terça-feira, 15 de março de 2022

Um texto de Manuel Carvalho

 




  Damos aqui a lume, com vénia ao seu Autor, um texto do director do Público, referente ao notório Boaventura Sousa Santos, que anteriormente fora já igualmente desmascarado pelo Professor António Manuel Baptista no seu livro “Critica da razão ausente”:

 

“A miséria moral da esquerda iliberal”

 

  “A guerra raramente promove consensos e a que está a devastar as cidades da Ucrânia não foge à regra. Não faltam por aí crédulos como Chamberlain, simpatizantes dos ditadores militaristas como Lord Halifax ou até meros vendedores da alma própria e alheia como Pétain. Entre nós, não faltam também os que se servem dessa extraordinária superioridade moral das democracias liberais, a de acolher e estimular pontos de vista divergentes, para caírem no relativismo moral e manipularem o indispensável julgamento sobre quem é vítima e inocente e quem é agressor e culpado.

  O festim do relativismo que tende a dizer que Putin é culpado mas… perturbou o Bloco de Esquerda, agravou a obsolescência doutrinária do PCP e chegou a um patamar digno de monumento com a recomendação de Boaventura Sousa Santos (B.S.S.) para que a Europa faça a sua autocrítica perante o que acontece em Mariupol, em Kharkiv ou em Kiev.

   Não surpreende que o que resta da esquerda maniqueísta continue a olhar o mundo na perspectiva saudosista da Guerra Fria. A rigidez conceptual do seu mundo luta ainda por essa memória do confronto entre dois blocos. Não havendo hoje um lado bom (a URSS e o Pacto de Varsóvia), continua a haver pelo menos um lado mau (a NATO e os Estados Unidos). Se antes era glorioso estar do lado soviético ou, depois da vergonha da invasão da Checoslováquia, ser “melhor vermelho do que morto”, hoje os resquícios desse tempo perduram no ódio aos Estados Unidos e no apoio a tudo e todos que os possam desafiar ou comprometer.

   Em vez de porem as democracias contra as autocracias em confronto, preferem falar nos EUA como o eterno “império do mal”, ignorando que Trump foi amigo e protegido de Vladimir Putin, esquecendo que a Rússia desenvolve há anos planos para apoiar Salvini ou Le Pen. Pouco importa que Putin e Moscovo estejam hoje no lado oposto do comunismo, que estejam até de braço dado com os populismos de pendor fascizante.    Importa sim é explorar todas as formas de alimentar o ódio visceral que os EUA lhes merecem.

  E quando se diz ódio visceral tem-se em apreço o peso das palavras. Porque não é o conhecimento da história política ou das ideias que justifica a forma como essa esquerda fossilizada relativiza a violência da Rússia sobre a Ucrânia. É, pelo contrário, a mentira e a manipulação. Quando Boaventura Sousa Santos diz que a Europa deve envergonhar-se por não ter sabido evitar a guerra, está a usar a narrativa contrafactual para salvar Putin e culpar a Europa pelo seu imperialismo militarista. Da mesma forma, quando culpa os Estados Unidos pelo golpe no Brasil em 2016 que elegeu Bolsonaro, não baseia em coisa alguma esta teoria da conspiração nem diz que o Presidente mais cavernícola da democracia brasileira simpatiza com Trump e Putin e odeia Joe Biden e a democracia americana.

   Esta manipulação cheia de ranço soviético e antiamericanismo primário não se fica pela acusação à Europa, afinal a culpada por não ter salvado o mundo das garras de um ditador, ou mera extensão dos desígnios da dominação mundial da América.

   Mais grave ainda é considerar que os Tratados de Minsk foram violados pela Ucrânia, quando se sabe que as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk trataram de marcar eleições logo em Novembro de 2014, em clara violação dos tratados, com o apoio da Rússia e o protesto dos negociadores da OSCE. Uma mentira tão inaceitável como a de dizer, como também o PCP defende, que em 2014 houve um “golpe” contra um    Presidente eleito democraticamente.

   Um intelectual de esquerda com os pergaminhos e o prestígio de B.S.S. certamente interpretaria a intensa e corajosa luta popular na Praça Maidan, que durou mais de 100 dias e causou mais de 100 mortos, como uma façanha digna da Primavera dos Povos ou da Comuna de Paris se na origem da rebelião não estivesse o cumprimento de acordos com a União Europeia. A traição à vontade popular, ou expressões ainda mais eloquentes consagradas na terminologia revolucionária, seria sem dúvida um bom argumento para explicar e justificar a queda de Viktor Ianukovich.

