segunda-feira, 6 de julho de 2020

A propósito de televisão


Ilustração de Fernando Aguiar


    Desde há cerca de trinta anos que a denominada sociedade ocidental participa numa mutação tecnológica acelerada a que, por vezes, não consegue dar resposta adequada no campo espiritual. O nosso mundo conceptual transfigurou-se duma maneira brusca e tal facto tem condicionado o nosso universo de relação. Há factores exógenos e outros endógenos, nem sempre bem meditados ou enfrentados com perspicácia ou capacidade para bem gerir a vida colectiva. E não falamos agora, é claro, nas tentativas deliberadas de orientar a realidade em direcções que só acarretam prejuízos às populações.
    Ora, a televisão, como meio privilegiado e totalizador a nível de comunicação de massas, reflecte com enorme relevo esse panorama inquietante.
    Numa obra saída há já algum tempo, o pensador Alexander Himmelweit diz-nos a dado passo que “a visão do mundo apresentada pela televisão afecta o comportamento real dos telespectadores em função das tendências que se têm e que através dela são pois reforçadas. Verifica-se assim que a televisão orienta comportamentos pré-dispostos.”. O problema é que, como referia noutro estudo o sociólogo Alain Dickinson, “apanhada num fluxo turbulento de mudança, além de intelectualmente confusa, a pessoa sente-se desorientada no plano dos valores pessoais; à medida que o ritmo se acelera, à confusão juntam-se a dúvida acerca de si mesma, podendo comparecer a ansiedade e o medo. À medida que o tempo decorre, a pessoa torna-se tensa e chega a cansar-se com facilidade, ficando mais permeável à doença. Com o aumento implacável das pressões habilmente induzidas, a tensão transforma-se em irritabilidade e, por vezes, em cólera e até violência – que, por outros meios socialmente directos, o poder canaliza então em direcções que lhe interessam. Ninharias desencadeiam grandes reacções; grandes acontecimentos, reacções insignificantes”.
    Ou seja, é-se objecto de arteira manipulação.
    Antes de passarmos adiante gostaria de referir que recentemente, num dos laboratórios de ponta duma famosa universidade europeia, foi levada a efeito uma experiência com pessoas de várias etnias e de diversos níveis etários. E concluiu-se que a música – principalmente certo tipo de música – actua nos mesmos centros cerebrais onde actuam as drogas.
    E, a talho de foice, pergunto: será por isso que nos últimos tempos, principalmente nos meios radiofónicos - aliás caracterizados por uma enorme mediocridade - são incessantemente emitidos programas musicais e, mesmo, maioritariamente entrevistados ou epigrafados protagonistas desse mundo (além, é claro, das consabidas rubricas sobre política partidária e futebol)?
   De há uns tempos até agora, tem-se voltado a falar com intensidade na questão da violência veiculada pela televisão. Determinados próceres da politica à portuguesa, com aprumo jesuítico têm vindo a lume com pezinhos de lã sugerindo diversas formas de controle (de censura, que é o que lhe subjaz) contra a violência que se exprime através de películas com tiros a granel e pancadaria de criar bicho. No entanto, com a sua efígie mesureira e hipócrita no limite, geralmente deixam de fora – claro! – outras formas graves de violência, mais disfarçada e insidiosa que, quando muito, tocam pela rama: o espectáculo da lagrimeta, do sentimentalismo bacoco e do humorismo que não passa de propaganda partidária/governamental mal-disfarçada, o apelo à contemplação do mexerico e da bisbilhotice, os trechos elementares ou boçais geralmente protagonizados por luminárias da frivolidade básica ou embandeirada do jet set. As rubricas de opinião ou de comentário que não passam de ideologia torcida, os talk shows pretensamente modernaços que se apoiam, notoriamente, num certo erotismo para primários que não é mais que pornografia manhosa e sem subtileza.
    E não devemos esquecer que a pornografia, como o denotou Sarane Alexandrian e tantos outros, com a sua carga “comercialista” evidente, é um dos sinais típicos do recalcamento injectado pelo fideísmo eclesial ou partidário, essa suma violência dos espíritos em que se exprime a monomania.
    Aproveitando-se dos traumas e dos preconceitos duma sociedade bloqueada ou disfuncional no plano afectivo, estas formas disfarçadas de violência, mas não menos mistificadora e perigosa, têm como objectivo criar audiências teledependentes, uma vez que estas são o suporte da publicidade, que é uma das faces do império dos negócios. E, quando digo império, quero significar o economicismo sem pudor e sem freio, não a legítima troca ou compra-e-venda que subjaz e conforma uma fase característica de existência societária.
   O que, evidentemente, a manipulação televisiva tenta estabelecer, é a criação de seres supranumerários, em quem a docilidade é adquirida de maneira progressiva e serena, predispondo o grande público para a passividade, a ausência de calor humano, de solidariedade e a dispersão/banalização dos sentimentos, ligando-se a ideias colectivas sob a batuta de gurus e de condottieris cheios de lábia que, de forma suave e afectuosa, estabelecem o primado do justamente descrito como “ur-fascismo doce”, que um dos líderes do sinistro “Grupo Bilderberg” estabeleceu como sendo o efeito de “em vez de seres levado à matraca, és conduzido com jeitinho e ternura”…
   A televisão, que podia ser um meio qualificado de comunicabilidade humanizada – e nos melhores casos (sem a velhacaria dos que com ou sem máscaras desprezam o cidadão e o ser humano por extenso) é de facto um veículo de qualidade (lembremo-nos por exemplo de notáveis documentários da BBC, dos concertos austríacos, das peças de teatro francesas e de alguns especialistas espanhóis e lusos) – tem sido levada por maus caminhos por esses émulos de pequenos goebbels que usualmente a conseguiram colonizar por obra e graça do politicamente correcto e do descaramento estatal que, nos casos mais sintomáticos e impudicos, tentam fazer de nós todos idiotas úteis
                                                                                                 ns

