terça-feira, 1 de março de 2022

Uma carta

 

...caros confrades & amigos/as.

 

 Neste dia aqui cheio de sol, do sol que ainda podemos gozar, proponho-vos uma ligeira reflexão no momento em que o mundo vive uma das piores crises dos últimos anos.

 

  Quero falar-vos no aspecto moral inegociável que o actual momento comporta e que pode ser evocado, por exemplo, pelo debate havido anteontem na CNN Portugal em que estiveram presentes Sérgio Souza Pinto, António Filipe e Sebastião Bugalho.

 

   Souza Pinto, mediante um discurso sereno e bem articulado, frontal e honesto, colocou sobre a mesa os dados da questão: dum lado a posição das sociedades abertas, onde se procura emendar e melhorar a existência civil das populações, nomeadamente através da necessária liberdade de expressão pela qual as críticas, mesmo acerbas, se exercem, em vista do bem comum. Do outro, regimes onde a verdade possível é a verdade das cliques que nelas exercem o seu poder absoluto, onde a liberdade de expressão está condicionada, onde os direitos humanos são o que os mandantes deliberam - ou seja, a sua negação - o que através dos tempos a História documenta pelo saldo de milhões de mortos que exerceu essa pretensa criação do "homem novo".

 

  E acrescentou então uma pergunta: qual pois a autoridade moral do PCP, que Filipe ali representava, para através de capciosas explicações, de argumentações que não são mais que a expressão da sua ideologia totalitária, justificar a presente acção do autocrata Putin?

 

   Perante estas palavras percucientes, baseadas em realidades inegáveis, qual a reacção de António Filipe? António Filipe, que alguns têm tentado apresentar como uma das caras "suaves" do PCP e cuja expressão corporal é de facto melíflua, insinuante, mansa (aquilo a que o povo, na sua saborosa linguagem vernácula, caracteriza como um "mija mansinho") reagiu como reagem  os que não suportam que os coloquem perante razões frontais indesmentíveis: chamou-lhe mentiroso e ameaçou abandonar o debate, chegando mesmo a recolher caneta e papéis e demais aprestos.

 

   Nos países onde dominaram, e ainda dominam, o que caberia a Souza Pinto seria, como depreendem, bem pior.

 

   E eis o meu ponto, quando me referi ao aspecto moral inegociável: o sector que o PCP e seus asseclas representa entre nós, tem durante anos e anos, mediante o poder que conseguira ter na sociedade (e que agora democraticamente lhe está a fugir) manipulado a realidade dos factos e o verdadeiro sentido da sua acção, que incessantemente busca justificar com a  militância feita contra o salazarismo. Ora, a prova dos tempos mostra - e isso ficou bem demonstrado no chamado PREC - que se assim sucedia o que eles visavam era instaurar em sequência uma ditadura ainda mais pesada, a exemplo das que exerceram nos países de Leste e em todos os outros onde estacionaram.

 

  E não podemos ignorar que, sim, muitos homens e mulheres, sob a égide comunista (ou assim chamada) se bateram nobremente contra o antigo regime que vigorou em Portugal até ao golpe do 25 de Abril. Tal como, na Revolução de Outubro, aconteceu. Mas veja-se como foram atraiçoados pelos que deles se serviram, o que culminou, dezenas de anos mais tarde, com o colapso dum regime e duma concepção de vida que afinal se provou ser só simulacro.

 

  E é isso, finalmente, que hoje está em jogo na Ucrânia. Jogam-se ali duas concepções políticas vitais: a Democracia, com todos os defeitos que tenha - mas que a liberdade permite contestar e emendar - e a Ditadura justificada com argumentos capciosos e pretensamente de equidistância, mas que afinal deixam entrever a face nauseabunda da violência, da repressão e finalmente da guerra. Que agora Putin, na sua paranoia, já ameaça poder ser nuclear!

 

   A Ucrânia, melhor ou pior. bate-se hoje por todos nós.

 

  O abraço de boa saúde e estima, do vosso

 

   ns


  Subscrevem:


Jorge Gaillard Nogueira

Álvaro de Navarro

Manuel Carreira Viana

Jules Morot

Joaquim Simões


2 comentários:

  1. Parabéns pelo tema que até pode parecer não o ser!
    Custa-me entender como é possível continuar a narrativa de um passado cada vez mais longínquo perante evidências tão reais e atuais.
    Por outro lado devo enaltecer a coerência de pensamento que não se desvia um milímetro.
    Respeitar sim, mas não há pachorra...
    Um abraço

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  2. Mil vezes a democracia com todos os defeitos que possa ter,mas que a liberdade permite discordar e corrigir

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Aos confrades, amigos, adeptos e simpatizantes

     Devido a um problema informático de última hora, não nos será possível fazer a postagem desta semana.    Esperando resolvê-lo em breve,...