terça-feira, 18 de outubro de 2022

Três poemas de Eduardo Bento

 


ns, O segredo



Ainda habitam avencas nas paredes.

Uma roseira esquecida

resiste em florações de medo.

É o triunfo da erva sobre a flor,

a derrota de um velho sonho

onde o olhar deixou de penetrar a paisagem

e onde

a voz amarga do abandono

nos diz da possível alegria

de outras estações

ou gestos, palavras,

a mão sobre outra mão

desnudando um nome.

 

*

 

Da casa não partimos nunca. Apenas a

rodeamos, andamos em volta.

Não trilhamos outro caminho que não seja o do

regresso.

 

A memória prende-se a este chão. Ali

permanecemos ao nascer do sol

ou quando a lua acende no nosso coração

passos de outrora, apagadas

recordações. Vozes.

 

Todos os mortos se esqueceram de dizer adeus.

 

*

 

Repara nos sulcos de tristeza deixados pelos

dias. As escarpas falam da passagem dos

ventos e do som lamentoso das ondas. Tudo

nos diz da nossa breve estrada.

O pó modela o definitivo abandono da

casa em ruínas. Olha a porta por onde

debandaram todos os sonhos.

Assim aprenderás que as formas, as cores,

a agridoce polpa dos frutos não suportam a

demora.

Mesmo que os teus passos ressoem cada vez

mais longe, voltado para o poente  espero o

teu regresso.

 

in “A casa já não abriga vozes”


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