terça-feira, 28 de junho de 2022

Dois textos de José Ribeiro

 


ns



   Penso hoje na casa da infância e do que estava perto!

   Em frente a casa dos tios Margarida e Faria e das primas Fernanda, Maria dos Anjos e Talita. Em frente do portão da casa a rua que ia para a fonte da aldeia. Já nessa rua a casa dos vizinhos Bízaros, o ti Anacleto, e os filhos. Nomes? Não chego lá com facilidade. Ao lado direito da nossa casa mais um vizinho em que recordo aquele que emigrou e num regresso meteu o meu pai e os meus tios no seu carro novo para uma viagem em que o carro subiu contra uma oliveira onde morreu o meu pai, nos meus 20/21 anos e nos 58 do pai José Ribeiro. Herdei-lhe o nome e algo mais estou certo! Da mãe fui o único filho que herdou a alcunha, fiquei o Zé Feijão, o filho da Maria Feijoa. Nenhum dos meus irmãos herdou esta alcunha. Para além disso eu era o Zézito para muita gente na aldeia. Essa casa já não existe e em seu lugar está a bonita casa da minha sobrinha Rute. Em frente da casa da minha sobrinha está omnipresente a Capela de Nossa Senhora da Ajuda do séc. XVII.    Esteve sempre lá. Nestas ruas à volta da casa se desenrolavam as nossas brincadeiras: o jogo das escondidas, o jogo do berlinde e do pião, o jogo da bola com meias e trapos, o jogo da malha quando começámos a crescer! Havia depois o cruzeiro do outro lado da capela. Mais para cima da capela ficava a casa do tio Adelino, a casa da avó Jacinta e à esquina da entrada para este pátio havia um alambique onde no inverno se fazia aguardente. Na casa da avó Jacinta também viveu a tia Isaura que tomava conta da capela e que casou com Cristo. Um dia em que vim de férias do seminário dos Dominicanos de Aldeia Nova vim cumprimentá-la com um beijo e ouvi uma espécie de recriminação que ainda hoje ressoa aos meus ouvidos: "não é preciso cá beijos"! E pronto assim fiz depois sempre: aí vai um aperto de mão em nome dos bons costumes e de Deus! Quase em frente da casa da infância mais do lado esquerdo ficava a casa do Diamantino Varão, da sua mãe cozinheira de casamentos e baptizados e do pai que ouvi um dia lá no meu quintal dizer para o filho: " o bacalhau é para quem trabalha!". Assim sem tirar nada...

   Talvez um dia esta ladainha continue por aqui se Nossa Senhora da Ajuda quiser!

                                                             

                                                            *

    Penso nos avós maternos e paternos hoje e não sei bem como aqui cheguei!

    Pelo lado materno o nome da avó era Ana e lembro-me bem dela na vinha a dizer-me que os ovos dos ninhos que estavam nas videiras não eram para tirar porque deles iam nascer novos passarinhos! Do avô materno, de seu nome Teodósio Antunes, sei algumas coisas, a importância de como cozinheiro, sobretudo dos casamentos e baptizados, ter um enorme peso na sobrevivência familiar, mais tarde acho que foi abalroado por uma camioneta e daí ter desaparecido antes do tempo! De qualquer modo lembro-me de estar ao colo dele num local onde hoje está a casa de uma prima e eu teria talvez 2 anos e picos! Sei como eu estava e sei o local exacto onde estava.

   Do lado paterno a avó Jacinta recordo-a na sua casa durante muito anos já depois da morte do meu avô Teodósio Ribeiro, morto na floresta por um raio num dia de tempestade! Visitei muitas vezes a avó na sua casa sempre à lareira. Morreu com mais de 90 anos!

 

 

REFLEXÃO SOBRE LIVROS E AUTORES

 

   Gosto de bons livros. Todos os bons livros, diz ele. O critério para aferir os bons e os maus é sempre subjectivo mesmo para quem escreve do alto da sua cátedra cheio de certezas. O sujeito que escreve vem depois. Pode ser homem ou mulher. Não me interessa o que faz na vida nem se tem o cabelo grande ou curto, se tem ou não tem piercings, nem qual a sua orientação sexual. Pode até ser famoso ou desconhecido.

   Nem sempre um livro que vende muito é bom e um livro que não vende pode ser bom ou mau.

   O sujeito que escreve um livro pode até ser um escroque? Pode. Pode ser uma boa pessoa? Claro, mas nem sempre o é. Por mim prefiro que seja boa pessoa e que escreva bons livros, mas na hora da leitura passo bem sem a sua simpatia. O mundo está cheio de maus tipos que escrevem bem. Por vezes um autor demora anos a ser reconhecido. Muitos morreram antes do reconhecimento. E o mais grave é que muitos morreram na miséria.   Em muitos casos o reconhecimento e o dinheiro chegaram bem mais tarde. Outros (muitos!) jazem já no grande rio do esquecimento.

