...caros confrades & amigos/as.
Neste dia aqui cheio de sol, do sol que ainda podemos gozar,
proponho-vos uma ligeira reflexão no momento em que o mundo vive uma das piores
crises dos últimos anos.
Quero falar-vos no aspecto moral inegociável que o
actual momento comporta e que pode ser evocado, por exemplo, pelo debate havido
anteontem na CNN Portugal em que estiveram presentes Sérgio Souza Pinto,
António Filipe e Sebastião Bugalho.
Souza Pinto, mediante um discurso sereno e bem articulado,
frontal e honesto, colocou sobre a mesa os dados da questão: dum lado a posição
das sociedades abertas, onde se procura emendar e melhorar a existência civil
das populações, nomeadamente através da necessária liberdade de expressão pela
qual as críticas, mesmo acerbas, se exercem, em vista do bem comum. Do outro,
regimes onde a verdade possível é a verdade das cliques que nelas exercem o seu
poder absoluto, onde a liberdade de expressão está condicionada, onde os
direitos humanos são o que os mandantes deliberam - ou seja, a sua negação - o
que através dos tempos a História documenta pelo saldo de milhões de mortos que
exerceu essa pretensa criação do "homem novo".
E acrescentou então uma pergunta: qual pois a autoridade moral do
PCP, que Filipe ali representava, para através de capciosas explicações, de
argumentações que não são mais que a expressão da sua ideologia totalitária,
justificar a presente acção do autocrata Putin?
Perante estas palavras percucientes, baseadas em realidades
inegáveis, qual a reacção de António Filipe? António Filipe, que alguns têm
tentado apresentar como uma das caras "suaves" do PCP e cuja
expressão corporal é de facto melíflua, insinuante, mansa (aquilo a que o povo,
na sua saborosa linguagem vernácula, caracteriza como um "mija
mansinho") reagiu como reagem os que não suportam que os coloquem
perante razões frontais indesmentíveis: chamou-lhe mentiroso e ameaçou
abandonar o debate, chegando mesmo a recolher caneta e papéis e demais aprestos.
Nos países onde dominaram, e ainda dominam, o que caberia a
Souza Pinto seria, como depreendem, bem pior.
E eis o meu ponto, quando me referi ao aspecto moral
inegociável: o sector que o PCP e seus asseclas representa entre nós,
tem durante anos e anos, mediante o poder que conseguira ter na sociedade (e
que agora democraticamente lhe está a fugir) manipulado a realidade dos
factos e o verdadeiro sentido da sua acção, que incessantemente busca
justificar com a militância feita contra o salazarismo. Ora, a prova dos
tempos mostra - e isso ficou bem demonstrado no chamado PREC - que se assim
sucedia o que eles visavam era instaurar em sequência uma ditadura ainda mais
pesada, a exemplo das que exerceram nos países de Leste e em todos os outros
onde estacionaram.
E não podemos ignorar que, sim, muitos homens e mulheres, sob a
égide comunista (ou assim chamada) se bateram nobremente contra o antigo regime
que vigorou em Portugal até ao golpe do 25 de Abril. Tal como, na Revolução de
Outubro, aconteceu. Mas veja-se como foram atraiçoados pelos que deles se
serviram, o que culminou, dezenas de anos mais tarde, com o colapso dum regime
e duma concepção de vida que afinal se provou ser só simulacro.
E é isso, finalmente, que hoje está em jogo na Ucrânia. Jogam-se ali
duas concepções políticas vitais: a Democracia, com todos os defeitos que tenha
- mas que a liberdade permite contestar e emendar - e a Ditadura justificada
com argumentos capciosos e pretensamente de equidistância, mas que afinal
deixam entrever a face nauseabunda da violência, da repressão e finalmente da
guerra. Que agora Putin, na sua paranoia, já ameaça poder ser nuclear!
A Ucrânia, melhor ou pior. bate-se hoje por todos nós.
O abraço de boa saúde e estima, do vosso
ns
Subscrevem:
Jorge Gaillard Nogueira
Álvaro de Navarro
Manuel Carreira Viana
Jules Morot
Joaquim Simões
Parabéns pelo tema que até pode parecer não o ser!
ResponderEliminarCusta-me entender como é possível continuar a narrativa de um passado cada vez mais longínquo perante evidências tão reais e atuais.
Por outro lado devo enaltecer a coerência de pensamento que não se desvia um milímetro.
Respeitar sim, mas não há pachorra...
Um abraço
Mil vezes a democracia com todos os defeitos que possa ter,mas que a liberdade permite discordar e corrigir
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