terça-feira, 5 de julho de 2022
terça-feira, 28 de junho de 2022
PÓRTICO
ANTOLOGIA INTERNACIONAL “EMERGÊNCIA CLIMÁTICA”
Fotografia de ns
A editora
italiana Edizioni Universum, dirigida por Giovanni Campisi, deu a lume há
poucos dias a antologia internacional “Emergência Climática”, no sentido de
chamar a atenção, de forma alargada, para os problemas ecológicos a que está
submetida “a nossa mãe Terra” (sic) e visando mais uma vez despertar,
mediante um poemário significativo, a necessidade de todos pugnarmos pela
melhoria do relacionamento com a Natureza, que urge ser protegida de forma
empenhada e real.
Esta antologia, com poemas no original e
traduzidos em várias línguas europeias (italiano, inglês, francês, espanhol, grego,
austríaco…) foi prefaciada por Enza Agnelli. Quarenta e um autores de 23
paises, distribuídos pelos idiomas que escolheram para as traduções, compõem o
poemário, que depois de lançado em Itália está a ser difundido em vários países
– europeus, africanos e do Novo Mundo.
Convidado a participar na antologia, fi-lo
mediante o meu poema “Árvore”, constante no “Os objectos inquietantes” e que
agora aqui vos deixo de juntura com a tradução, por Giovanni Campisi, na língua
italiana.
ÁRVORE
Gostava de ter
árvores como alguns têm flores.
Árvores, muitas
árvores: laranjeiras, pinheiros, uma oliveira ao pé
do mar, se eu
tivesse uma casa a sotavento das dunas
como as que se
adivinham em certos quadros de Cézanne
se a luz é muito
clara e permanece
com velhos nomes
gregos que não sei.
Nespereiras,
limoeiros, uma que outra ameixoeira
parecendo, vistas
de longe, ser
de uma substância
estranha e desconhecida.
Não me importava,
até, de em tardes de calor
ter dentro do meu
quarto um abrunheiro donde pendesse
um decente e
fraternal cadáver.
A verdade é que
não me assusto facilmente
e tenho confiança
no reino vegetal.
Malus sieboldi, catoneaster dielsiana, vós sois
os mais exactos
filhos do mundo.
Gostaria de me
rodear, um dia, de videiras
- essas árvores
turvas da esperança -
e quando digo
rodear sei o que digo, pois
queria que se
enrolassem nos meus rins, nas espáduas
me descessem pelas
pernas e lançassem
perto do meu sexo
folhas novas
e que, ao lusco-fusco,
enquanto no céu passam
os pequenos
satélites mortais e luminosos que o desespero
do Homem lá
coloca, por surpresa se transformassem
em plantas de
gesso de frutos impensáveis.
Chego a
perturbar-me por vezes se vejo
uma árvore junto a
um hospital
Não sei porquê
creio que me lembro mais
ou sinto mais
agudamente os
níveis dolorosos das origens
do cristal, da
carne
os esponjosos
tecidos da sombra e da frescura
das cores da morte
pronta para o grande tumulto.
Que medo, em
certas noites, ver
de noite uma
árvore
Sei perfeitamente
que uma árvore é um símbolo
obscuro da nossa
vida, principalmente da nossa vida
que não houve. Mas
mesmo assim
dentro das ruas,
dentro das casas
as árvores têm um
outro entendimento
um mistério muito
delas
- e não completamente
inventados -
pois não desprezam
a agonia dos homens, o choro dos homens
o seu riso, a sua
fome, os sinais todos
que o Homem podia
e devia ter.
As árvores começam
e acabam sem amor
e sem ódio.
*
ALBERO
Vorrei
avere alberi come alcuni hanno fiori.
Alberi,
tanti alberi: aranci, pini, un ulivo in riva al mare,
se
avessi una casa a ridosso delle dune
come
quelle in certi quadri di Cézanne
s’intuisce
se la luce è molto forte e resta
con
nomi greci antichi che non conosco.
Nespole
giapponesi, limoni, uno più di altri il susino,
che
da lontano sembravano di una sostanza strana e sconosciuta.