   Gosto de bons livros, dizia. E o que é um bom livro? Deve alguém que se atreva a escrever dominar os sinais da escrita e organizá-los com a sua própria voz. É na organização dos sinais que se encontra a gramática própria de quem escreve, um caminho próprio, uma arquitectura para o poema ou para o livro. Sem esse trabalho não pode existir um bom livro nem que venda milhões de exemplares. Alguém com presença assídua na televisão só por isso já tem garantido algum sucesso de vendas, mas isso nada acrescenta à qualidade de um livro mesmo que a pessoa saiba piscar bem o olho! A qualidade é o que é!

   Quando Gustave Flaubert publicou a 1ª. ediçao de " L' Éducation Sentimentale" vendeu 150 exemplares. Dez anos depois o mesmo livro vendeu 150.000 exemplares. Mudou alguma coisa nestes dez anos? Sim, alguma coisa mudou, e mudou radicalmente o horizonte de expectativas do leitor em relação a este Autor. Razões para isso acontecer? Se eu soubesse escrevia sobre isso um livro para a posteridade, de preferência um bom livro.

 

(JAR)

 

   (Renomado livreiro e editor da icónica ULMEIRO, José Antunes Ribeiro continua a ser como sempre foi: activo, solidário e atento à Cultura viva na esteira de um mundo mais aberto e fraterno.

   Ao darmos a lume colaboração sua, saudamos a sua postura intemerata que não se deixa vencer pelas dificuldades que nacionalmente se põem à verdadeira gesta que é dar livros à estampa. - ns


Dire Straits, Why worry

 



terça-feira, 21 de junho de 2022

Para que a Terra não esqueça

 


João Garção



Será que sabem fazer mais do que sacudir a água do capote?

 

Serviços do SNS obrigados a fechar por falta de médicos. Milhares de alunos sem professores. Turistas horas à espera de entrar no país. PS governa há seis anos mas a culpa continua a ser dos outros.

É a ironia de uma política que se limitou a aproveitar o bom trabalho do governo anterior, a conjuntura internacional favorável e que foge das reformas como o diabo foge da cruz. Quando se tem como mantra, não resolver os “problemas estruturais” para reforçar a popularidade junto do eleitorado e manter-se no poder a todo o custo, adivinhem o que pode acontecer.

(Dos jornais)

 

    Costa é o grande responsável por tudo o que se está a passar. O homem é incapaz de fazer algo decente pelo país. A única coisa que sabe fazer são joguinhos rasteiros de bastidores e propaganda enganosa. Como gestor do país é um zero absoluto. Diria pior que zero, estará algures abaixo de zero pois nem sequer uma estratégia a 6 meses consegue ter e desenvolver para o país. A única coisa que o move é o benefício pessoal, o poder e consequentemente os votos que o fazem governar ao sabor do vento em plena navegação à vista. Demasiado mau para ser verdade mas apesar de toda a incapacidade até lhe deram uma maioria, terão o que merecem, a cauda da Europa garantida a breve prazo e o consequente empobrecimento do país, o colapso gradual dos serviços públicos e o aumento sistemático da carga fiscal. Viva o Peiésse!

PS - O povo também é tão responsável quanto Costa por tanta ingenuidade e por estar agarrado a políticas dos anos 70 num mundo completamente diferente. 

Luís Martins


Dois poemas de Radovan Ivsic

 




DE TUDO

 

De tudo o que sei

E que eu sei que tu sabes

De tudo o que vejo

De tudo o que ouço

Quando escuto o teu coração

De tudo o que tu me dizes

E que eu tanto amo

De tudo o que acontece

Quando fechas os teus olhos

De todos os sonhos

De todas as estrelas

De todas as nuvens

De tudo isso que sabes

O que me deixa mais feliz ainda?

De tudo isso que me deixa ainda mais feliz

É que eu sei que tu sabes

Porque tu sabes isso e eu também sei

 

Tu sabes que me amas

E eu sei que te amo também.

 

POEMA

 

Ainda que os teus seios sejam flores fugazes

as tuas coxas de erva balançam na minha mão

e os beijos são tão lentos como a claridade

lentos

E eu esqueço o peso e a dor

a tristeza das flores demasiado ao longe

para nos beijarem

e os meus dedos desfolham-se nas tuas espáduas

como se o vento os semeasse e eu morresse de ternura

em toda a parte

e de novo a minha mão corre o teu claro corpo

e os teus seios

que eu acaricio com o meu olho

nu

(Tradução de nicolau saião)


(Publicados anteriormente, pela primeira vez em língua portuguesa, na revista brasileira ACROBATA, inseridos num bloco mais extenso).