   Mas isso só aconteceria se Ianukovich não tivesse esmagado o desejo dos ucranianos em aproximar-se da democracia europeia e, pelo contrário, tivesse cedido às exigências da Rússia. O Euromaidan seria um acontecimento com enorme potencial para ilustrar o património das glórias populares dessa esquerda, só que, infelizmente para os seus arautos, fez-se em nome das democracias burguesas da Europa.

   Na mesma linha delirante está a tese de que há linhas de fundo da política externa de Washington que “provocaram a Rússia” para se “expandir”, de modo a que quando se expandisse pudesse ser “criticada por fazê-lo”. Lê-se e custa a acreditar que um relatório da Rand Corporation citado por B.S.S. seja suficiente para corroborar tão delirante visão.    

   Quer isso dizer que os EUA e a UE estimularam o ataque à Ucrânia apenas para poderem hoje dizer que a Rússia é um perigo para a segurança mundial e a atacarem com sanções?

   Acreditar nisto não difere muito da crença de que os comunistas comiam criancinhas.    Afinal, Putin ataca a Ucrânia não por recusar o seu direito a ser uma entidade histórica, ou por a querer desmilitarizar ou “desnazificar”. Não: responde apenas a uma provocação.

   Numa democracia (e num jornal europeu, democrático e pluralista como o PÚBLICO) cabem todos estes devaneios, mesmo que ancorados em visões distorcidas ou manipuladas da História - ao contrário do que acontece na ditadura de Putin que B.S.S. tão ardilosamente protege, a divergência é um tempero indispensável das sociedades livres.

   Mas há nesta forma de explorar o relativismo uma hipocrisia que começa a ser intolerável. Que B.S.S., ou o PCP, ou quem quer que seja, defendam Putin, a Rússia e a agressão à Ucrânia de forma aberta, corajosa e frontal, estão no seu direito. Mas que digam então de forma livre e consciente que a Rússia e a autocracia de Putin (ou a China) lhes fazem falta, para que a democracia liberal do Ocidente, que atrai os jovens ucranianos ou bielorrussos, tenha opositor à altura.

   Não podem nem devem tergiversar com meias verdades ou mentiras inteiras apenas para expor a sua crença num mundo bipolar onde os maus estão na Europa e na América. Se o ataque à Ucrânia serviu para alguma coisa, foi para expor a inconsistência dos seus mitos.

   Conservemos, pois, as relíquias doutrinárias do mundo bipolar e guardemo-las longe da guerra na Ucrânia. Como memória, dão sentido ao nosso tempo e exacerbam o valor da democracia dita burguesa; como exercício para interpretar o presente da Rússia, da Ucrânia e do Ocidente, só garantem as ideias moles do relativismo e uma evidente falta de pudor perante o sofrimento do povo ucraniano.


Pink Floyd Reunion, Time


 

terça-feira, 8 de março de 2022

ANTE-PROPÓSITO

 


ns



 SIM, SÃO OS MESMOS 

   Sim, são os mesmos. São os sicofantas que - sem pudor nem senso crítico, fazendo jus à sua hipocrisia afinal desvelada pelos acontecimentos - escreviam que "Putin já ganhou" e que "A culpa é do Ocidente", para justificarem o seu cinismo.

   São os mesmos que propõem que se censurem os livros de Eça de Queirós por ser "racista", que se marginalize J.K. Rowling por ser "anti-feminista", que se afaste Cézanne por ser "pornográfico", ou Balthus pelo mesmo motivo.

   São os mesmos que, ora nas ruas onde a democracia no entanto protege o seu linguajar, ou confortavelmente em casa agregam semelhantes motivos, bolsam a frase conhecida "Antes vermelhos que mortos", enquanto desregradamente propõem que se mate o homem branco como se fôssemos todos marcados por um pecado secular injusto.

   São os mesmos que falam em poesia e em liberdade enquanto vão negando pelos seus actos a liberdade e a poesia.

   São os que agora, com o pretexto da equidistância, peroram que a guerra acabe, enquanto vão festejando impressa ou expressamente os actos de guerra brutal numa terra alheia.

