terça-feira, 24 de maio de 2022

Um texto de José do Carmo Francisco

 

Quirino Teixeira


   Anos atrás adquiri, num alfarrabista, dois livros – a preço convidativo – em segunda mão. Abundantemente sublinhados e com pequenas anotações argutas, esses volumes de entrevistas por Madeleine Chapsal haviam pertencido a Quirino Teixeira que, soube-o mais tarde, falecera pouco tempo antes (fora encontrado morto na banheira, decerto vitimado por colapso cardíaco). Pesquisando na Net, encontrei o texto que a seguir se apresenta, da autoria de José do Carmo Francisco, que de pronto me facultou a sua publicação. Mais uma vez cabe a frase proverbial de que o mundo é pequeno e procede a curiosas triangulações…(ns)



             Quirino Teixeira – memórias dum jornalismo romântico


 

  Quando refiro (e nunca é de mais) os meus mestres do Jornalismo no «Diário Popular» (Jacinto Baptista) e em A BOLA (Carlos Pinhão) não posso esquecer o que aprendi com Quirino Teixeira na redacção da Revista do Jornal TEMPO. Foi ele que me ensinou o pouco que sei sobre paginação de jornais e revistas, coisa essa que tão útil me foi mais tarde em todos os jornais onde trabalhei primeiro como colaborador e depois como redactor efectivo.

 

     Há muitas histórias engraçadas. Um dia, por alturas de uma passagem de ano, sugeri que na próxima semana só se referissem livros infantis sob o título de «Na semana mais pequena, livros para os mais pequenos». Quirino achou piada e disse-me para nunca me acanhar com sugestões. Um fim de tarde, passámos largo tempo a escolher uma capa para a Revista a cores (era uma igreja numa ilha açoriana) e, dois dias depois, quando o jornal saiu para as bancas, a capa era outra. Alguém se tinha chegado à frente com duzentos e cinquenta mil escudos e por isso a capa era uma família feliz – pelo menos na fotografia.  

   

    Outra vez foi a nota de leitura que assinei sobre um livro do José Agostinho Baptista; ao chegar ao Funchal o poeta recebeu um envelope da sua irmã com vários textos de jornais da Madeira sobre livros recentes deste autor. Alguém, num jornal local, tinha achado que o melhor e mais fácil era copiar na íntegra o que eu tinha escrito no TEMPO.  

 

    Chamo-lhe jornalismo romântico porque não havia interesses materiais em jogo, as coisas eram feitas pelo prazer de, todas as semanas, sair para a rua uma revista onde estava o melhor de nós. Era essa a contrapartida, a moeda de troca. Poderia lembrar que Quirino Teixeira entrevistou Fernando Namora, Salvador Dali, Juan Miró, Antoni Tapiés, Ana Maria Matute, Camilo José Cela ou António Vallejo mas isso já é outra crónica.  

    

 in Crónicas do Tejo


Sem comentários:

Enviar um comentário

Aos confrades, amigos, adeptos e simpatizantes

     Devido a um problema informático de última hora, não nos será possível fazer a postagem desta semana.    Esperando resolvê-lo em breve,...