camilo José Cela ou António Vallejo mas isso já é outra crónica.  

    

 in Crónicas do Tejo


You raise me up (em ucraniano)

 



terça-feira, 17 de maio de 2022

PÓRTICO

 

Eu e os bigodes dele




   Tentei tudo. Juro pelas alminhas…!

   Baseado naquela velha e renomada frase bem portuguesa, com incidências nos tempos tradicionais em que os homens, a boa rapaziada, se reuniam nas tascas para uma bisca lambida no fim de um dia de trabalho (“Vamos dar-lhes um bigode?”) usando o Paint e uma foto colhida numa folha-de-couve da capital – tentei tudo, literalmente, para fazer parecer ridículo o nosso primeiro-ministro.

   Mas falhei, confesso-o com humildade.

   A minha confessada intenção, militante e faceta, era ajudar a derribá-lo pelo riso, ajudar a que nos próximos tempos as pessoas o rejeitem, vendo-o tão cómico, tão apalhaçado, tão caricato.

  O riso, como se sabe, é uma arma poderosa.

  E vai daí, lá me esforcei eu plasticamente. Primeiro pus-lhe um bigodinho à Hitler. Ná, não resultava. Depois desenhei-lhe uma bigodaça à Stalin. Nada feito. A seguir, pus-lhe um bigode à mexicano de opereta e guitarrada, daqueles que no fim das cantorias dizem sempre com trémolos na voz “mi corazón, dling dlong”. Nicles.

  O nosso primeiro, honra lhe seja, possui a meu ver um rosto singularmente nobre, austero apesar de se rir muito (nos melhores momentos lá na estranja e também cá dentro) é o rosto dum homem determinado, corajoso, claramente amantíssimo do seu país.

  Um rosto que, representando digamos o seu espírito, se impõe pela positiva a quem o observa. Lê-se nele uma alta qualidade moral e profissional. De cavalheiro capaz de derribar muros, mesmo os mais sinistros!

   O que os seus pares da Europa têm notado e não se cansam de sublinhar.

   Eu bem quis extrair da sua fotografia, com pequenos toques gráficos, o que de circense pudesse haver nele enquanto político.

   Não consegui.

   Frustrado, desisti.

   E só para não deixar totalmente os meus créditos por mãos alheias é que lhe desenhei, ainda que mal, um bigodinho à Poirot.

   O resultado é o que aqui está.

   Se falhei, devo-o a mim mesmo. Não ao perfil de estátua ou de medalha deste homem de singular valor que a Pátria um dia reconhecerá como um dos seus maiores.

   E o resto é conversa…

ns

Para que a Terra não esqueça

 


ns



Rendeiro era considerado prisioneiro de alto risco

 

João Rendeiro estava "numa cela única quando se enforcou". Ex-banqueiro era considerado prisioneiro de alto risco e estava a ser monitorizado, dizem os serviços prisionais da África do Sul.

(Dos jornais)

 

  Seja lá como for que o homem tenha ido para os anjinhos e eu acredito que tenha sido por sua mão, a verdade é que parece que se ouviu um ufff! monumental neste país. Marchou a tempo. Olhem se por acaso este banqueiro dos ricos e poderosos tem posto a boca no trombone! Depois do seu suicídio muita gente deve ter passado a dormir um soninho descansado, como uns justos. Há males que vêm por bens, lá diz o ditado.

  Maurício de Lemos

 

   Com tanta vigilância e monitorização…o manguelas conseguiu suicidar-se. Era um homem com muitos talentos, cheio de recursos. Além de génio da banca, génio de fuga pela porta mais certeira e definitiva! R.I.P.

Sérgio Sangalhos


Aos confrades, amigos, adeptos e simpatizantes

     Devido a um problema informático de última hora, não nos será possível fazer a postagem desta semana.    Esperando resolvê-lo em breve,...