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O
RIO VAI CORRENDO
Deixa
os rios fluírem, deixa os rios fluírem, deixa os rios fluírem
deixa-os
vestir o que vestem
eu
não estou aqui para vender bocejos para
chorar
ilusões
perdidas
sobre
abismos abertos
Eu
não sou uma pessoa que descreve todas
as
tarefas de que eu gosto
deixa
os rios fluírem, deixa os rios fluírem, deixa os rios fluírem
deixa-os
carregar a lama
deixa
a rosa da consciência descansar pacificamente sobre a mesa para esse
tempo
em
cada cabelo cada estrela aparecerá tarde
enquanto
os pés das crianças se derretem em campos tão largos como
a
primeira neve
e
a centopeia agarra as sombras caindo sobre a parede
e
a relva cresce acima da tua testa
a
relva do esquecimento ou a relva das memórias não importa
deixa
os rios fluírem, deixa os rios fluírem, deixa os rios fluírem
deixa-os
lavar o sangue
a
relva do esquecimento ou a relva das memórias é tudo isso
que
ainda resta
deixa
os rios fluírem, deixa-os levar amor
deixa
os rios sonharem até eu chegar ao fim
deixa-os
fluir ao redor da estátua mais belos do que a carne do lilás
mais
belos do que o tempero silencioso da lua podre
mais
belos do que o sussurro silencioso de uma lua assustadora
deixa
a tesoura da dor vaguear sobre aquelas clareiras
ao
luar
luz
da lua nua luz da lua estéril
é
melhor eles vaguearem aqui onde a lua gelada aquece
do
que nos quartos onde os amantes recém-adormecidos dormem
deixa
os rios fluírem, deixa os rios fluírem, deixa os rios fluírem cheios
de
luar
deixa
a tesoura da dor e os arquivos da dor vaguearem
para
atenuar as palavras afiadas e ásperas que surgem como
cargas
dessas camas de fogo e de cabeça para baixo
no
paraíso
deixa
os rios fluírem, deixa os rios fluírem, deixa os rios fluírem
deixa-os
vestir o que vestem
deixa-os
sussurrar para os solitários ao longo das bordas
deixa
as cidades andarem de mãos dadas
eles
cortam a respiração e colocam o pé debaixo dela
e
de tudo o que te importa
deixa
os rios fluírem, deixa os rios fluírem, deixa os rios fluírem
deixa-os
carregar a lama e a dor
quem
és tu para levantar a mão atrás do braço da consciência sobre a mesa
deixa
os rios fluírem, deixa os rios fluírem, deixa os rios fluírem
quem
és tu que gritas melancolicamente e ninguém dá a sua cabeça
que
se virou
deixa
os rios fluírem, deixa os rios fluírem, deixa os rios fluírem
deixa-os
carregar ouro e dor
quem
és tu para tecer armadilhas em torno de castelos
onde
morrem os pombos
tu
gentil e desconhecido
quem
és tu para olhar tanto para a estátua
mais
mortal do que o cheiro dos jacintos
todas
as agulhas arrancadas da carne dolorida que não existe
e
encontrou as suas esperanças na encruzilhada onde
de
tarde o vento sopra e onde não há sinal
deixa
os rios fluírem, deixa os rios fluírem, deixa os rios fluírem
deixa
os rios fluírem, deixa os rios fluírem, deixa os rios fluírem
entra
na primeira casa, vira à esquerda e segue ao longo do corredor
e
abre bem ali
a
primeira porta
deixa
as palavras fluírem, deixa as palavras fluírem, deixa as palavras fluírem
de
uma para a outra para a terceira e assim por diante na última
onde
a janela está aberta tu encontrarás um gongo
ignora
tudo o que puderes
escuta
nada
bate
novamente no gongo com toda a força
ouvirás
boas risadas que se te destinam
apenas
não brinques na janela não brinques
nos
bloqueios
deixa
os rios fluírem, deixa os rios fluírem, deixa os rios fluírem
e
não olhes para trás
na
janela, não brinques ao esconde-esconde
olha
apenas: algo está sonhando ali
quanto
dessa morte está escrita e cuja morte está nos cegos
olhos
da estátua
não
brinques ao esconde-esconde na beira da janela
uma
tontura é tão fácil quanto o são as palavras
deixa
os rios fluírem, deixa os rios fluírem, deixa os rios fluírem
deixa
as palavras fluírem, deixa as palavras fluírem, deixa as palavras fluírem
o
que é uma noite numa sala vazia ao lado de um gongo
em
que tu bates incessantemente
deixa
os rios fluírem, deixa os rios fluírem, deixa os rios fluírem
para
quem são todas as noites e ela a NOITE
que
os abrange a todos
sem
sombra sem maquilhagem na copa da manhã vai cantar
o
PÁSSARO
deixa
os rios fluírem, deixa os rios fluírem, deixa os rios fluírem
deixa-os
carregar o amor
e
o que é uma noite esperando as medidas
ainda
mais uma vez a espera é
mais
rápida do que o contar
deixa
os rios fluírem, deixa os rios fluírem, deixa os rios fluírem
que
eles levem os céus com eles, que eles levem os seus próprios
tabuleiros
ou
seja, nós
tu
simplesmente ouve o pássaro e ri desse vermelho e
ouve
de repente
os
risos dos lábios da estátua que eles perderam
para
olhar antes de eles saírem da praça ao redor
da
meia-noite
risadas
boas e a ti destinadas
perdeu-se
o significado caloroso e simples da palavra que irá
hoje
para repetir mecanicamente
um
significado caloroso que apenas as crianças terão na frente das vitrines
começando
hoje antes de ir para a escola, sim
eles
entendem
deixa
os rios fluírem, deixa os rios fluírem, deixa os rios fluírem
deixa
as palavras fluírem, deixa as palavras fluírem, deixa as palavras fluírem
em
cada cabelo cada estrela tarde aparecerá
e
uma estrela tardia em cada palavra que aparece.
(Tradução
de Nicolau Saião)