segunda-feira, 22 de maio de 2023

José do Carmo Francisco, Postal nº 24 para Ana Isabel

 


Asger Jorn


Toda a crónica é, em princípio, uma história de poucas palavras. Ou de vinte linhas no «Word» que toda a gente tem - até os sem-abrigo. Maria Eulália de Macedo (1921-2011) escreveu «Histórias de poucas palavras» (Ática) livro editado em 1971 com apresentação de Jacinto do Prado Coelho. Foi Maria Ondina Braga (1922-2003) que me revelou este livro repetindo uma frase da apresentação: «Maria Eulália de Macedo é uma escritora genuína». Essa qualidade aparece logo na página 13 quando a autora refere Amarante: «Tenho pela minha terra um amor duro e enxuto de lirismo. É deste chão que eu sou e dele gosto. Uma terra de poucos turistas, sem notícias no jornal, sem ranchos de folclore, sem arte regional. Não há Casa do Povo e muitas vezes o povo não tem casa.» Em 1971 as pessoas comunicavam mesmo sem Internet, telemóveis ou computadores. A um recluso de um Estabelecimento Prisional que lhe pediu por carta uma definição de Poesia, respondeu: «Para mim, Poesia é estar atento e aberto ao que somos e nos ultrapassa. É uma espécie de fugidio sacramento. A exigente voz das coisas que são verdade – para além da verdade das coisas.» Num outro texto do livro, Maria Eulália de Macedo afirma: «O único remédio é amar. Amar as coisas e amar as pessoas, amar as cores, as mutações da hora, o ciclo das estações, amar o tempo de ser, de lembrar, de conhecer.» Mais de cinquenta anos depois da sua publicação o que fica deste livro passa para além das vinte linhas do «Word» mas na relativa pressa de fechar o postal ainda há tempo para assinalar um título («Quase um poema para um rio») porque todas as crónicas são isso mesmo – quase poemas. 


Sem comentários:

Enviar um comentário

Aos confrades, amigos, adeptos e simpatizantes

     Devido a um problema informático de última hora, não nos será possível fazer a postagem desta semana.    Esperando resolvê-lo em breve,...