Na morte de João Rui de Sousa

 


João Rui de Sousa (12-10-1928 / 17-6-2022)


Os poetas não morrem porque aquilo a que alguns chamam morte é apenas registo civil, nada mais. Num país que conhece Camões pelo olho perdido, Bocage pelas anedotas e Bulhão Pato pelas amêijoas, é tudo relativo, embora de modo absoluto.

João Rui de Sousa estudou agricultura (Curso médio) na Escola Dom Dinis na Paiã (Pontinha). Mais tarde licenciou-se em História e Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Estreou-se em 1955 com poemas e um ensaio na Revista «Cassiopeia» ao lado de António Carlos, António Ramos Rosa, José Bento e José Terra.

Tem colaborado em importantes jornais e revistas literárias e tem poemas seus em diversas antologias e volumes colectivos. Publicou estudos sobre as obras poéticas de Adolfo Casais Monteiro, Eugénio de Andrade, José Carlos Gonzalez, Jorge de Sena, Fernando Pessoa e Mário Saa.

Publicou (entre outros) os seguintes livros: «Circulação» (1960), «A hipérbole na cidade» (1060) «A habitação dos dias» (1962) «Meditação em Samos» (1970), «Corpo Terrestre» (1972), «O fogo repartido» (1983), «Palavra azul e quando» (1991), «Enquanto a noite, a folhagem» (1991), «Sonetos de cogitação e êxtase» (1994), «Obstinação do corpo» (1996), «Respirara pela água» (1998), «Concisa instrução aos nautas» (1999) «Os percursos, as estações» (2000), «Obra poética 1960-2000» (2002), «Lavra e pousio» (2005) e «Quarteto para as próximas chuvas» (2008).

Do livro «Respirare attraverso l´acquq» organizado por António Fournier e Alessandro Granata Seixas (Edizioni dell´Orso) citamos dois poemas: primeiro «Agricultura» do livro «Corpo terrestre» (1972): «É preciso recolher as vagens/e dispô-las no chão./ É preciso beijar as plantas/ou cortá-las ao meio. /E ter sempre uma enxada/uma discreta atenção. /ao silêncio da terra/ao calor das abelhas. /Roubar à seara limpa/a planta podre. /e queimar essa planta/em eira aberta. /É preciso a visita do sol/o diálogo da chuva. /É preciso a vertigem da esperança/e esperar com amor. /Descobrir – mais tarde - /a volúpia da rega. /E ser o último a abandonar o campo». O segundo é um excerto do poema inédito até 2014 «Em louvor de Giacomo Leopardi»: «Que significa a vida? Para que serve/ o esforço, a luta, a esperança. O gesto/de desprezo ou de amizade, o estar/ em palco só para que outros vejam/algum possível brilho ou mesmo um escorrer/de oculta petulância, a esconder fraquezas/(que são tantas) da nossa compleição/ tão frágil?»

José do Carmo Francisco    

 

Um adeus alentejano

   Foi com alguma surpresa e absoluta emoção que recebi, de José do Carmo Francisco, a triste notícia do falecimento do poeta e amigo de quem, reiteradamente e através do tempo, recebi diversas manifestações de apreço fraternal – ora através de conversas amenas veiculadas pelo telefone, ora em directo e de viva voz quando em deslocações minhas a Lisboa nos encontrávamos no Café da nossa preferência.

  Foi ele quem me apresentou aos leitores na minha primeira aparição em volume, no caso a antologia “Sete poetas portugueses contemporâneos” editada pela Átrio do comum confrade e amigo José Manuel Capêlo, tendo tido a meu respeito palavras escritas que não me esquecem. Depois, já em voo de cruzeiro - no meu terceiro livro “Os olhares perdidos” – foi ele quem fez a Introdução, perspicaz e competente dada a sua qualidade como ensaísta.

   E colaborou sempre generosamente nas iniciativas em que me cifrei, ou sejam o “Suplemento Cultural” que eu orientava no “Notícias de Elvas ou o “Fanal”, que co-coordenei no “O Distrito de Portalegre”.

   Notável poeta, ensaísta de fina água, crítico arguto e companheiro extremamente afável, relembro-o com saudade agora que partiu com a bela idade de 94 anos. O “velho” abraço, caríssimo confrade João Rui de Sousa!

nicolau saião


Scorpions, Always somewhere

 



terça-feira, 14 de junho de 2022

Para que a Terra não esqueça

 

Líder norte-coreano expressa “total apoio” a Putin


O líder norte-coreano Kim Jong-un manifestou este domingo “total apoio” ao Presidente Vladimir Putin por ocasião do Dia da Rússia, informou a agência de notícias oficial da Coreia do Norte KCNA.

