terça-feira, 30 de maio de 2023

Aos confrades, amigos, adeptos e simpatizantes

 



   Devido a um problema informático de última hora, não nos será possível fazer a postagem desta semana.

   Esperando resolvê-lo em breve, daqui vai um abraço para todos.

NS

JS

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Para que a Terra não esqueça

 

"Não há contradições" em Galamba, diz Costa

 

Primeiro-ministro diz que foi informado por Galamba do que tinha ocorrido, mas já depois dos factos reportados ao SIS. Garante que não há contradição e que o que o SIS fez foi "operação corriqueira".

(Dos jornais)

 

   O que mais me irrita em António Costa é a sua enorme desfaçatez e tomar-nos a todos por acéfalos. O depoimento de João Galamba está cheio de contradições sobre horas, a quem telefonou, e quantas pessoas afinal estavam no gabinete e participaram na dignificante cena de pancadaria e puxões da mochila.(…) 

J. Floriano


Dois poemas de Jean Hautepierre

 

UM DIA, QUANDO NÓS TIVERMOS VIVIDO

 

Um dia, quando nós tivermos vivido

Virá o tempo de desaparecer;

Dias que nós já não veremos

Se levantarão sobre outros seres.

 

Na longa noite, no gelo,

Tudo desaparecerá como um grande sonho

- No silêncio e na morte

É a eternidade que se alonga.

 

E assim será o último sono

Onde tudo terá desaparecido - o senhor

Ao vivente tão parecido

Como as ondas, o azul, o sol…

 

Não teremos sido mais que espectros?

 

 

2 DE NOVEMBRO

 

Tu regressas, pálido dia dos mortos,

Lençol do céu onde tudo adormece,

Como um deus vencedor pairando

Sobre tudo o que morre, tudo o que desfalece.

 

Contigo regressam os lutos,

Os anos e a sua vaga de caixões

Que o teu sol friorento ilumina

- Sol de morte, sol de ruína.

 

E sempre os gritos sufocados

Dos teus amigos, o aborrecimento, o vento,

Reinam sozinhos sobre a terra cansada;

A vida extingue-se, o tempo tudo apaga.

 

Tradução de Cristino Cortes


José do Carmo Francisco, Postal nº 24 para Ana Isabel

 


Asger Jorn


Toda a crónica é, em princípio, uma história de poucas palavras. Ou de vinte linhas no «Word» que toda a gente tem - até os sem-abrigo. Maria Eulália de Macedo (1921-2011) escreveu «Histórias de poucas palavras» (Ática) livro editado em 1971 com apresentação de Jacinto do Prado Coelho. Foi Maria Ondina Braga (1922-2003) que me revelou este livro repetindo uma frase da apresentação: «Maria Eulália de Macedo é uma escritora genuína». Essa qualidade aparece logo na página 13 quando a autora refere Amarante: «Tenho pela minha terra um amor duro e enxuto de lirismo. É deste chão que eu sou e dele gosto. Uma terra de poucos turistas, sem notícias no jornal, sem ranchos de folclore, sem arte regional. Não há Casa do Povo e muitas vezes o povo não tem casa.» Em 1971 as pessoas comunicavam mesmo sem Internet, telemóveis ou computadores. A um recluso de um Estabelecimento Prisional que lhe pediu por carta uma definição de Poesia, respondeu: «Para mim, Poesia é estar atento e aberto ao que somos e nos ultrapassa. É uma espécie de fugidio sacramento. A exigente voz das coisas que são verdade – para além da verdade das coisas.» Num outro texto do livro, Maria Eulália de Macedo afirma: «O único remédio é amar. Amar as coisas e amar as pessoas, amar as cores, as mutações da hora, o ciclo das estações, amar o tempo de ser, de lembrar, de conhecer.» Mais de cinquenta anos depois da sua publicação o que fica deste livro passa para além das vinte linhas do «Word» mas na relativa pressa de fechar o postal ainda há tempo para assinalar um título («Quase um poema para um rio») porque todas as crónicas são isso mesmo – quase poemas. 


