Asger Jorn
Toda
a crónica é, em princípio, uma história de poucas palavras. Ou de vinte linhas
no «Word» que toda a gente tem - até os sem-abrigo. Maria Eulália de Macedo
(1921-2011) escreveu «Histórias de poucas palavras» (Ática) livro editado em
1971 com apresentação de Jacinto do Prado Coelho. Foi Maria Ondina Braga
(1922-2003) que me revelou este livro repetindo uma frase da apresentação:
«Maria Eulália de Macedo é uma escritora genuína». Essa qualidade aparece logo
na página 13 quando a autora refere Amarante: «Tenho pela minha terra um amor
duro e enxuto de lirismo. É deste chão que eu sou e dele gosto. Uma terra de
poucos turistas, sem notícias no jornal, sem ranchos de folclore, sem arte
regional. Não há Casa do Povo e muitas vezes o povo não tem casa.» Em 1971 as
pessoas comunicavam mesmo sem Internet, telemóveis ou computadores. A um
recluso de um Estabelecimento Prisional que lhe pediu por carta uma definição
de Poesia, respondeu: «Para mim, Poesia é estar atento e aberto ao que somos e
nos ultrapassa. É uma espécie de fugidio sacramento. A exigente voz das coisas
que são verdade – para além da verdade das coisas.» Num outro texto do livro,
Maria Eulália de Macedo afirma: «O único remédio é amar. Amar as coisas e amar
as pessoas, amar as cores, as mutações da hora, o ciclo das estações, amar o
tempo de ser, de lembrar, de conhecer.» Mais de cinquenta anos depois da sua
publicação o que fica deste livro passa para além das vinte linhas do «Word»
mas na relativa pressa de fechar o postal ainda há tempo para assinalar um
título («Quase um poema para um rio») porque todas as crónicas são isso mesmo –
quase poemas.
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