Kim Jong-un enviou uma mensagem de felicitações a Putin e ao povo da Rússia no dia em que se celebra a independência do país, apontou a KCNA.

Sob a liderança de Putin, disse Kim, a Rússia “conseguiu ousadamente ultrapassar todo o tipo de desafios e dificuldades” enfrentados “na realização da justa causa da defesa da dignidade, da segurança e do direito ao desenvolvimento”.

Sem nunca mencionar a guerra na Ucrânia, o líder norte-coreano reafirmou “a amizade entre os dois países”, que “tem sido transmitida através de uma longa história”, revelando ainda vontade de “expandir e desenvolver” essa relação “de acordo com as exigências da nova era e as aspirações dos dois povos”.

(Dos jornais)

 

  Diz-me com quem andas…

  A.Carnide

 

  Outra coisa não seria de esperar... Dois ditadores carniceiros!

 António Afonso

 

  Bernardino Soares também apoia e Jerónimo já tem tudo preparado na festa do Avante. O Museu da Resistência e da Liberdade dirigido por uma comunista (!!!) também deve apoiar...

 Luís Mota


Joaquim Simões, Três disposições

 


ns



Disseste

 

Tudo está bem   a estrela

brilhando para se guiar

o sol que adormece na beirinha do mar

a ave leve sobre a rama

 

agora a chuva

iluminando os silêncios do amor

e em cada gota de riso e suor

um arco-íris a brilhar que nos chama

 

lá do lugar

onde o Tempo se pôs a sonhar

com a história em que se há-de achar

este tempo que foi dado aos dois

e é nossa antes e depois

 

 

Poema ecológico

                             para os do costume

 

De ti, não vemos a cara,

só dás rosto ao rosto infecto

de uma praga, de um insecto

que se espalha pelo país

e nos destrói a raiz,

 

que fala e soa a soneto

que não é branco nem preto,

porque é de bicho-careto.

 

Levas esta versalhada,

não serves para mais nada.

 

 

Sem título

 

Ao perguntar-me, há bocado,

se sonharia, julguei

sentir-me todo encostado

a um eu de um qualquer lado,

de que nunca suspeitei.

 

Como se esse eu fosse alguém

a quem estivesse colado

costas com costas. Porém,

não vi nada nem ninguém,

ao virar-me, admirado.

 

Para o que desse e viesse,

esbracejei à minha volta,

em busca do que pudesse

estar escondido e me quisesse,

alma penada ou à solta.

 

Não sei bem o que me deu,

chamei por ele… por mim…

Mas ninguém me respondeu,

apenas um eco meu

que parecia rir, no fim.

 

Confuso, meio receoso,

pior ainda: irritado,

fiz-lhe caretas de gozo

que, eu cá, nunca fui medroso,

nem estou para ser gozado.

 

Mas nada, nada buliu

perto ou longe dali,

nada chegou ou fugiu

nem se fechou nem se abriu...

Fiquei-me, não insisti.

 

Será que sonhei um sonho?

Não será original

e não chega a ser medonho…

Uns copitos de medronho

e a coisa passa. Afinal...


Nicolau Saião, Henrik Edstrom ou A reconversão do universo

 


Henrik Edstrom, Em busca da estrela (col. ns)


   Todo o verdadeiro pintor é de facto um demiurgo. E, como referiu Pablo Picasso, “mais que o inspirado é aquele que inspira”. Que inspira o desejo de uma nova visão, de uma nova formulação e, ao mesmo tempo, fornece as faculdades interiores para que tal seja não só possível como concretizável.

   Mediante as cores e as formas com que se erguem os sinais dos três reinos da natureza, o que este pintor lírico e surrealista visa é transfigurar a existência em algo de significativo e de salubre, indo para além das condicionantes sociais e humanas. Uma vez que a pintura autêntica é uma alquimia espiritual, que transforma e que faz permanecer na existência quotidiana os signos que a sustentam e através dela permanecem no mundo.

   Sendo um filho da Europa do Norte, Henrik Edstrom. aprendeu bem cedo as lendas dessas terras onde os gnomos e as fadas dos bosques vivem paredes-meias com os habitantes dos jardins, onde os turbilhões de neve nos deixam adivinhar figuras mágicas ao crepúsculo das povoações. Onde as cores e os traços, por seu turno, nas tardes de sol e de bom tempo possuem uma exactidão precisa e luminosa.

   Porque dá mais facilidade de manejo, sendo mais libertador do gesto uma vez que confere mais rapidez à execução, o pintor utiliza preferentemente o guache e a aguarela, como nas obras (uma série de 24 pinturas encantadoras e plenas de frescura) com que ilustrou os poemas do grande poeta húngaro Attila Joszef.

