Mimi Parent
TRATADOS DA SOMBRA
1. O poeta é exigido por uma angústia
vital:
aquela do desenlace em si de uma nova
transparência a partir de toda a opacidade
de sua vida. Tudo nele busca o desespero
iluminado das formas, sua convulsão
precipitada sobre a beleza das imagens
aterradoras. Refere-se o poeta sempre
ao outro que ainda não conseguiram tocar
suas débeis figuras. Indigente do instante
e do conhecimento do mistério, concebe
para si a tarefa de escrever um livro
impossível: o da personificação da morte.
Dissolve-se na matéria de suas metáforas,
misturado à visão do livro findo
inacabado.
TRATADOS DA SOMBRA
2. Com quem se parece o pobre poeta senão
com Deus? Indaguei o nome do guardião
de seu museu de imagens. "Cuido de
sombras
que deliram do desejo de ser a medida
de todos os homens". Que nome dar a
ele?
(Gorostiza Holan Bopp Schwob Pessoa
Breton)
Vislumbramos as possibilidades de amor
e amizade entre os homens, por mais
estranhas
que sejam as atividades humanas.
Parece-nos
a diversidade uma fotografia do vazio.
Apodrecida no excesso de signos a
linguagem
não é mais a glória do indivíduo. Não mais
que Deus, em sua máscara de sombras, o
velho
diabo feito de livros, ignorado em seu
mundo.
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