Enrique Iglesias, Mentiroso

 



segunda-feira, 8 de maio de 2023

Para que a Terra não esqueça

 

“A língua portuguesa precisa de uma descolonização”

Prémio Camões para Paulina Chiziane, que aprendeu a escrever

"na areia do chão".


(Dos jornais)

 

    Muito bem…! Pode começar pelo seu próprio país e criar um sistema de educação decente, arranjar carteiras, livros e cadernos para os alunos, pagar adequadamente aos professores, acabar com a venda de notas nas escolas, produzir livros de ensino sem erros.

Carlos Pamplona

 

    Lá estão eles sempre muito preocupados com o que devia ou não ser feito nos países dos outros quando vêm de pátrias falhadas onde muito mas muito mais haveria a fazer e criticar ... Porque não aproveitam a independência para tentar construir algo parecido com um país ao invés de andarem sempre a criticar os outros? Não gostas não comas - ir criticar os outros nas suas casas após ser convidada é de uma falta de chá...

Nuno Carvalho


Um poema de José Carlos Breia

 





DOS REIS

 

Dos quatro reis que eram três,

porque um deles se perdeu

e seu nome se apagou,

um viria dos caldeus,

da velha terra de Ur,

era dos três o mais velho,

já na casa dos setenta,

chamava-se Belchior,

trazia ouro consigo.

Outro da Arábia Feliz.

O terceiro destes reis,

que se chamava Gaspar

e só tinha vinte anos,

viria de terra farta

banhada pelo Mar Cáspio.

Trazia mirra na bolsa.

 

Deixei Baltazar para o fim,

o que era feliz da Arábia,

que tinha quarenta anos

era mouro e muito alto.

Com ele trazia incenso,

uma língua mui prudente

com que baralhou Antipas

sobre os motivos que tinham.

 

Mas como é que se encontraram

Estes reis e para quê?

 

Diz a lenda que uma estrela

( era um ovni com certeza )

a cada um encontrou

e os levou de caminho

para verem um menino

que uma luz por cima tinha.

 

Dos ouros, incensos, mirras

nunca mais se ouviu falar.

Dos três reis nunca se soube

se voltaram donde vinham

ou se o ovni os levou

como fizera ao profeta.

 

Se viram deus não se sabe.

Mas que viram um menino,

chorando por entre as palhas,

diz a lenda que é verdade.

 

Ao quarto rei que perdido

perdeu o nome também

que terá acontecido?

Que trazia nos alforges?

Quem sabe donde viria?

Talvez do Reino Amarelo

e chá consigo trazia.

 

O aroma da infusão,

o delicado sabor,

talvez o levasse ao sonho,

talvez à meditação.

 

Assim, ao perder a estrela,

ficou ausente da história.

Mas pode tê-la sonhado

 

Agora, ao beber meu chá,

penso muito nesse rei

que nunca tendo chegado

nunca ao menino deu nada.

 

Dos ouros, incensos, mirras

nunca mais se ouviu falar.

Mas o chá que o rei foi dando

pelo caminho que achou,

rescende na minha taça

e faz-me sonhar também

o sonho que, acaso teve,

o rei que nunca chegou.

 

Do livro “OUTRO LADO”


Nicolau Saião, Sobre um poema de José Régio

 



“Toada de Portalegre” - dois rascunhos prévios

 

A poesia, já se sabe, é a seu modo um processo de acumulação e juntura. Qual o seu secreto encadeamento, qual o percurso que toma a sua ordenação, de que forma o poeta talha e restaura, observa e finalmente conclui? Perguntava Camus, a certo passo dum texto seu: “Quem testemunhará por nós?” e respondia de imediato: “As nossas obras”. Apontava, é claro, para o testemunho da obra acabada no seu ciclo de coisa espiritual, de matéria interior que transporta para os vindouros, com toda a sua carga própria, as perguntas e as respostas que nos é dado formular.