Non
mi importava nemmeno che nei pomeriggi caldi
avessi
in camera un albero di prugnolo
su
cui pendeva un cadavere decente e fraterno.
La
verità è che non mi spavento facilmente
e
ho fiducia nel regno vegetale.
Malus
sieboldi, cotoneaster dielsiano,
siete
i figli più precisi al mondo.
Vorrei
circondarmi, un giorno, di viti
-
quegli alberi fiochi della speranza –
e
quando dico circondare so cosa intendo,
perché
volevo che si avvolgessero intorno ai miei reni,
sulle
mie spalle, scendessero
lungo
le mie gambe e gettassero
nuove
foglie vicino al mio sesso
e
che,al crepuscolo, mentre in cielo passano
i
piccoli satelliti mortali e luminosi che la disperazione
dell'Uomo
vi depone, a sorpresa si trasformassero
in
piante di gesso dai frutti impensabili.
A
volte mi arrabbio se vedo
un
albero vicino a un ospedale
Non
so perché penso di ricordare o sentire più
acutamente
i livelli dolorosi delle origini del cristallo, della carne
i
tessuti spugnosi dell'ombra e della freschezza
dei
colori della morte pronti per il grande tumulto.
Che
paura, in certe notti, vedere
un
albero di notte.
So
perfettamente che un albero è un oscuro
simbolo
della nostra vita, soprattutto della nostra vita
che
non esisteva. Ma anche così,
dentro
le strade, dentro le case,
gli
alberi hanno un'altra comprensione,
un
mistero in più di loro
-
e non del tutto inventato –
perché
non disprezzano l'agonia degli uomini,
il
grido degli uomini,
il
loro riso, la loro fame, tutti i segni
che
l'Uomo poteva e doveva avere.
Gli
alberi iniziano e finiscono senza amore
né
odio.
Nicolau Saião
- Poeta, pittore, saggista, traduttore e attorerelatore. Premio nazionale
“Rivelazione 90” dell'Associazione Portoghese degli Scrittori con il libro “Gli
oggetti inquinanti”. Altri: “Flauto di Pan”, “Le occhiate perse”, “Passaggio di
livello” (teatro), “Le voci assenti” (cronache e saggi), “La scrittura e il suo
contrario”.
Para que a Terra não esqueça
Alfonso Bonifacio
Do poeta é preciso exigir uma única coisa: não
deixar de ser poeta. Ele não deixa de ser poeta se se cala, se não escreve, se
não publica. Mas ele deixa de ser poeta a partir do momento em que consente em escrever a
língua que mente, a “língua de pau”, a língua morta, mesmo
se alinha milhares de versos.
Radovan Ivsic
Um poema de Eduardo Bento
A CASA
1. Este é o chão, aqui se molda a
casa. Deste recanto ouvirei a coruja
e o noitibó esconjurando os astros.
Abeiro-me já da janela para
sorver o sol ou ver a chuva. Aqui
invento o olhar onde uma paisagem
me fala de todas as partidas e de
nenhum regresso.
Será aqui a casa. Ela começa no bater
do coração, ali na lisura das
paredes, onde a tarde perdeu todas as
sombras, lá onde só resta a
pura fulguração da luz. A horizontal
luz do teu olhar. Ah, faltam os
espinhos da roseira para prender os
sonhos e o verde da camélia
para entreter os olhos.
2. O que sobrou do ferro, da pedra, da
argamassa, do alisar das mãos
é agora a casa. Foi aqui que germinou
o lancil e se abriu a porta e tu
disseste: Quero uma mesa que acolha
todos os homens.
É macio o côncavo do dia. Mansa é a
noite. A casa acolhe agora o
silêncio de muitas vozes. E a ternura
dos gestos prende-se à fulguração
do lume, o sussurro da chama abranda a
inquietação das horas e em
toda a casa perpassa o som dos teus passos.
Diria que o soalho acaricia os pés, as
mãos acolhem a brancura do riso.