   São os mesmos que andam entre nós com palavras gentis para com os "trabalhadores", para com o "povo", enquanto esperam os tempos para melhor cravarem navalhas simbólicas, mais reais noutros manejos, nas nossas costas.

   São os que, tal como aqueles que no teatro de guerra estropiam e matam quem os tenta deter, têm as mãos manchadas de sangue inocente.

   São os que afinal, afivelando mansuetude, apoiam os ditadores onde quer que eles se encontrem, sejam eles Maduros ou Khomeinis, Noriegas ou Al-Assads. Ou Putins.

   São os mesmos, embora de fácies diferentes. Com máscara ou insolitamente a descoberto.

ns


Para um minuto de meditação - 153

 


Fernando Aguiar



LEMBRAM-SE?

 

    Durante o chamado Estado Novo, havia um "saco azul", uma verba destinada a pagar a "jornalistas" venais e "fazedores de opinião" fora de portas para dizerem bem do regime. Tal como havia uma outra, caseira, para contemplar as boas obras dos tristemente célebres "bufos", honoráveis cavalheiros e cavalheiras da mais diversa extracção que tinham como missão espiolhar o que o cidadão fazia e dizia. Tudo a bem da nação...

 

    A prática sempre foi, aliás, proverbial. Instituída pela primeira vez, com foros de operacionalidade oficial, durante os tempos de Bismarck, que foi o criador do chamado "Fundo dos répteis", foi depois adoptada pela generalidade dos Estados e dos regimes, o que se tornou muito marcado durante o tempo hitleriano. A leste, sob as ordens de Trotsky e Stalin, o caso não foi tão marcado em relação aos "bufos", porquanto foram estabelecidas as chamadas "milícias populares", que tinham secções de informação específicas, o que dispensava a delação particular, chamemos-lhe assim. Só mantiveram o sector que exercia, no estrangeiro, as denominadas "plantações", através das quais compravam a boa-vontade de discretos ou não tão discretos "propagandistas" publicistas, espiões e formações partidárias, robustamente abastecidas de dinheiro fresco para levarem a cabo ora a infiltração, ora a acção política apropriada para eficazmente servirem os intuitos de quem lhes pagava.

 

    Actualmente, tais  manejos ganharam novo e diversificado impulso, quer seja mediante actos "legais", como o renomado sistema de "vistos Gold", em que as cliques de argentários ligados e sustentados pelo regime autoritário a que pertencem, se instala e vai roendo por dentro a sociedade-alvo, aproveitando a labilidade de governos ou de instituições. Ou ilegais, como o "discreto" financiamento de espaços específicos - na Internet, por exemplo - em que o que é esperado dos seus mantenedores é que estejam sempre sintonizados com a nação financiadora.

 

    No caso vertente, o mais marcado país que assim procede é a China, baseando-se em que é um regime bem sucedido, próspero e pacífico, um comunismo de sucesso que será exemplo para toda a humanidade. E os seus estipendiados buscam fazer esquecer a realidade de que o país ao qual estão ao serviço possui partido único, veios sociais controlados ferreamente, imprensa absolutamente censurada, ausência de liberdade de expressão e regime prisional e jurídico governamentalizados.

 

   Nos últimos tempos, uma vez que vieram a lume comprometimentos por ambição ou laxismo de altas individualidades ocidentais, seja nos campos económico-financeiro, desportivo ou mesmo político e até governamental, foram accionadas mais eficazmente as agências próprias que têm a missão de proteger a sociedade democrática desses manejos.

 

    Também em Portugal, embora de forma incipiente, se vai começando a agir (é um imperativo evidente!) no sentido de que os inimigos da liberdade e do bem-comum não possam continuar nas suas jogadas traiçoeiras e criminosas de verdadeiros lobos com pele de cordeiro como diz o apólogo bem conhecido. 


Um poema de Maria Azenha e um outro, de Boris Pasternak

 




Numa folha da Primavera

 

O que é a Paz?

Onde está a sua sede?

Onde está o seu mercado?

Já tem escritório?

Já entrou na bolsa?

A Paz, ontem, valia milhares de mortos…

 

Alguém saberá onde estão os seus ovos?

No cemitério?

No céu?

Ninguém sabe, pois não?!

 

A Paz, atarefada com a guerra, abre a sua própria cova.

Lá esconde os seus ossos. Os seus bosques de neve.