   Henrik Edstrom, através da sua paleta tão sabedora e livre como o coração duma criança, viaja pelos mundos onde dá gosto viver, mas com o conhecimento que de tal pode ter um animal quotidiano ou fabuloso entre os bosques e jardins dos nossos afectos vitais.



Henrik Edstrom, O gnomo feiticeiro


   Nele habitam o poeta e o artista - que as cores e seus prestígios revelam como num encantamento que a todos é, afinal, íntimo e comunicativo.

  Tive o gosto de o conhecer na biblioteca municipal, em Portalegre, onde veio há um par de anos expor uma surpreendente série de 46 óleos, guaches, aguarelas e colagens. Eu cumpria ali os meus últimos dias de funcionário.

  Durante duas horas, na sua voz suavizada pela idade, mas firme e sugestiva como os versos do Kalevaala que aliás teve o ensejo de ilustrar, falou-me de lendas da sua terra, de projectos e de maneiras de pintar – pois este pintor-poeta é de igual modo um fabro, um hacedor no plano das matérias, da forma concreta pela qual se exerce a arte de efectivar uma obra que haverá de andar nos dois planos do tempo: a que se palpa com os olhos e a que se observa com os dedos das mãos. Adicionalmente, a que – como a ars magna, a opus primae – reside e se reconhece no plano da alma, como nos disse Eyrinée Philalète.

   Dias depois – já ele voava de regresso a Anneberg, onde nasceu em 1937 - sem que para tal eu houvesse feito algo de assinalável vieram trazer-me ao gabinete um embrulho relativamente volumoso. Abri-o com expectativa. Continha dois quadros belíssimos e, num bilhetinho, vinham os seguintes dizeres: “Para o amigo NS intitular como achar melhor”.

  Estão hoje na sala da minha casa de Portalegre. Chamam-se, com efeito, “A partida para a ilha” e “O príncipe colhendo a estrela” e epigrafam duas passagens do Kalevaala.

  Foi a fórmula mais adequada que encontrei para lhe agradecer.


Kalevala, Nagryanuli

 



terça-feira, 7 de junho de 2022

Para que a Terra não esqueça

 

O "Carniceiro da Síria" desapareceu na Rússia.

Foi afastado por Putin,

abatido pelos ucranianos

ou eliminado pelo Kremlin?

 

Há duas semanas que o general Dvornikov não é visto. Já terá um sucessor, o general Zhidko. Rotação normal, como acontecia na Síria, ou será mais um dos generais mortos pelos ucranianos?

A questão que se coloca é o que terá acontecido a Aleksandr Vladimirovich Dvornikov. Conhecido como o “Carniceiro da Síria”, devido à quantidade de mortos civis que fez em Aleppo, durante a guerra naquele país, uma das suas primeiras ordens, ao ganhar o controlo das tropas na Ucrânia, terá sido também um massacre: o ataque com mísseis a uma estação de comboios em Kramatorsk, onde morreram mais de 50 civis, incluindo 5 crianças.

(Dos jornais)

 

  Os generais Russos estão a ser caçados na Ucrânia, coisa nunca vista desde a segunda grande guerra mundial, é normal que os generais que estão a participar na criminosa invasão da Ucrânia tenham mudado de estratégia e estejam a comandar as tropas, protegidos em bunkers ao estilo do psicopata nazi do Putin aonde nada lhe falta. Quem se lixa são os soldados que são carne para canhão, nem sequer se dignam a recuperar os cadáveres espalhados pelos campos de batalha.

  Já se fala em mais de 8 generais Russos mortos devidamente confirmados a Ucrânia já diz que foram 12.

  Um exército super-desmoralizado como o é o exército russo é fácil os seus comandantes e generais morrerem de "morte súbita" e violenta, simulando que foram abatidos pelo exército Ucraniano. 

Anti Ditadores


José Carlos Costa Marques, Poema setenta e seis

 


Greta Knutson



Fantasma de mim mesmo nestas ruas de outrora

Onde está aquele que hoje por elas caminha?

O que foi só miragem mas o que nela presente

E pressente a dimensão da luz?  O que nunca emigrou?

O que retorna sobre seus passos e rasto nenhum encontra

Da realidade ou irrealidade

Ou mortiça penumbra esquálida a um canto da memória

Rio dividido em duas águas o teu tempo

Duas metades hiantes de uma ferida que não cola

O teu olhar esse é inocente do fosso que atravesso

Fantasma no tempo mas carne da tua carne

Mas na carne do teu presente onde vivo agora

Em ti a vida vive que me levará da carne

Até ao sossego maior

Levado pela tua mão ao mais belo abandono.

 

in “Por outras palavras”


Gaspar Garção, Quatro fitas, quatro textos

 


ns



1.