Johnny Halliday, La Quete



quinta-feira, 2 de julho de 2020

Notazinha muito pequenina...


Deve ser, pois não, coincidência - pois aqui não se praticam teorias de conspiração! - mas o facto é que, a partir de uma semana depois de iniciado o Blog, até ao momento já por 3 vezes 3 o aparelhómetro sofreu comichões de tal ordem que teve que consultar o dermatologista...digo especialista em interactividades, no caso um familiar, de sua formação mui experiente nestes assuntos.

  Antes disso nunca tal havia sucedido.

  Que diacho, um humilde blog devia estar imune a tais...eventuais...cousas assim, carago! 

   Coincidências, queria eu dizer...

                                                         ns

Para um minuto de meditação - 15


ns



“Os livros a que o mundo chama imorais são aqueles que lhe mostram a sua própria ignomínia”.
                                                                             Oscar Wilde

Hoje, António Salvado






           Há, neste acervo, um verso que a meu ver descreve com exactidão o mundo da escrita de António Salvado: “só a natureza purifica os sons”, diz ele a dada altura no poema dedicado a Claudio Rodriguez. (Claudio Rodriguez, sublinho, ou seja: um dos poetas europeus onde a natureza se confrontou decisivamente com os sons duma modernidade assumida, reencaminhada nos troços vicinais de um continente que não perdera de vista a claridade da Grécia mas sabia ser impossível não a tentar reconverter através do mergulho achado em Rimbaud e Dylan Thomas).
  Poeta da natureza, António Salvado? Sim, mas também da linguagem que a certifica, perpassa e ultrapassa. Conhecedor dos clássicos, sempre soube viajar – como fica patente nesta pequena antologia – pela comovida desconstrução da escrita.
   E, assim, é um contemporâneo tanto dos que se foram como de todos os outros que a seguir irão vindo.
     Por último e ainda no continente da Poesia, gostaria de relevar o trabalho incontornável de AS enquanto tradutor – e dou ao termo trabalho, aqui, o seu exacto perfil e conteúdo não só de labor mas de encantamento partilhável, uma vez que é disso que se trata: ser António Salvado, como a meu ver tem sido, o poeta do seu poeta vertido em português sem jaça e com o ritmo próprio e a figura de quem escreve como se em língua lusa este escrevesse.