É aqui a partilha do pão, a maciez
acidulada do vinho na toalha onde
ardem serenas palavras. Esta é a lenta
demora, o lento declinar das
estrelas, no breve
contentamento... Aqui é a casa.
3. Nenhum lugar é nosso e apenas
resistimos ao pó. Mas agora é o tempo
da casa. Começa a cumplicidade dos
sonhos, o desvendar deste recanto, a
intimidade das horas.
É preciso chegar à medula da casa e aí
interrogar o corpo, beber devagar
o declinar dos dias, entretecer a
noite e descobrir que o momento é toda
a eternidade. Retarda o encontro com a
rua, com a urgência do tempo,
deixa que a ternura navegue pela casa
e escuta o palpitar dos astros até
que a estrela da manhã se apague na
lentidão do crepúsculo.
4. Podemos rodear a casa. Soletrar os
ângulos. Tocar o branco da cal,
a dureza da pedra. Aqui demoro mas tão
brevemente como é breve a
sombra do muro.
No jardim um pássaro acende a tarde e
é verão...(Chamaste ou é o apelo
da noite que aí vem?)
5. Estamos sempre mais longe e não há
regresso. A distância é o nevoeiro
dos dias, o apagamento da
memória...Agora a casa é uma palavra em ruínas.
A mesa é feita de lugares vazios. A
humidade saboreia a caliça e há raízes
investindo com os muros. A trave
apodrecida é um mastro caído à espera
de outro mar.
Adivinho antigos rumores, vozes
dispersas. Aqui um horizonte se apaga, breve
e última respiração das coisas. Agora
só se ouve a débil pulsação da noite.
Colhêmos este belo poema, tomando assim contacto com o seu A., no espaço
anteriormente mantido pelo editor e livreiro José Antunes Ribeiro – também
presente nesta postagem – “O voo da coruja”, que dentro em breve vai sair em
revista, materialmente dada a lume mediante os meios habituais.
Dirigida pelo poeta e pintor Hugo Beja, certifica
a volta ao bom combate – não se deixando vencer pelas dificuldades por cá
colocadas infaustamente à maioria das editoras – da icónica ULMEIRO, uma das
casas legendárias lisboetas e entreposto que foi de passagem de destacadas
figuras da cultura lusitana contemporânea. - ns
Dois textos de José Ribeiro
ns
Penso hoje na casa da infância e do que estava perto!
Em frente a casa dos tios Margarida e Faria e das primas Fernanda, Maria
dos Anjos e Talita. Em frente do portão da casa a rua que ia para a fonte da
aldeia. Já nessa rua a casa dos vizinhos Bízaros, o ti Anacleto, e os filhos.
Nomes? Não chego lá com facilidade. Ao lado direito da nossa casa mais um
vizinho em que recordo aquele que emigrou e num regresso meteu o meu pai e os
meus tios no seu carro novo para uma viagem em que o carro subiu contra uma
oliveira onde morreu o meu pai, nos meus 20/21 anos e nos 58 do pai José
Ribeiro. Herdei-lhe o nome e algo mais estou certo! Da mãe fui o único filho
que herdou a alcunha, fiquei o Zé Feijão, o filho da Maria Feijoa. Nenhum dos
meus irmãos herdou esta alcunha. Para além disso eu era o Zézito para muita
gente na aldeia. Essa casa já não existe e em seu lugar está a bonita casa da
minha sobrinha Rute. Em frente da casa da minha sobrinha está omnipresente a
Capela de Nossa Senhora da Ajuda do séc. XVII. Esteve sempre lá. Nestas ruas à volta da
casa se desenrolavam as nossas brincadeiras: o jogo das escondidas, o jogo do
berlinde e do pião, o jogo da bola com meias e trapos, o jogo da malha quando
começámos a crescer! Havia depois o cruzeiro do outro lado da capela. Mais para
cima da capela ficava a casa do tio Adelino, a casa da avó Jacinta e à esquina
da entrada para este pátio havia um alambique onde no inverno se fazia
aguardente. Na casa da avó Jacinta também viveu a tia Isaura que tomava conta
da capela e que casou com Cristo. Um dia em que vim de férias do seminário dos
Dominicanos de Aldeia Nova vim cumprimentá-la com um beijo e ouvi uma espécie
de recriminação que ainda hoje ressoa aos meus ouvidos: "não é preciso cá
beijos"! E pronto assim fiz depois sempre: aí vai um aperto de mão em nome
dos bons costumes e de Deus! Quase em frente da casa da infância mais do lado
esquerdo ficava a casa do Diamantino Varão, da sua mãe cozinheira de casamentos
e baptizados e do pai que ouvi um dia lá no meu quintal dizer para o filho:
" o bacalhau é para quem trabalha!". Assim sem tirar nada...