 

Ouvi, então!

Agora mesmo rebentou uma folha da primavera cheia de versos.

 

Só uma criança a viu.

Chama-se Kiev.

 

Porque esperam?

Nada acontece duas vezes do mesmo modo!





POEMA

 

Ser famoso não é o que conta,

Não é o que te levanta.

Não tens necessidade de arquivar

Agitando-te sobre manuscritos.

 

O objetivo da criatividade é a doação,

Não um triunfo, nem um sucesso.

É dispensável, nada significa

Se não for uma parábola na boca de todos.

 

Mas devemos viver sem impostura.

Vive então para que no final

Atraias o amor pelo espaço

Ouvindo o apelo do futuro.

 

E mesmo deixando lacunas

No destino, não entre os teus papéis,

Lugares e capítulos de uma vida inteira

Bem sublinhada nas margens.

 

(Tradução de ns)


Nicolau Saião, Goebbels agradeceria

 


ns


   Goebbels, como sabem, era o chefe máximo da "Informação" na Alemanha nazi. Mandava não só nos Jornais e Rádio mas também no sector do Cinema, do Teatro e do comércio livreiro - todos sujeitos a um férreo controle que no mínimo levava ao encerramento das suas actividades e, no mais usual, à prisão e aos campos de concentração.  O órgão que teve a sua preferência durante toda a guerra e também nos anos que a antecederam era o "Volkischer Beobachter", primeiramente dirigido pelo antissemita Dietrich Eckart e, depois, por Alfred Rosenberg, o ideólogo racista considerado um dos grandes bandidos da História contemporânea.

 

   Era nesse periódico que Goebbels, quase diariamente, exercia o seu estro como propagandista-mor do regime nacional-socialista (nazi), sendo como era a alma-danada de Hitler e um especialista em fazer do branco preto e do preto branco, num exercício de retórica execrável que, mais tarde, o outro estado totalitário, sob as ordens de Stalin, levaria às últimas consequências.

 

   Evidentemente que o "Volkischer Beobachter", na Inglaterra e nos países aliados que enfrentavam a besta nazi, estava interdito. Porque era um órgão de propaganda espúria e ao serviço dos intuitos da Gestapo e dos serviços secretos das SS.

 

   Recentemente, como parte das sanções aplicadas ao regime sicário de Wladimir Putin, algumas agências e emissoras sob o controle deste chefe totalitário foram impedidas de emitir no Ocidente, sendo como eram órgãos de propaganda orientada, ou seja: da agit-prop mais descarada justificando a invasão e despedindo nefandos ataques à Democracia, num esforço belicista indesmentível.

 

   Pois logo algumas "testemunhas falsas", ou dos chamados "betinhos", num articulado que mostra bem o seu apoio subreptício àquela ditadura, vieram a público clamando que elas deviam continuar a emitir por cá, caso contrário havia censura...!

 

   Ou seja, devia consentir-se que continuassem a exercer livremente o seu papel de apoiantes do indivíduo que ainda anteontem lançou uma lei que postula que sejam cominados com 15 anos de prisão os que do seu povo se atrevam a questionar a guerra, quem a faz e quem a sustenta!

 

    Goebbels não faria melhor. Goebbels ficaria muito feliz se Winston Churchill consentisse que o "Volkischer Beobachter" aparecesse nos quiosques britânicos tranquilamente!

 

     O cinismo, concluímos, em certas gentes é singular. E serve-se de tudo, até das ideias mais obnóxias e hipócritas, para tentar levar a água ao seu moinho... 


Agnus Dei - A Beautiful Prayer For Our Brave Ukrainian Brothers and Sisters

 



terça-feira, 1 de março de 2022

Uma carta

 

...caros confrades & amigos/as.

 

 Neste dia aqui cheio de sol, do sol que ainda podemos gozar, proponho-vos uma ligeira reflexão no momento em que o mundo vive uma das piores crises dos últimos anos.

 

  Quero falar-vos no aspecto moral inegociável que o actual momento comporta e que pode ser evocado, por exemplo, pelo debate havido anteontem na CNN Portugal em que estiveram presentes Sérgio Souza Pinto, António Filipe e Sebastião Bugalho.