                                                                                                         ns

“AGUARDARÁS O TEMPO…”

Aguardarás o tempo da vindima:
que as uvas sofram, como bem-fazeja
dádiva férvida, o calor de enlevos
que aproximar vai o verão do fim.

E só depois as poderás colher,
e só depois tu poderás  fremindo
esmagá-las sem dor    com a leveza
com que se beija um corpo em cio unindo-se.

Aguarda pois. E faz da tua espera
a certeza insuspeita de que um dia
há-de num copo rutilar o vinho –

e nos teus dedos    em papel modesto
fulgirá o mistério da vindima
transformado nos versos que nutriste.

CASA DO AMOR

Foi nas perenes coisas que aprendi
a ser: a casa do amor cercada
de ruas que subiam junto ao fim
do céu que sempre mais se prolongava,

de longo mudos maternais jardins
onde as eternas flores eram lagos
de fragrância ofegante colorida
e os lagos sol em água mergulhado.

E nela: o pão cantado sobre a mesa,
a bilha da ternura a renascer,
a pureza do linho a dedilhar
as palavras nos lábios entoadas…

deito longe a saudade: permanece
a casa do amor, em mim, perene.

“VER UM BROTO SURGIR…”

Ver um broto surgir entre a secura
(um fruto anunciado, ante-manhã
que ao fim da noite s’esclarece   e tão
prestes a ser o dia   que é só luz)

na árvore não morta   quase murcha
mas que teimou   em ganhar seiva   errante
e alçando-se    - feliz -   na cor da esp’rança
a vigorar-se no que era um tronco inútil.

E cobre-se de verde e ganha forma,
de surpresa em surpresa   desafia
futuras tempestades, imprevistos –
ali: como a palavra que borbota
natural   singular   silenciosa
no início um verso a construir-se.


MEDITAÇÃO
                             (à memória de Claudio Rodriguez)

Dos olhos e das mãos brotam as coisas:
inocentes paisagens onde a vida
e a morte se insinuam e comprazem.
Feitas indagação, elas entregam
- mesmo longínquas – o fluir constante
do sangue atravessando o pensamento.
De há muito que o sabemos caminhando:
somente a natureza purifica os sons
da chama inviolável que destrói
enganos: uma flor desabrochada,
rapariga no curvo do distante,
calor do oiro na melancolia.
Daí, que a claridade estenda os braços
a resvalar-se à voz: e invada os veios
exaltados da pureza   e bafeje
para que ouçamos dela o sussurrar,
como um astro súbito   inesperado,
como a verdade plena de harmonia.
Em segredo, o pulsar do coração
traça novos destinos entre areia,
reconstruindo a casa à beira do abismo
solidifica a água das correntes.
Em segredo. Os olhos abrem-se mais
e as mãos, hirtas p’lo frio passageiro,
modelam ouro espaço e outro tempo
para que o canto seja eternidade.


ANOS SE LEVA

Anos se leva a descobrir a pátria:
a terra onde existir   p´ra sempre a salvo,
o barro que há-de    modelar a alma,
a língua a ser sabida   a ser falada.
E que os rios e serras e que mares
e que cidades grandes    ou lugares,
que plantas  animais   vão habitar
essas paisagens virgens   a brotarem.

Porque o amor  — uma conquista lenta —
precisa de passado e de presente
quando constrói os elos do futuro;

que a pátria seja    em ânsia   toda a gente —
de mãos nas mãos   e olhos indif´erentes
a quem não queira partilhar o fruto.


(Nota - Alguns destes poemas foram anteriormente dado a lume na “Revista do TriploV” e na “DiVersos – revista de poesia e tradução” e por mim ditos em programas radiofónicos no Brasil, França e Portugal.)