Talvez um dia esta ladainha continue por aqui se Nossa Senhora da Ajuda
quiser!
*
Penso nos avós maternos e paternos hoje e não sei bem como aqui cheguei!
Pelo lado materno o nome da avó era Ana e lembro-me bem dela na vinha a
dizer-me que os ovos dos ninhos que estavam nas videiras não eram para tirar
porque deles iam nascer novos passarinhos! Do avô materno, de seu nome Teodósio
Antunes, sei algumas coisas, a importância de como cozinheiro, sobretudo dos
casamentos e baptizados, ter um enorme peso na sobrevivência familiar, mais
tarde acho que foi abalroado por uma camioneta e daí ter desaparecido antes do
tempo! De qualquer modo lembro-me de estar ao colo dele num local onde hoje
está a casa de uma prima e eu teria talvez 2 anos e picos! Sei como eu estava e
sei o local exacto onde estava.
Do lado paterno a avó Jacinta recordo-a na sua casa durante muito anos
já depois da morte do meu avô Teodósio Ribeiro, morto na floresta por um raio
num dia de tempestade! Visitei muitas vezes a avó na sua casa sempre à lareira.
Morreu com mais de 90 anos!
REFLEXÃO SOBRE LIVROS E AUTORES
Gosto de bons livros. Todos os bons livros, diz ele. O critério para
aferir os bons e os maus é sempre subjectivo mesmo para quem escreve do alto da
sua cátedra cheio de certezas. O sujeito que escreve vem depois. Pode ser homem
ou mulher. Não me interessa o que faz na vida nem se tem o cabelo grande ou
curto, se tem ou não tem piercings, nem qual a sua orientação sexual. Pode até
ser famoso ou desconhecido.
Nem sempre um livro que vende muito é bom e um livro que não vende pode
ser bom ou mau.
O sujeito que escreve um livro pode até ser um escroque? Pode. Pode ser
uma boa pessoa? Claro, mas nem sempre o é. Por mim prefiro que seja boa pessoa
e que escreva bons livros, mas na hora da leitura passo bem sem a sua simpatia.
O mundo está cheio de maus tipos que escrevem bem. Por vezes um autor demora
anos a ser reconhecido. Muitos morreram antes do reconhecimento. E o mais grave
é que muitos morreram na miséria. Em
muitos casos o reconhecimento e o dinheiro chegaram bem mais tarde. Outros
(muitos!) jazem já no grande rio do esquecimento.
Gosto de bons livros, dizia. E o que é um bom livro? Deve alguém que se
atreva a escrever dominar os sinais da escrita e organizá-los com a sua própria
voz. É na organização dos sinais que se encontra a gramática própria de quem
escreve, um caminho próprio, uma arquitectura para o poema ou para o livro. Sem
esse trabalho não pode existir um bom livro nem que venda milhões de
exemplares. Alguém com presença assídua na televisão só por isso já tem
garantido algum sucesso de vendas, mas isso nada acrescenta à qualidade de um
livro mesmo que a pessoa saiba piscar bem o olho! A qualidade é o que é!
Quando Gustave Flaubert publicou a 1ª. ediçao de " L' Éducation
Sentimentale" vendeu 150 exemplares. Dez anos depois o mesmo livro vendeu
150.000 exemplares. Mudou alguma coisa nestes dez anos? Sim, alguma coisa
mudou, e mudou radicalmente o horizonte de expectativas do leitor em relação a
este Autor. Razões para isso acontecer? Se eu soubesse escrevia sobre isso um
livro para a posteridade, de preferência um bom livro.