“Umberto D.”, realizado por Vittorio de Sica em 1952, é um filme “bandeira” do neo-realismo, movimento cinematográfico que retrata a pobreza, o desespero e a esperança da Itália no pós-II Guerra Mundial, mas é também um melodrama intemporal, em que a dignidade e a solidariedade do ser humano estão presentes em todos os frames, e nem o facto de ser um filme duro, intransigente e demasiado verdadeiro, nos leva a amá-lo menos.

Se Vittorio de Sica é hoje em dia claramente subvalorizado, dentro do panorama cinematográfico italiano, muito atrás dos génios Fellini, Antonioni, Rossellini e Visconti (podendo ser considerado como um autor de “segunda linha”, na honrosa companhia de Pasolini, Risi, Scola e Ferreri, por exemplo), foi um dos grandes responsáveis pela visibilidade em Hollywood do cinema de autor europeu e mundial, no pós-guerra: filmes como “Sciuscià - Engraxador de Sapatos”, de 1946 e o magistral “Ladrões de Bicicletas”, de 1948 (vencedores de um Óscar Especial), co-escritos pelo grande Cesare Zavatinni, foram fundamentais para levar a Academia a criar, em 1956, o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro (que venceu ainda mais duas vezes, com “Ontem, Hoje e Amanhã”, de 1963 e “Il Giardino dei Finzi Contini/O Jardim onde Vivemos”, de 1970).

Numa obra vasta, com cerca de três dezenas de filmes como realizador e quase duas centenas como ator, De Sica realizou principalmente dramas e “commedia all' italiana”, geralmente num cenário contemporâneo, destacando-se ainda “O Milagre de Milão”, de 1951, “O Ouro de Nápoles”, de 1954, “La Ciociara/Duas Mulheres” (que deu o Óscar de Melhor Atriz a Sophia Loren), de 1960, “Sete Vezes Mulher”, de 1964, e “Matrimónio à Italiana”, de 1967.

“Umberto D.” (que apesar de nomeado para o Óscar de Melhor Argumento Original e ser a obra mais amada pelo seu realizador, foi um fracasso de bilheteira), é um filme cheio de angústia e de solidão, uma solidão que Umberto D. apenas alivia nos passeios com o seu cão Flike, ou nas conversas com a gentil empregada do seu prédio, de onde está prestes a ser despejado. O ator principal, interpretado por Carlo Battisti (um ator não-profissional), poderia ter sido perfeitamente interpretado pelo próprio Vittorio de Sica, embora este estivesse habituado (e ficado rotulado) aos papéis de nobre, de bon vivant e de trapaceiro, ele que nasceu em Nápoles, cresceu na pobreza e começou muito cedo a trabalhar, tal como Umberto D., no funcionalismo público “cinzento” da Itália fascista.

E todo o final deste assombroso e impiedoso filme é Chapliniano, no sentido em que as personagens dos filmes de Charles Chaplin, mesmo à beira dum abismo existencial e material, conseguem encontrar algo, uma centelha de empatia, de calor humano (ou animal), que os leva a querer viver, a lutar pela sua dignidade, a esperar por um novo nascer do sol…

2.

“Per un pugno di Dollari”, de Sergio Leone, é um filme dominada pela palavra “tríptico”: sendo o primeiro “movimento” da trilogia temática dos “Dólares”, é talvez o mais mal-amado, em comparação com as obras-primas “Per qualche Dollaro in più/Por mais alguns Dólares” (1964) e o icónico “Il Buono, il Brutto, il Cattivo/O Bom, o Mau e o Vilão” (1966). É também uma das três versões cinematográficas essenciais, livremente inspiradas no livro “Red Harvest/Ceifa Vermelha” (1929), de Dashiell Hammett (as outras duas são o grande clássico “Yôjinbô/Yojimbo, o Invencível” (1961), de Akira Kurosawa e o assombroso “Miller’s Crossing/História de Gangsters” (1990), dos Irmãos Coen). “Dollari” põe em confronto um triângulo violento na vila de San Miguel: dois centros de poder, duas famílias com uma contenda (os Rojos e os Baxters), e o elemento catalizador da trama, o ‘Homem sem Nome”, interpretado por Clint Eastwood.

E é um filme “ensombrado” pelos três génios que o moldaram: Leone, Eastwood e Ennio Morricone.

Muito haveria a dizer sobre esta obra magnífica e algo subvalorizada, mas sendo este um ciclo sobre bandas sonoras, porque não falar do grande Morricone?

