terça-feira, 14 de junho de 2022

Joaquim Simões, Três disposições

 


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Disseste

 

Tudo está bem   a estrela

brilhando para se guiar

o sol que adormece na beirinha do mar

a ave leve sobre a rama

 

agora a chuva

iluminando os silêncios do amor

e em cada gota de riso e suor

um arco-íris a brilhar que nos chama

 

lá do lugar

onde o Tempo se pôs a sonhar

com a história em que se há-de achar

este tempo que foi dado aos dois

e é nossa antes e depois

 

 

Poema ecológico

                             para os do costume

 

De ti, não vemos a cara,

só dás rosto ao rosto infecto

de uma praga, de um insecto

que se espalha pelo país

e nos destrói a raiz,

 

que fala e soa a soneto

que não é branco nem preto,

porque é de bicho-careto.

 

Levas esta versalhada,

não serves para mais nada.

 

 

Sem título

 

Ao perguntar-me, há bocado,

se sonharia, julguei

sentir-me todo encostado

a um eu de um qualquer lado,

de que nunca suspeitei.

 

Como se esse eu fosse alguém

a quem estivesse colado

costas com costas. Porém,

não vi nada nem ninguém,

ao virar-me, admirado.

 

Para o que desse e viesse,

esbracejei à minha volta,

em busca do que pudesse

estar escondido e me quisesse,

alma penada ou à solta.

 

Não sei bem o que me deu,

chamei por ele… por mim…

Mas ninguém me respondeu,

apenas um eco meu

que parecia rir, no fim.

 

Confuso, meio receoso,

pior ainda: irritado,

fiz-lhe caretas de gozo

que, eu cá, nunca fui medroso,

nem estou para ser gozado.

 

Mas nada, nada buliu

perto ou longe dali,

nada chegou ou fugiu

nem se fechou nem se abriu...

Fiquei-me, não insisti.

 

Será que sonhei um sonho?

Não será original

e não chega a ser medonho…

Uns copitos de medronho

e a coisa passa. Afinal...


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