Outra estorinha de Vincenzo Quillici


Nicolau Saião, Sem título



O parente


    A senhora Beaumont, Mélanie Beaumont de sua graça, todos os sábados de manhã se deslocava a ouvir missa em Saint Sulpice. Gostava da igrejinha, do jardinzito próximo e do mercado mesmo ao pé onde frequentemente se abastecia para a semana. Comprava endívias, laranjas de todo o ano, rabanetes de que era particularmente gulosa, peixe e alguma carne. Flores da época, se era tempo delas umas cerejas, rabanadas e bolo-dôce.    A senhora Beaumont, que era uma alma cândida, usava no tempo frio um casaco castanho claro a condizer com o seu cabelo cuidadosamente pintado – embirrava com as brancas e perdoava-se esta faceirice – e um lenço de cabeça às pintinhas discretas que lhe ficava muito bem. A senhora Ricot, a vendedeira de verduras, via-se mesmo que lhe tinha alguma inveja.
   Naquele sábado a senhora Beaumont sentia uma pequenina pontada no peito. As coisas, desde as árvores aos automóveis, parece que estavam assim como que enevoadas, fluidas e até julgara distinguir um buçozinho sob o nariz da menina Sabine, que era loira e roliça, com os seus braços clarinhos mexendo-se daqui para ali a pesar o peixe e a fazer os trocos.
   Foi quando abandonava o mercadinho e ia já virar para a rua Lambert, direitinha a casa, que o homem se lhe dirigiu, polidamente ainda que com ar resoluto. A princípio não percebeu, julgara ter ouvido mal. Decerto um pouco intimidado ante o seu ar de incompreensão, o cavalheiro repetiu contudo:” Senhora Mélanie Beaumont, não é assim? Sou seu filho.”
   A princípio ficou como que paralisada. Depois, segurando-se nas pernas, olhou o moço bem de frente e começou ao mesmo tempo a reflectir. É que lhe achava um ar familiar. Ferdinand, o gascão de bigode fino e olhos indagadores? O Egobert, que era caixeiro e gostava da sua pinga? O Maubart, que apesar de aborrecido era bom sujeito? Não era capaz, digamos, de enquadrar a cara do moço numa recordação determinada.  
    Mas sorriu, já com a ideia fisgada de lhe fazer depois um interrogatório em regra. “E o senhor seu pai…como vai passando?” perguntou com natural delicadeza embora um pouco indecisa.
   Enquanto o rapaz lherespondia, esclarecendo-a que ele falecera pouco tempo atrás, a senhora Beaumont ia dizendo de si para si que já teria algo para contar à noite, no serão habitual com a vizinha Malverne.

Tradução de ns

The Moody Blues, For my lady



segunda-feira, 29 de junho de 2020

Para um minuto de meditação -14


ns, Cartão para painel de azulejos



 “O verdadeiro mérito é como os rios: quanto mais profundo, menos ruído faz”.

                                                                             Lord Halifax

Dois poemas de José Pascoal


Nicolau Saião, Sem título


dia de trabalho na capital


Em ruas de Lisboa
De que não sei o nome
Passam-se coisas muito estranhas.
Voam jornais velhos, facas e alguidares.
Passam, mesmo, camelos
Pelo buraco da agulha.
E vem gente de muito lugar
E muito cedo
Nos comboios do Rossio e de Santa Apolónia.
Voam jornais velhos, facas e alguidares.
Passam, mesmo, aves
Como no soneto de Sá de Miranda.
Que estranhas coisas se passam em Lisboa.

embora as folhas caiam
Embora as folhas caiam,
Os pássaros do Outono voam
Em círculos que anunciam
A chegada do Inverno.
Ao longo do caminho,
Espalho as minhas pedras,
Escolho os meus motivos,
Espero por melhores dias.
A cada passo, encontro
Uma flor esquecida
Pela voragem do Verão.
A cada passo, invoco
Da tua face escondida
O nome em vão.
                                                          José Pascoal

