Fernando Aguiar
LEMBRAM-SE?
Durante o chamado Estado
Novo, havia um "saco azul", uma verba destinada a pagar a
"jornalistas" venais e "fazedores de opinião" fora de
portas para dizerem bem do regime. Tal como havia uma outra, caseira, para
contemplar as boas obras dos tristemente célebres
"bufos", honoráveis cavalheiros e cavalheiras da mais diversa
extracção que tinham como missão espiolhar o que o cidadão fazia e dizia.
Tudo a bem da nação...
A prática sempre foi,
aliás, proverbial. Instituída pela primeira vez, com foros de operacionalidade
oficial, durante os tempos de Bismarck, que foi o criador do chamado
"Fundo dos répteis", foi depois adoptada pela generalidade dos
Estados e dos regimes, o que se tornou muito marcado durante o tempo
hitleriano. A leste, sob as ordens de Trotsky e Stalin, o caso não foi tão
marcado em relação aos "bufos", porquanto foram estabelecidas as
chamadas "milícias populares", que tinham secções de informação
específicas, o que dispensava a delação particular, chamemos-lhe assim. Só
mantiveram o sector que exercia, no estrangeiro, as denominadas
"plantações", através das quais compravam a boa-vontade de discretos
ou não tão discretos "propagandistas" publicistas, espiões e
formações partidárias, robustamente abastecidas de dinheiro fresco para levarem
a cabo ora a infiltração, ora a acção política apropriada para eficazmente servirem
os intuitos de quem lhes pagava.
Actualmente, tais
manejos ganharam novo e diversificado impulso, quer seja mediante actos "legais", como o renomado
sistema de "vistos Gold", em que as cliques de argentários ligados e
sustentados pelo regime autoritário a que pertencem, se instala e vai roendo
por dentro a sociedade-alvo, aproveitando a labilidade de governos ou de
instituições. Ou ilegais, como o "discreto" financiamento de espaços
específicos - na Internet, por exemplo - em que o que é esperado dos seus
mantenedores é que estejam sempre sintonizados com a nação financiadora.
No caso vertente, o mais
marcado país que assim procede é a China, baseando-se em que é um regime bem
sucedido, próspero e pacífico, um comunismo de sucesso que
será exemplo para toda a humanidade. E os seus estipendiados buscam fazer
esquecer a realidade de que o país ao qual estão ao serviço possui partido
único, veios sociais controlados ferreamente, imprensa absolutamente censurada,
ausência de liberdade de expressão e regime prisional e jurídico
governamentalizados.
Nos últimos tempos, uma vez
que vieram a lume comprometimentos por ambição ou laxismo de altas
individualidades ocidentais, seja nos campos económico-financeiro, desportivo
ou mesmo político e até governamental, foram accionadas mais eficazmente as
agências próprias que têm a missão de proteger a sociedade democrática desses
manejos.
Também em Portugal, embora
de forma incipiente, se vai começando a agir (é um imperativo evidente!) no
sentido de que os inimigos da liberdade e do bem-comum não possam continuar nas
suas jogadas traiçoeiras e criminosas de verdadeiros lobos com pele de
cordeiro como diz o apólogo bem conhecido.
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