Aos 90 anos de idade, a sua lucidez e o seu espirito de “Missão”, levam-no a fazer concertos pelo mundo fora, onde a música da trilogia dos “Dólares” ocupa papel de relevo, assim como as suas muitas partituras para filmes Giallo, outros Western Spaghetti, clássicos europeus, clássicos de Hollywood…

Numa lista inesgotável, destacam-se as bandas sonoras que fez para Leone, além dos três filmes com o “Homem Sem Nome”. São três composições absolutamente brilhantes e intemporais: “C'era una volta il West/Aconteceu no Oeste” (1968), “Giù la Testa/Aguenta-te, Canalha” (1971) e talvez a mais bela de todas (e uma das mais belas da história do cinema), “Once Upon a Time in America/Era uma Vez na América” (1984).

Em “Per un pugno di Dollari”, o assobio icónico e a guitarra dedilhada suavemente por Alessandro Alessandroni, as flautas distintas e cortantes e o coro masculino de ‘Titoli”, o tema inicial/leitmotiv do filme, transportam-nos imediatamente para as cenas iniciais, e a disrupção do status quo pela personagem “sem nome” de Eastwood, ao chegar a San Miguel.

Mas este filme é um todo orgânico: os cenários e as deslumbrantes paisagens do deserto de Tabernas, na província espanhola de Almería (onde tantos Western Spaghettis foram filmados), as interpretações (destacando-se o grande Gian Maria Volonté, creditado no filme como John Wells), o argumento, a fotografia, a montagem, a realização magistral de Leone e, por fim, o “cimento” que tudo junta, a música de um génio, nascido em Roma em 1928, e que neste filme é creditado como Dan Savio, mas que todo o mundo conhece como “il Maestro”…

3.

“Tinker, Tailor, Soldier, Spy”, adaptado do grande romance de John Le Carré, um dos seus melhores livros, a par de “O Fiel Jardineiro” e “O Espião que Saiu do Frio”, também adaptações cinematográficas essenciais, é um filme cheio de silêncios, de nuances e de expressões faciais onde a verdade se oculta, e em que a luta entre mentes brilhantes e seres que vivem na sombra não decorre abertamente, mas num mundo crepuscular e traiçoeiro. Estas personagens são os mestres da espionagem de dois blocos antagonistas: um, o Ocidente, através do taciturno mas eficaz George Smiley; outro, o Leste, essa Cortina de Ferro que o gélido e impiedoso Karla representa (neste filme apenas uma voz incorpórea, ainda mais perturbante), o mágico por detrás da cortina de fumo soviética.

Esta luta não é uma luta pelo coração e a mente dos povos, nem uma luta ideológica e económica, nem sequer uma luta com regras e fair play, o “Grande Jogo”, que era o jogo dos espiões na época de Sherlock Holmes, mas sim uma luta moral.

Por toda a magistral obra de Le Carré perpassa um sentimento de desconforto, de dúvida, de incerteza, sobre o papel que ocupamos no mundo, o que está certo e errado, e quem luta pelo lado “certo” e “errado”, se na realidade há diferenças entre ambos, e onde se delimita a “linha na areia”. Smiley, um funcionário público aparentemente cinzento, mas de uma perspicácia mental digna de um Hercule Poirot, traça essa linha precisamente na traição, a linguagem dos espiões ao longo da história, mas que não deixa de considerar como blasfema, na sua bússola moral (que tem também norteado Le Carré ao longo da sua carreira), já que é uma traição aos colegas, companheiros e amigos, muito mais grave que a traição a “Queen and Country”.

Através de uma teia de intrigas fascinante, de um jogo de sombras envoltas no nevoeiro da Guerra Fria, vamos conhecendo as personagens fulcrais deste filme: Control, o líder, doente e aparentemente derrotado, mas que é feito da estirpe que fez os ingleses sobreviver ao Blitz (assombroso e fantasmático John Hurt), e os possíveis suspeitos de uma traição imperdoável, a “Toupeira” do título: Toby Esterhase (David Dencik), Roy Bland (Ciarán Hinds), Bill Haydon (Colin Firth), Percy Alleline (Toby Jones) e George Smiley (que Gary Oldman interpreta de forma fascinante, reprimida, seguindo as exemplares pegadas de Alec Guiness, que interpretou Smiley na minissérie da BBC dos anos 70).

Smiley, aparentemente o espião perfeito, imperturbável e analítico, o típico exemplar da fleuma britânica e da tradição do “civil service”, um jogador de xadrez que, tal como a sua Némesis Karla, move e manipula “peças” humanas com a destreza de um Mestre, tem no entanto uma fraqueza, que conhece, mas que ele próprio não se apercebe ser tão grave (para um espião), e é essa fraqueza (humanidade?) que o torna cego ao jogo duplo da “toupeira” à sua frente.