Em torno de Picasso


Pablo Picasso, Desenho


   Há um bom par de anos, em Paris, numa bela manhã de sol, passando em frente da “Maison Georges Brassens”- pequeno centro cultural erguido em celebração da memória do grande cantautor - ofereci-me o prazer de durante uns gratos minutos deambular pelo jardim próximo que é meio mercado de livros meio entreposto de curiosidades, cifrado nalgumas dezenas de padiolas onde se encontram resmas de fólios do quilate e género mais diversos, desde edições vulgares, ainda que interessantes, até relativas raridades.
     A certa altura, compreensivelmente surpreso, extraí de entre muitos outros um tomo que relanceei excitado: tratava-se de facto do conceituado “Dessins” de Picasso, na exemplar edição de Albert Skira, impressa em Lausanne/1967 para a colecção por ele-mesmo estabelecida e dirigida, “Le goût de notre temps”. Com texto introdutório de Jean Leymarie, ostenta na capa encadernada em linho branco-mate um belo desenho a caneta, de linha clara, de uma mulher deitada no pleno ar livre de uma praia sugerida apenas por dois traços horizontais.
    Nunca fiquei indiferente ao seu método de renovação da visão, a essa sua realidade por detrás do aparente, essa que nele existe em todas as direcções. O que nele sobretudo distingo é que a imaginação se apoia no real quotidiano. Nesse que contudo é movediço e cuja face brilha sob mil luas diferentes.
    Nesta conformidade, um pouco trémulo preparei-me para esportular se necessário uma continha calada. Congeminei mesmo pedir o socorro da sua bolsa ao confrade que me acompanhava, caso o meu erário não fosse suficientemente poderoso... Mas tinha de ter aquele livro!
    É que, bastantes anos atrás, eu escrevera num suplemento da capital lusa um textozinho precisamente assinalando a saída, de que tivera menção e notícia, desse mesmo livro que tinha nas mãos. Escrevera eu:
   “A pintura, neste caso a pintura do mestre malaguenho, mais que antecipar-se ao tempo tenta a todo o custo ser um salvo-conduto para a grande viagem que não nos vincula às contradições da sociedade.(…).
    Com alguma tímida esperança aproximei-me da vendedora, uma bela moça claramente chegada do Senegal ou doutra ex-colónia francófona. Inquiri do preço e, com a alma a cantar, fui informado de que custava...15 francos!
    Paguei sem regatear.
    Há pedaço, estive a folheá-lo pela enésima vez. De tempos a tempos, volto a ele: não só as reproduções a cores e a tinta-china são belíssimas (várias delas fazem parte da Suite Vollard), como o prefácio é exemplar.
    Nisto de convívio com os alfarrábios tenho tido, pelo tempo fora, grandes desditas e fortes alegrias.
    Esta, que aqui partilho convosco, foi uma das melhores e mais saborosas.

                                                                                                                         ns

Em equação


Nicolau Saião, Sem título



  Segundo informações difundidas por Richard Sturridge, investigador dos fenómenos ufológicos e antigo funcionário das AESCD norte-americanas, determinadas chancelarias mundiais, bem como um porta-voz da monarquia vaticana, teriam posto a correr nos mentideros confidenciais que as secções específicas dos serviços secretos daquelas entidades teriam recebido ordem ao mais alto nível para dissolverem as suas “task forces”, operacionais e muito activas até ao momento.

 No entanto, ainda de acordo com o escritor, que foi o primeiro a encontrar provas de interpolações falsas e posteriores no tristemente célebre "Blue Book Project", os governos ocidentais, bem como a Rússia e a própria China, têm permanentemente em acção equipas de análise dependentes dos respectivos serviços secretos militares.

 No que respeita ao Vaticano, desde o mandato de Karol Woytila - através dos seus Serviços Especiais - alega-se ter sido criada no denominado "Gabinete Interior" uma secção destinada a acolher, analisar e, em seguida, transmitir ao Santo Padre todos os factos que se afigurassem pertinentes.

  Entretanto, de acordo com Piero Lungi depois expulso aquando do caso protagonizado pelo Grupo Milénio que editou o livro "Bugie di sangue in  Vaticano", essa secção secreta teria estado, através de agentes “cloak and dagger”, em diversos países do sul da Europa, nomeadamente em Portugal - Aljustrel e região de Elvas - coligindo elementos para estudo e acção específica (false flag) eventual.