(JAR)
(Renomado livreiro e editor da icónica
ULMEIRO, José Antunes Ribeiro continua a ser como sempre foi: activo, solidário
e atento à Cultura viva na esteira de um mundo mais aberto e fraterno.
Ao darmos a lume colaboração sua, saudamos a
sua postura intemerata que não se deixa vencer pelas dificuldades que
nacionalmente se põem à verdadeira gesta que é dar livros à estampa. - ns
terça-feira, 21 de junho de 2022
Para que a Terra não esqueça
João Garção
Será
que sabem fazer mais do que sacudir a água do capote?
Serviços
do SNS obrigados a fechar por falta de médicos. Milhares de alunos sem
professores. Turistas horas à espera de entrar no país. PS governa há seis anos
mas a culpa continua a ser dos outros.
É a ironia
de uma política que se limitou a aproveitar o bom trabalho do governo anterior,
a conjuntura internacional favorável e que foge das reformas como o diabo foge
da cruz. Quando se tem como mantra, não resolver os “problemas estruturais”
para reforçar a popularidade junto do eleitorado e manter-se no poder a todo o
custo, adivinhem o que pode acontecer.
(Dos
jornais)
Costa é o grande responsável por tudo o que
se está a passar. O homem é incapaz de fazer algo decente pelo país. A única
coisa que sabe fazer são joguinhos rasteiros de bastidores e propaganda
enganosa. Como gestor do país é um zero absoluto. Diria pior que zero, estará
algures abaixo de zero pois nem sequer uma estratégia a 6 meses consegue ter e
desenvolver para o país. A única coisa que o move é o benefício pessoal, o
poder e consequentemente os votos que o fazem governar ao sabor do vento em
plena navegação à vista. Demasiado mau para ser verdade mas apesar de toda a
incapacidade até lhe deram uma maioria, terão o que merecem, a cauda da Europa
garantida a breve prazo e o consequente empobrecimento do país, o colapso
gradual dos serviços públicos e o aumento sistemático da carga fiscal. Viva o
Peiésse!
PS
- O povo também é tão responsável quanto Costa por tanta ingenuidade e por
estar agarrado a políticas dos anos 70 num mundo completamente diferente.
Luís Martins
Dois poemas de Radovan Ivsic
DE
TUDO
De
tudo o que sei
E
que eu sei que tu sabes
De
tudo o que vejo
De
tudo o que ouço
Quando
escuto o teu coração
De
tudo o que tu me dizes
E
que eu tanto amo
De
tudo o que acontece
Quando
fechas os teus olhos
De
todos os sonhos
De
todas as estrelas
De
todas as nuvens
De
tudo isso que sabes
O
que me deixa mais feliz ainda?
De
tudo isso que me deixa ainda mais feliz
É
que eu sei que tu sabes
Porque
tu sabes isso e eu também sei
Tu
sabes que me amas
E
eu sei que te amo também.
POEMA
Ainda
que os teus seios sejam flores fugazes
as
tuas coxas de erva balançam na minha mão
e
os beijos são tão lentos como a claridade
lentos
E
eu esqueço o peso e a dor
a
tristeza das flores demasiado ao longe
para
nos beijarem
e
os meus dedos desfolham-se nas tuas espáduas
como
se o vento os semeasse e eu morresse de ternura
em
toda a parte
e
de novo a minha mão corre o teu claro corpo
e
os teus seios
que
eu acaricio com o meu olho
nu
(Tradução de nicolau saião)
(Publicados anteriormente,
pela primeira vez em língua portuguesa, na revista brasileira ACROBATA,
inseridos num bloco mais extenso).
Na morte de João Rui de Sousa
João Rui de Sousa (12-10-1928 /
17-6-2022)
Os
poetas não morrem porque aquilo a que alguns chamam morte é apenas registo
civil, nada mais. Num país que conhece Camões pelo olho perdido, Bocage pelas
anedotas e Bulhão Pato pelas amêijoas, é tudo relativo, embora de modo
absoluto.
