ANTOLOGIA INTERNACIONAL “EMERGÊNCIA CLIMÁTICA”
Fotografia de ns
A editora
italiana Edizioni Universum, dirigida por Giovanni Campisi, deu a lume há
poucos dias a antologia internacional “Emergência Climática”, no sentido de
chamar a atenção, de forma alargada, para os problemas ecológicos a que está
submetida “a nossa mãe Terra” (sic) e visando mais uma vez despertar,
mediante um poemário significativo, a necessidade de todos pugnarmos pela
melhoria do relacionamento com a Natureza, que urge ser protegida de forma
empenhada e real.
Esta antologia, com poemas no original e
traduzidos em várias línguas europeias (italiano, inglês, francês, espanhol, grego,
austríaco…) foi prefaciada por Enza Agnelli. Quarenta e um autores de 23
paises, distribuídos pelos idiomas que escolheram para as traduções, compõem o
poemário, que depois de lançado em Itália está a ser difundido em vários países
– europeus, africanos e do Novo Mundo.
Convidado a participar na antologia, fi-lo
mediante o meu poema “Árvore”, constante no “Os objectos inquietantes” e que
agora aqui vos deixo de juntura com a tradução, por Giovanni Campisi, na língua
italiana.
ÁRVORE
Gostava de ter
árvores como alguns têm flores.
Árvores, muitas
árvores: laranjeiras, pinheiros, uma oliveira ao pé
do mar, se eu
tivesse uma casa a sotavento das dunas
como as que se
adivinham em certos quadros de Cézanne
se a luz é muito
clara e permanece
com velhos nomes
gregos que não sei.
Nespereiras,
limoeiros, uma que outra ameixoeira
parecendo, vistas
de longe, ser
de uma substância
estranha e desconhecida.
Não me importava,
até, de em tardes de calor
ter dentro do meu
quarto um abrunheiro donde pendesse
um decente e
fraternal cadáver.
A verdade é que
não me assusto facilmente
e tenho confiança
no reino vegetal.
Malus sieboldi, catoneaster dielsiana, vós sois
os mais exactos
filhos do mundo.
Gostaria de me
rodear, um dia, de videiras
- essas árvores
turvas da esperança -
e quando digo
rodear sei o que digo, pois
queria que se
enrolassem nos meus rins, nas espáduas
me descessem pelas
pernas e lançassem
perto do meu sexo
folhas novas
e que, ao lusco-fusco,
enquanto no céu passam
os pequenos
satélites mortais e luminosos que o desespero
do Homem lá
coloca, por surpresa se transformassem
em plantas de
gesso de frutos impensáveis.
Chego a
perturbar-me por vezes se vejo
uma árvore junto a
um hospital
Não sei porquê
creio que me lembro mais
ou sinto mais
agudamente os
níveis dolorosos das origens
do cristal, da
carne
os esponjosos
tecidos da sombra e da frescura
das cores da morte
pronta para o grande tumulto.
Que medo, em
certas noites, ver
de noite uma
árvore
Sei perfeitamente
que uma árvore é um símbolo
obscuro da nossa
vida, principalmente da nossa vida
que não houve. Mas
mesmo assim
dentro das ruas,
dentro das casas
as árvores têm um
outro entendimento
um mistério muito
delas
- e não completamente
inventados -
pois não desprezam
a agonia dos homens, o choro dos homens
o seu riso, a sua
fome, os sinais todos
que o Homem podia
e devia ter.
As árvores começam
e acabam sem amor
e sem ódio.
*
ALBERO
Vorrei
avere alberi come alcuni hanno fiori.
Alberi,
tanti alberi: aranci, pini, un ulivo in riva al mare,
se
avessi una casa a ridosso delle dune
come
quelle in certi quadri di Cézanne
s’intuisce
se la luce è molto forte e resta
con
nomi greci antichi che non conosco.
Nespole
giapponesi, limoni, uno più di altri il susino,
che
da lontano sembravano di una sostanza strana e sconosciuta.
Non
mi importava nemmeno che nei pomeriggi caldi
avessi
in camera un albero di prugnolo
su
cui pendeva un cadavere decente e fraterno.
La
verità è che non mi spavento facilmente
e
ho fiducia nel regno vegetale.
Malus
sieboldi, cotoneaster dielsiano,
siete
i figli più precisi al mondo.
Vorrei
circondarmi, un giorno, di viti
-
quegli alberi fiochi della speranza –
e
quando dico circondare so cosa intendo,
perché
volevo che si avvolgessero intorno ai miei reni,
sulle
mie spalle, scendessero
lungo
le mie gambe e gettassero
nuove
foglie vicino al mio sesso
e
che,al crepuscolo, mentre in cielo passano
i
piccoli satelliti mortali e luminosi che la disperazione
dell'Uomo
vi depone, a sorpresa si trasformassero
in
piante di gesso dai frutti impensabili.
A
volte mi arrabbio se vedo
un
albero vicino a un ospedale
Non
so perché penso di ricordare o sentire più
acutamente
i livelli dolorosi delle origini del cristallo, della carne
i
tessuti spugnosi dell'ombra e della freschezza
dei
colori della morte pronti per il grande tumulto.
Che
paura, in certe notti, vedere
un
albero di notte.
So
perfettamente che un albero è un oscuro
simbolo
della nostra vita, soprattutto della nostra vita
che
non esisteva. Ma anche così,
dentro
le strade, dentro le case,
gli
alberi hanno un'altra comprensione,
un
mistero in più di loro
-
e non del tutto inventato –
perché
non disprezzano l'agonia degli uomini,
il
grido degli uomini,
il
loro riso, la loro fame, tutti i segni
che
l'Uomo poteva e doveva avere.
Gli
alberi iniziano e finiscono senza amore
né
odio.
Nicolau Saião
- Poeta, pittore, saggista, traduttore e attorerelatore. Premio nazionale
“Rivelazione 90” dell'Associazione Portoghese degli Scrittori con il libro “Gli
oggetti inquinanti”. Altri: “Flauto di Pan”, “Le occhiate perse”, “Passaggio di
livello” (teatro), “Le voci assenti” (cronache e saggi), “La scrittura e il suo
contrario”.
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