  Bento XVI manteve a secção em funcionamento, tanto mais que fora um dos 4 cardeais que teve conhecimento do segundo sobrescrito mandado abrir por Albino Luciani e referente aos acontecimentos de Fátima e depois subtraído antes do assassinato desse pontífice por um alegado konzern de altos funcionários eclesiais em estreita ligação com altos grupos argentários mundiais.

  Trata-se, assim, de um assunto sério e que está a merecer cada vez mais a atenção dos departamentos mundiais de "inteligentsia", que aliás vêm funcionando, de há um tempo a esta parte, com apoio ou ligação a departamentos reservados de institutos de estudo.

 Podemos, nesta perspectiva, questionar-nos porque se dá a estes casos, em grande parte, um tratamento estranho que poderia no mínimo classificar-se como algo leviano. Será a fase derradeira antes de em sequencia se entrar na fase de esforços extremos?

 Ou, pelo contrário, a intenção última é bem diferente? 

                                                                                    Jean Richard Lweff

Serge Reggiani, Pablo


quinta-feira, 25 de junho de 2020

Para um minuto de meditação - 13


ns



A verdade a que temos direito…

 “A objetividade no jornalismo não deveria existir, porque o dever supremo de um jornalista não é servir a verdade, mas sim a revolução”.

Salvador Allende, no 1º Congresso de Jornalistas de Esquerda, em 9 de Abril de 1971



1. “Sem verdade não há homens bons, nem governos estáveis, nem paz nas famílias, nem confiança nas almas”.
                                        
                               Alphonse Duchêne

2. “Aqueles que falam em liberdade e se arvoram comunistas, ou nos tomam por parvos ou são não mais que fanáticos, dado que o comunismo demonstrou ser ainda mais intolerante e repressivo que o capitalismo selvagem já de si prejudicial. Deixou milhões de mortos e de desgraçados em todos os lugares onde assentou arraiais. E agora que já se sabe tudo, desde as mentiras que perfilhavam até aos crimes que cometeram nas prisões ou fora delas, só o descaramento, a cegueira ou a perfídia explicam tal posicionamento”.

                               Henri Merrien
                                                          Jorge Gaillard Nogueira

Introdução e um poema de Gabriel Chávez Casazola





 Duas palavras

   Conheci Gabriel, o poeta Gabriel Chávez Casazola, homem de diversos mesteres mas todos postos sob o signo da cultura comparticipativa, de doação e de qualidade, em Fortaleza por ocasião da Bienal do Livro do Ceará.
  Senti nele personificadas a cordialidade, a modéstia e uma maneira de ser que raramente tenho encontrado – juntando a alegria a uma lhaneza singular que, no entanto, continha igualmente uma capacidade de se afirmar com tranquila fraternidade.   
  Pelos tempos, e já lá vão vários anos, não se perdeu este contacto e por isso me congratulo.
  Da sua Bolívia mandou-me recados e poemas, sinais que festejei como cumpria.  
  Neles mora o encanto e o respeito pelo seu país, a sua cidadania específica e, no seu contexto próprio, uma altíssima originalidade poética expressa numa escrita que me surpreendeu e me entusiasmou.
  É muito gratificante descobrir-se que uma pessoa que nos suscitou estima, pela sua postura pessoal, ainda por cima é um poeta de excepção. Daí que, de imediato, tivesse enviado o punhado de poemas que me cedeu a um outro amigo, Pedro Sevylla de Juana, com a sugestão de que os traduzisse.
   Acedeu de imediato.
   Como, por vezes, um trabalho a dois é estimulante e faz sentido, tive apenas ensejo de adequar minimamente as traduções ao nosso idioma, no retinto português de Portugal.
   Mas P.S.J. insistiu em que o meu nome figurasse no fim do acervo. E não pude furtar-me a fazer o que a sua caballerosidad ditou.
   Frente a estes poemas, quero endereçar a ambos um agradecimento: a um por os ter escrito, a outro por os ter traduzido.
                                                                                                                              ns