João
Rui de Sousa estudou agricultura (Curso médio) na Escola Dom Dinis na Paiã
(Pontinha). Mais tarde licenciou-se em História e Filosofia pela Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa. Estreou-se em 1955 com poemas e um ensaio na
Revista «Cassiopeia» ao lado de António Carlos, António Ramos Rosa, José Bento
e José Terra.
Tem
colaborado em importantes jornais e revistas literárias e tem poemas seus em
diversas antologias e volumes colectivos. Publicou estudos sobre as obras
poéticas de Adolfo Casais Monteiro, Eugénio de Andrade, José Carlos Gonzalez,
Jorge de Sena, Fernando Pessoa e Mário Saa.
Publicou
(entre outros) os seguintes livros: «Circulação» (1960), «A hipérbole na
cidade» (1060) «A habitação dos dias» (1962) «Meditação em Samos» (1970),
«Corpo Terrestre» (1972), «O fogo repartido» (1983), «Palavra azul e quando»
(1991), «Enquanto a noite, a folhagem» (1991), «Sonetos de cogitação e êxtase»
(1994), «Obstinação do corpo» (1996), «Respirara pela água» (1998), «Concisa
instrução aos nautas» (1999) «Os percursos, as estações» (2000), «Obra poética
1960-2000» (2002), «Lavra e pousio» (2005) e «Quarteto para as próximas chuvas»
(2008).
Do
livro «Respirare attraverso l´acquq» organizado por António Fournier e Alessandro
Granata Seixas (Edizioni dell´Orso) citamos dois poemas: primeiro «Agricultura»
do livro «Corpo terrestre» (1972): «É preciso recolher as vagens/e dispô-las no
chão./ É preciso beijar as plantas/ou cortá-las ao meio. /E ter sempre uma
enxada/uma discreta atenção. /ao silêncio da terra/ao calor das abelhas.
/Roubar à seara limpa/a planta podre. /e queimar essa planta/em eira aberta. /É
preciso a visita do sol/o diálogo da chuva. /É preciso a vertigem da
esperança/e esperar com amor. /Descobrir – mais tarde - /a volúpia da rega. /E
ser o último a abandonar o campo». O segundo é um excerto do poema inédito até
2014 «Em louvor de Giacomo Leopardi»: «Que significa a vida? Para que serve/ o
esforço, a luta, a esperança. O gesto/de desprezo ou de amizade, o estar/ em
palco só para que outros vejam/algum possível brilho ou mesmo um escorrer/de
oculta petulância, a esconder fraquezas/(que são tantas) da nossa compleição/
tão frágil?»
José do Carmo Francisco
Um adeus alentejano
Foi com alguma surpresa e absoluta emoção que recebi,
de José do Carmo Francisco, a triste notícia do falecimento do poeta e amigo de
quem, reiteradamente e através do tempo, recebi diversas manifestações de
apreço fraternal – ora através de conversas amenas veiculadas pelo telefone,
ora em directo e de viva voz quando em deslocações minhas a Lisboa nos
encontrávamos no Café da nossa preferência.
Foi ele quem
me apresentou aos leitores na minha primeira aparição em volume, no caso a
antologia “Sete poetas portugueses contemporâneos” editada pela Átrio do comum
confrade e amigo José Manuel Capêlo, tendo tido a meu respeito palavras
escritas que não me esquecem. Depois, já em voo de cruzeiro - no meu terceiro
livro “Os olhares perdidos” – foi ele quem fez a Introdução, perspicaz e
competente dada a sua qualidade como ensaísta.
E colaborou
sempre generosamente nas iniciativas em que me cifrei, ou sejam o “Suplemento Cultural”
que eu orientava no “Notícias de Elvas ou o “Fanal”, que co-coordenei no “O
Distrito de Portalegre”.