 

   Souza Pinto, mediante um discurso sereno e bem articulado, frontal e honesto, colocou sobre a mesa os dados da questão: dum lado a posição das sociedades abertas, onde se procura emendar e melhorar a existência civil das populações, nomeadamente através da necessária liberdade de expressão pela qual as críticas, mesmo acerbas, se exercem, em vista do bem comum. Do outro, regimes onde a verdade possível é a verdade das cliques que nelas exercem o seu poder absoluto, onde a liberdade de expressão está condicionada, onde os direitos humanos são o que os mandantes deliberam - ou seja, a sua negação - o que através dos tempos a História documenta pelo saldo de milhões de mortos que exerceu essa pretensa criação do "homem novo".

 

  E acrescentou então uma pergunta: qual pois a autoridade moral do PCP, que Filipe ali representava, para através de capciosas explicações, de argumentações que não são mais que a expressão da sua ideologia totalitária, justificar a presente acção do autocrata Putin?

 

   Perante estas palavras percucientes, baseadas em realidades inegáveis, qual a reacção de António Filipe? António Filipe, que alguns têm tentado apresentar como uma das caras "suaves" do PCP e cuja expressão corporal é de facto melíflua, insinuante, mansa (aquilo a que o povo, na sua saborosa linguagem vernácula, caracteriza como um "mija mansinho") reagiu como reagem  os que não suportam que os coloquem perante razões frontais indesmentíveis: chamou-lhe mentiroso e ameaçou abandonar o debate, chegando mesmo a recolher caneta e papéis e demais aprestos.

 

   Nos países onde dominaram, e ainda dominam, o que caberia a Souza Pinto seria, como depreendem, bem pior.

 

   E eis o meu ponto, quando me referi ao aspecto moral inegociável: o sector que o PCP e seus asseclas representa entre nós, tem durante anos e anos, mediante o poder que conseguira ter na sociedade (e que agora democraticamente lhe está a fugir) manipulado a realidade dos factos e o verdadeiro sentido da sua acção, que incessantemente busca justificar com a  militância feita contra o salazarismo. Ora, a prova dos tempos mostra - e isso ficou bem demonstrado no chamado PREC - que se assim sucedia o que eles visavam era instaurar em sequência uma ditadura ainda mais pesada, a exemplo das que exerceram nos países de Leste e em todos os outros onde estacionaram.

 

  E não podemos ignorar que, sim, muitos homens e mulheres, sob a égide comunista (ou assim chamada) se bateram nobremente contra o antigo regime que vigorou em Portugal até ao golpe do 25 de Abril. Tal como, na Revolução de Outubro, aconteceu. Mas veja-se como foram atraiçoados pelos que deles se serviram, o que culminou, dezenas de anos mais tarde, com o colapso dum regime e duma concepção de vida que afinal se provou ser só simulacro.

 

  E é isso, finalmente, que hoje está em jogo na Ucrânia. Jogam-se ali duas concepções políticas vitais: a Democracia, com todos os defeitos que tenha - mas que a liberdade permite contestar e emendar - e a Ditadura justificada com argumentos capciosos e pretensamente de equidistância, mas que afinal deixam entrever a face nauseabunda da violência, da repressão e finalmente da guerra. Que agora Putin, na sua paranoia, já ameaça poder ser nuclear!

 

   A Ucrânia, melhor ou pior. bate-se hoje por todos nós.

 

  O abraço de boa saúde e estima, do vosso

 

   ns


  Subscrevem:


Jorge Gaillard Nogueira

Álvaro de Navarro

Manuel Carreira Viana

Jules Morot

Joaquim Simões


ANTE-PROPÓSITO

 


ns



Silêncios ensurdecedores


   No jornal Público, Augusto M. Seabra escreve um artigo de opinião absolutamente significativo. Passamos, com vénia ao seu Autor, a citar as palavras com que o artigo é apresentado:


A Ucrânia e os abaixo-assinantes

Se o “ruído” mediático da guerra é ensurdecedor, há também que assinalar que em Portugal se nota um silêncio que à sua maneira não deixa de ser “ensurdecedor”, o silêncio, a ausência, das manifestações de solidariedade: onde estão os apelos, os abaixo-assinados, as concentrações do costume?

  Efectivamente, onde estão por exemplo aqueles que, em junções literárias que se têm ultimamente multiplicado – e onde expandem poesia e escritos que pretendem humanistas – e onde expeditamente deixam sempre escapar posturas retintamente pró-blocos do antigo Leste e pró-China?

