terça-feira, 7 de junho de 2022

José Carlos Costa Marques, Poema setenta e seis

 


Greta Knutson



Fantasma de mim mesmo nestas ruas de outrora

Onde está aquele que hoje por elas caminha?

O que foi só miragem mas o que nela presente

E pressente a dimensão da luz?  O que nunca emigrou?

O que retorna sobre seus passos e rasto nenhum encontra

Da realidade ou irrealidade

Ou mortiça penumbra esquálida a um canto da memória

Rio dividido em duas águas o teu tempo

Duas metades hiantes de uma ferida que não cola

O teu olhar esse é inocente do fosso que atravesso

Fantasma no tempo mas carne da tua carne

Mas na carne do teu presente onde vivo agora

Em ti a vida vive que me levará da carne

Até ao sossego maior

Levado pela tua mão ao mais belo abandono.

 

in “Por outras palavras”


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