   Traducir es una labor literaria que me interesa como complemento de la  creación. Es necesario entrar  en el texto original muy a fondo; primero como lector y después como escritor. Más aún, cuando lo que se vierte a otro idioma es poesía. En ese caso hay que penetrar en el universo del poeta, hay que calzarse sus zapatos y ponerse su sombrero. Cuando el poeta es Gabriel Chávez, habitante de un mundo propio riquísimo, el trabajo queda compensado por el disfrute de los descubrimientos.  Así que con Gabriel , sucede que, si hay un deudor, el deudor soy yo. 
   Con mi amigo Nicolau, el equilibrio que no acepta por generosidad, se da en la suma de idiomas. Él afina mis textos pasados al portugués; y yo ajusto sus textos vertidos al español.
                                                                                                                               PSdeJ 
 

A canção da sopa

Nos tempos do meu avô as famílias eram grandes
Viviam em grandes casas – grandes ou pequenas, mas grandes,
Inclusive diminutas, mas grandes.

Comiam ao redor de grandes mesas
Mesas fortes, cobertas ou não de toalha comprida
Mas bem assentadas no chão.

Com colheres enormes comiam a sopa
Nos grandes meios-dias. A sopa tirada com grandes conchas de enormes sopeiras.

Reuniam-se juntos depois a ouvir a rádio, a tomar café, a fumar um cigarro
Sem grandes (nem pequenos) cargos de saúde ou de consciência.

A Mamã, bordando às vezes e às vezes tecendo, via sucederem-se os filhos e os netos
Num ininterrupto e grande bordado.

O Papá, a autoridade papá, chegava todas as tardes às 6
Montado num grande automóvel americano ou num grande cavalo ou com um grande estilo
de caminhar

Para passar a noite junto com os filhos e os netos que o tempo não tinha
interrompido,
Salvo aquele em que adoeceu, aquele em que se foi
Deixando um enigma e uma sensação de vazio – uma enorme sensação de vazio
Flutuando, com a fumaça dos cigarros - sobre a sobremesa do jantar.

Às vezes, nesses momentos, o papá, a autoridade papá, deixava de escutar os
sons da rádio e queria estar só consigo mesmo, simplesmente não estar
aí, talvez andar correndo por alguma distante estrada com uma loira parecida
com a mamã quando não era mamã, montado  num grande automóvel americano ou num grande cavalo ou com um grande estilo de caminhar ainda não humilhado pelo tempo.

A mamã por sua vez nalgumas sobremesas sentia um nó na garganta, um nó que depois saía flutuando da sua boca montado num grande suspiro, um enorme nó que se enredava no vapor de sua xícara de café, com umas volutas que lhe roubavam o olhar e a faziam desejar estar sozinha, simplesmente não estar aí, a escutar os prantos dos últimos filhos e dos primeiros netos.

Assim foram os anos, vieram os cafés e os cigarros e um dia a grande casa
foi ficando sozinha, as enormes sopeiras vazias, as colheres mudas de uma
enorme mudez que a filhos e netos nos perseguiu ao longo de milhares de
quilómetros de estrada, de cabo de telefone, de grandes ondas que já não se
medem em quilómetros.

Inclusive aquele em que adoeceu, o primeiro a partir Como cada um que bebeu dessa sopa foi alcançado pela mudez, que se
introduziu no seu peito pela grande boca aberta de um enorme bocejo.

Então
Comprou uma breve sopa instantânea
E entre as suas volutas
Permitiu-se um pequeno pranto.

Não podia comer a sopa. 
No seu diminuto departamento não havia uma só colher, uma só mesa bem
assentada, algo
Que vagamente pudesse parecer-se à felicidade e às suas rotinas.

Então pensou nos tempos do seu avô ou do meu ou do teu, quando as
famílias eram grandes
Viviam em grandes casas – grandes ou pequenas, mas grandes,
Inclusive diminutas, mas grandes
E viam suceder-se os filhos e os netos
Num ininterrupto e grande bordado
Com enormes fios invisíveis abraçando todos no ar.


                                                        Tradução de Pedro Sevylla de Juana
                                                                        Colaboração ns

Aos confrades, amigos, adeptos e simpatizantes

     Devido a um problema informático de última hora, não nos será possível fazer a postagem desta semana.    Esperando resolvê-lo em breve,...