  Onde estão essas senhoras e esses senhores que povoam essas sessões?

  Claro que o que eles visam é algo de diferente da celebração da poesia e do humanismo – que para eles é apenas um pretexto, visivelmente gramsciano, de exercerem disfarçadamente ou com mais deliberado manejo arteiro, a agit-prop com que buscam tomar-nos por mentecaptos.

  À guisa do que nos anos de chumbo dos tempos da Guerra Fria utilizavam os bem conhecidos colectivos pretensamente artísticos que mais não faziam do que, de forma dissimulada ou francamente nua, expandir a propaganda das agendas totalitárias.


PÓRTICO

 

“ESTAMOS AQUI 

      

     Por ser de uma límpida lucidez transcrevemos, com a devida vénia ao seu autor, este texto de Luís Menezes Leitão. - ns


   Se há algo que distingue os verdadeiros líderes é sua resistência nas situações difíceis.  A atitude mais fácil de um governante perante um ataque ao seu país é fugir, quando a sua vida é ameaçada. Mas os verdadeiros governantes são aqueles que resistem e não se importam de colocar a sua vida em risco em defesa da instituição que representam.

   A história oferece muitos exemplos dessa atitude, começando pelo Imperador bizantino Justiniano, que viu a sua vida ameaçada por uma revolta, tendo equacionado fugir. Foi dissuadido de o fazer pela sua mulher, a Imperatriz Teodora, que lhe disse: "A púrpura (o manto dos imperadores) é uma linda mortalha". O Imperador ficou e a revolta foi dominada.

   No séc. XX há vários exemplos da mesma atitude. Aquando do bombardeamento da Inglaterra pela Alemanha nazi foi equacionado transferir a família real para o Canadá, mas a Rainha respondeu simplesmente: "As minhas filhas não vão sem mim. Eu não vou sem o Rei. E o Rei não abandona o seu país".

   Aquando do cerco nazi a Moscovo, a denominada Operação Tufão, houve algo semelhante. Estaline mandou evacuar o Governo e até transferiu o corpo de Lenine para fora da cidade. Mas ele próprio manteve-se lá. E foi essa atitude que mobilizou o exército em defesa de Moscovo. As duas palavras "Estaline ficou" ecoaram e mobilizaram todos os soldados russos na defesa da sua capital obrigando o exército alemão a recuar.

   Hoje é Zelensky que, perante uma agressão russa à Ucrânia, recusa ofertas de fuga e mantém-se ao lado do seu povo na defesa do seu país dizendo-lhe simplesmente: "Estamos aqui". Não se sabe qual será o seu destino, mas não há dúvida que passou a ser o símbolo da Ucrânia resistente.


Para um minuto de meditação - 152

 




A UCRÂNIA DEVE SER LIVRE


Estamos todos em dívida para com o povo ucraniano.

Neste momento é o povo ucraniano que está a dar o corpo às balas, na primeira linha da defesa da Europa, contra a oligarquia russa, com o Putin à cabeça.

Joaquim Rodrigues


(Dos jornais)


Um poema de Jules Morot

 


A Terra Prometida



PARA GAZA  

     

Gaza a bela, Gaza a pobre

deitada nas mãos obscuras do Hamas

como crianças israelenses nas colinas de Haifa

sem braços sem pernas

mutiladas por um foguete ou um morteiro

de homens que simulam amar Allah

 

enquanto outros na Europa fingem amar a Cristo

de modo que novamente erigem paredes entre a liberdade

e o sabor de um figo na Samaria ou Palestina.

 

Eu lamento os teus mortos que o fanatismo desejava

oculto como a mentira entre crianças e mulheres

que comeram o pão e trabalharam nas hortas

e brincavam jogavam fora das madrassas

onde se rotulam as palavras de ódio

para que eles então percam as suas almas

sob as bombas dos aviões

para o benefício de Alah, os governantes

 

Gaza tu serás livre um dia

livre como o ar da floresta

e do deserto

sem que mãos obscuras a ti se aferrem.

Em tua homenagem eu como este figo humilde

um pobre figo de supermercado

e tomo uma taça de bom vinho

como se honrasse um futuro casamento

 

de um árabe e de uma bela judia.