Mas, em simultâneo, é fascinante e importante a mais dum título que tanto quanto o possamos fazer nos debrucemos sobre o suporte em si, seja no caso da poesia ou da pintura, da música ou da filosofia, serve dizer: nos ramos das actividades superiores que, por o serem, não estão dependentes de eventuais manobras ilegítimas de tiranos ou de equívocos mandantes, ainda que a matéria em que se revelem esteja por vezes submetida a ditames exteriores à vontade de quem as utiliza. Porque, nas suas vias interiores, os poetas não têm dono, não são assimiláveis pelos que, frequentemente, tentam à custa deles estabelecer currículos, efectuar brilharetes duvidosos, bolsar jaculatórias de nulo poder encantatório. Não falando, é claro, no caso extremo de quem subtrai à visão e fruição de outrem as produções com que os autores buscam interpelar o seu tempo e o tempo a vir.

Já vários ensaístas e poetas têm analisado proficientemente a questão dos vestígios. Deixa-se adivinhar a seguinte pergunta: o rigor interior duma obra pode ser divisado, digamos, no rigor do suporte? É inevitável lembrarmo-nos de Balzac e das sucessivas emendas a que submetia os seus escritos, cujos gatafunhos desesperavam os tipógrafos, ou das partituras de Schubert frequentemente lançadas num qualquer papelucho que lhe caía nas mãos, ou até sobre o tampo de mesas até que um fortuito papel salvador lhe chegasse…

Como se estrutura pois a matéria criada, de que maneira peculiar voga e navega o processo criador - tal pode entrever-se pela observação desses vestígios que os diversos autores nos legam ou simplesmente vão deixando na sua viagem pelo tempo que lhes coube viver. No caso que a seguir abordaremos isso naturalmente acontece.

Cedidas em fotocópia pelo Dr. Manuel Inácio Pestana - a quem fora oferecida reprodução das mesmas pelo coleccionador António Capucho - temos na nossa frente as duas versões prévias (deverá chamar-se-lhes rascunhos?) do conhecido texto regiano que fez e muito bem momentos inesquecíveis de muitos leitores tanto lusitanos como brasileiros. Dediquemos-lhes atenção, visando deixar algumas pistas consistentes.

A primeira versão, exarada na bela e clara letra de Régio, tem emendas em todas as páginas, sendo de assinalar que a “emenda” da décima é um acrescento no verso da mesma; acrescento significativo, uma vez que é a famosa reflexão que começa: “O amor, a amizade e quantos/ Mais sonhos de ouro eu sonhara,(…)” aliás também emendada na oitava linha. As páginas 2, 5, 7 e 10 são ilustradas por desenhos como que ao correr da pena.

Contudo, apesar de o serem, diria que nos mostram a preocupação plástica do poeta duma forma incisiva: o desenho da página 10, por exemplo, patenteia-nos um rosto arrepanhado, dorido, inclinado sobre a esquerda (tradicionalmente o lado do coração), um rosto que o poeta frequentemente plasmou em desenhos diversos. Na segunda versão, apenas uma palavra foi substituída na primeira linha da oitava página - retomando aliás a palavra escrita na primeira versão: desgraçados em vez de enforcados, que para Régio decerto marcava em demasia a sequência da estrutura do poema. De assinalar, ainda, que nenhuma destas versões manuscritas contém a palavra atónito, que se lê na versão publicada em livro (“Deixado só, nulo, atónito…); nelas, a que consta é a palavra vácuo.

“Esta é a minha mão das palavras”, diz num seu poema Carlos Edmundo de Ory (em excelente tradução de Herberto Hélder). A mão interior dos poetas procura na escuridão e no silencio “le mot juste” para tentar redefinir o mundo, para adequar o seu percurso próprio a uma rota de liberdade, de felicidade e de sabedoria.

É essa a única aposta que vale a pena como referia Mathew Mead, a única tarefa que ao poeta eventualmente caberá e que num universo de inquietações várias faz de facto sentido. O resto, coisas um tanto espúrias que a vida civil pela mão de alguns tenta colar ao perfil dos criadores, é apenas acrescento frequentemente inútil ou dispensável.

Régio, como grande escritor que era, sabia-o na perfeição.


Dire Straits, Sultans of swing

 



Aos confrades, amigos, adeptos e simpatizantes

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