Notável
poeta, ensaísta de fina água, crítico arguto e companheiro extremamente afável,
relembro-o com saudade agora que partiu com a bela idade de 94 anos. O “velho”
abraço, caríssimo confrade João Rui de Sousa!
nicolau saião
terça-feira, 14 de junho de 2022
Para que a Terra não esqueça
Líder norte-coreano expressa “total apoio” a Putin
O
líder norte-coreano Kim Jong-un manifestou este domingo “total apoio” ao
Presidente Vladimir Putin por ocasião do Dia da Rússia, informou a agência de
notícias oficial da Coreia do Norte KCNA.
Kim
Jong-un enviou uma mensagem de felicitações a Putin e ao povo da Rússia no dia
em que se celebra a independência do país, apontou a KCNA.
Sob
a liderança de Putin, disse Kim, a Rússia “conseguiu ousadamente ultrapassar todo
o tipo de desafios e dificuldades” enfrentados “na realização da justa causa da
defesa da dignidade, da segurança e do direito ao desenvolvimento”.
Sem
nunca mencionar a guerra na Ucrânia, o líder norte-coreano reafirmou “a amizade
entre os dois países”, que “tem sido transmitida através de uma longa
história”, revelando ainda vontade de “expandir e desenvolver” essa relação “de
acordo com as exigências da nova era e as aspirações dos dois povos”.
(Dos jornais)
Diz-me com quem andas…
A.Carnide
Outra coisa não seria de esperar... Dois
ditadores carniceiros!
António Afonso
Bernardino Soares também
apoia e Jerónimo já tem tudo preparado na festa do Avante. O Museu da Resistência
e da Liberdade dirigido por uma comunista (!!!) também deve apoiar...
Luís Mota
Joaquim Simões, Três disposições
ns
Disseste
Tudo está bem a estrela
brilhando para se guiar
o sol que adormece na beirinha do
mar
a ave leve sobre a rama
agora a chuva
iluminando os silêncios do amor
e em cada gota de riso e suor
um arco-íris a brilhar que nos
chama
lá do lugar
onde o Tempo se pôs a sonhar
com a história em que se há-de
achar
este tempo que foi dado aos dois
e é nossa antes e depois
Poema ecológico
para os do costume
De ti, não vemos a cara,
só dás rosto ao rosto infecto
de uma praga, de um insecto
que se espalha pelo país
e nos destrói a raiz,
que fala e soa a soneto
que não é branco nem preto,
porque é de bicho-careto.
Levas esta versalhada,
não serves para mais nada.
Sem título
Ao perguntar-me, há
bocado,
se sonharia, julguei
sentir-me todo encostado
a um eu de um qualquer
lado,
de que nunca suspeitei.
Como se esse eu fosse
alguém
a quem estivesse colado
costas com costas. Porém,
não vi nada nem ninguém,
ao virar-me, admirado.
Para o que desse e
viesse,
esbracejei à minha volta,
em busca do que pudesse
estar escondido e me
quisesse,
alma penada ou à solta.
Não sei bem o que me deu,
chamei por ele… por mim…
Mas ninguém me respondeu,
apenas um eco meu
que parecia rir, no fim.
Confuso, meio receoso,
pior ainda: irritado,
fiz-lhe caretas de gozo
que, eu cá, nunca fui
medroso,
nem estou para ser
gozado.
Mas nada, nada buliu
perto ou longe dali,
nada chegou ou fugiu
nem se fechou nem se
abriu...
Fiquei-me, não insisti.
Será que sonhei um sonho?
Não será original
e não chega a ser
medonho…
Uns copitos de medronho
e a coisa passa.
Afinal...
Aos confrades, amigos, adeptos e simpatizantes
Devido a um problema informático de última hora, não nos será possível fazer a postagem desta semana. Esperando resolvê-lo em breve,...

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Devido a um problema informático de última hora, não nos será possível fazer a postagem desta semana. Esperando resolvê-lo em breve,...
-
Passaram já trinta e quatro anos mas tudo permanece igual no recreio da ADECO com as paredes caiadas e os pneus dos meninos em sossego mas...