 

(Tradução de ns)


Para que a Terra não esqueça - Um texto de Nicolau Saião

 


Javier Pagola



   1. AGORA TUDO FICOU MAIS CLARO

 

Quando, no meu primeiro escrito de alguns dias atrás, referi que a situação de conflito militar que se está a viver podia levar a uma conflagração geral, um bom amigo fora do inner circle escreveu-me aduzindo que tal coisa não se poderia dar - por  não se prever que a Rússia se atrevesse a despoletar tal facto, temeroso.

 

  Pois bem: as notícias da Última Hora, veiculadas pelas diversas fontes de informação televisivas e radiofónicas acabam de mostrar-nos que tal é uma possibilidade real. Ou seja: a Rússia acaba de declarar que está na disposição de atacar militarmente a Finlândia e a Suécia se estas resolverem aderir à Nato! Serve isto dizer que estas duas Nações, membros da União Europeia, podem estar na mesma situação em que se encontra a Ucrânia.

 

  Putin, sem olhar a meios para tentar estabelecer de novo o velho Império Russo, está disposto a precipitar uma conflagração geral! O ditador russo vive agora, tirando definitivamente a máscara com que a propaganda o tem coberto, uma deriva demencial.

 

  O perigo é pois bem real, uma vez que nessa circunstância as democracias ocidentais teriam que responder militarmente à situação que lhe era posta!

 

   Devo aduzir que estas manobras da hierarquia russa, politica e militar, não me surpreendem - foi assim que Hitler procedeu nos tempos que antecederam a Segunda Guerra, fazendo sucessivas exigências que descambaram naquilo que a História cifrou.

 

    As ditaduras, agressoras, são todas do mesmo cariz. E não nos devemos esquecer que a URSS estalinista e a Alemanha nacional socialista, pelas mãos e assinaturas de Ribbentrop e Molotov, estabeleceram o pacto germano-soviético de triste memória e consequências!

 

   Para chegarem aos seus fins espúrios, não hesitam na loucura da guerra.


   2. TAL COMO

1   

  Tal como, em Portugal, no seu tempo homens dignos como Aquilino e Ferreira de Castro fizeram...e outros mais recentes, que nunca esqueceram que não se pode ser, como dizia Robert Desnos, "um intelectual (cientista, romancista ou poeta) e simultaneamente um canalha ou um cínico, esquecendo os seus deveres de ética para com os semelhantes", em diversos pontos do Mundo se erguem vozes significativas, de homens e mulheres com realce público, chamando a atenção para algo que certos operadores - nomeadamente agindo nas chamadas redes sociais - tentam cavilosamente instilar na opinião corrente ao esquecerem que existe um aspecto moral inegociável. 

 

  Tal como nos tempos de Hitler e posteriormente nos tempos do outro ditador, Estaline, o seu relativismo moral concretiza-se no que eles tentam, mediante argumentos cínicos que camuflam sob a capa de equidistância, justificar: as posições dos cleptocratas e autocratas seja da Rússia seja da China, numa evidente dependência das suas ideologias que já demonstraram o seu caracter opressor por onde quer que tenham passado.

 

   Esses "mornos" - para utilizar uma expressão bem reconhecível - como diz a expressão bíblica, procedem assim tal como nos anos trinta do século passado a História mostrou, porque no seu fundo apoiam as ditaduras e os que as sustentam. Embora, cobardemente, busquem tapar-se com o tristemente célebre "Sim, mas...".

 

  Doutra maneira, corajosa e firme, agiram ontem 600 cientistas russos incluindo um prémio Nobel, que corajosamente endereçaram uma carta ao governo para que cessasse as acções militares na martirizada Ucrânia.

 

   Tal como anteontem, 570 mil (não é engano de números!) cidadãos russos assinaram uma petição para que o ditador Putin parasse com a agressão e mandasse regressar as tropas invasoras.

 

    O repúdio internacional tem sido quase unânime. Só têm divergido os governos totalitários ainda existentes: Coreia do Norte, Cuba, Venezuela, Síria, Irão, Bielorrússia e alguns menores comprados com o dinheiro Russo/Chinês.

 

    E, naturalmente, aqueles grupos ou grupelhos que, nesta parte do mundo, fazem coro com as acções nefandas daqueles.


No pasáran! - Música da Guerra Civil Espanhola

 



Aos confrades, amigos, adeptos e simpatizantes

     Devido a um problema informático de última hora, não nos será possível fazer a postagem desta semana.    Esperando resolvê-lo em breve,...