Se no cinema noir, a chave para descobrir o enredo era o célebre mote “cherchez la femme”, no mundo da espionagem, dos duplos e triplos agentes, que nos trouxe personagens tão icónicas como James Bond, Harry Palmer, Jason Bourne, Ethan Hunt e Jack Ryan, será mais acertado dizer “cherchez le espion”…

                                        (Folha de Sala, do Cineclube do Porto)

 

4.

“The General”, conhecido em Portugal pelo título de “Pamplinas Maquinista”, é um filme mudo, realizado em 1926 por Buster Keaton e Clyde Bruckman e, curiosamente, estreado na noite de 31 de dezembro, em duas pequenas salas de cinema de Tóquio, tendo depois a sua estreia oficial em março de 1927, nos Estados Unidos, e em fevereiro de 1929, no nosso país (sob o título inicial de “A Glória de Pamplinas”).

“Pamplinas Maquinista” é, apesar dos seus quase 100 anos de idade, um filme intemporal, que continua fascinante e imprevisível, a par de “O Garoto de Charlot”, um dos filmes mais populares do cinema mudo, e é unanimemente considerado pela crítica como o melhor filme de Keaton, e um dos apogeus dessa era quase esquecida da 7ª Arte.

Tal como José Régio, um ardente admirador de Buster Keaton e deste filme, afirmou, em maio de 1927, no número 4 da revista Presença, o genial ator “é talvez o maior fantasista e o maior excêntrico dos seus camaradas”, afirmação feita numa comparação com Charles Chaplin, Harold Lloyd e os outros génios desta época de ouro cinematográfica.

Keaton foi também admirado e reverenciado por muitos dos seus contemporâneos, tais como Orson Welles, o autor de “Citizen Kane - O Mundo a seus Pés” (muitas vezes votado como o melhor filme da história), que considerava precisamente “Pamplinas Maquinista” como “talvez o melhor filme alguma vez realizado” e Salvador Dalí, que rotulou os seus filmes como “pura poesia anti-artística”.

No entanto, é assombroso que “Pamplinas Maquinista”, uma obra-prima absoluta, tenha sido o maior fracasso da carreira de Buster Keaton, levando-o a perder a sua independência artística. Nos anos seguintes, Keaton tornou-se mais uma das “lendas esquecidas” da velha Hollywood (papel que ele brilhantemente parodiou no filme “Limelight/As Luzes da Ribalta”, do seu amigo Chaplin, em 1952).

Buster Keaton foi posteriormente “perdoado” pela Academia das Arte e Ciências, que lhe atribuiu um Óscar Honorário em 1960, tendo sido depois resgatado pela crítica francesa da Nouvelle Vague, em meados dos anos 60, sendo um dos favoritos de Jean-Luc Godard e François Truffaut, tal como o eram os herdeiros espirituais de Keaton: Jerry Lewis e Jacques Tati.

Mas já Régio crítico de cinema, no ano do filme, escrevia, a propósito das suas obras anteriores: “a imaginação é o que há mais de doido e sôfrego em nós. Buster Keaton, Pamplinas, homem que nunca ris para que os outros [o] faça[m]”.

“Pamplinas Maquinista” é, de facto, o culminar de uma obra fílmica genial, tanto em termos de realização, fotografia e montagem, com uma depuração de estilo extrema, que se cinge ao essencial, como na utilização dos cenários e das bandas sonoras e, principalmente, na perfeição absoluta dos seus gags, com um timing milimétrico e plenos de acrobacias fascinantes, que só têm rival no outro génio absoluto da época, Chaplin.

Entre 1923 e 1928, a sua produção fílmica inclui 10 longas-metragens, que só muito tardiamente foram reconhecidas, a par da obra de Charles Chaplin, de Serguei Eisenstein, de Fritz Lang, de F. W. Murnau, de Carl T. Dreyer e de D. W. Griffith, como os alicerces do cinema mudo, e que hoje em dia continuam tão frescas e originais como no dia em que foram projetadas à manivela.

O filme que iremos hoje ver, de uma autenticidade histórica e de atenção aos pormenores que ainda hoje impressiona, é baseado num acontecimento real da Guerra da Secessão Americana, a guerra civil que entre 1861 e 1865 dilacerou os Estados Unidos, entre um Norte, industrializado, progressista e sem escravatura, a União; e um Sul, onde os “velhos costumes”, as tradições sulistas e a independência frente ao estado Federal, mascaravam a ignomínia da escravatura e da exploração laboral dos negros, o sustentáculo destes estados do Sul americano, a Confederação.

Curiosamente, Keaton interpreta uma personagem do lado “errado” dos carris, um Sulista que resgata uma locomotiva confederada, roubada por soldados da União, e que no entanto é, como não podia deixar de ser, um arquétipo de todas as personagens que interpretou, “O Homem que nunca ri”, mas que nos faz rir, com as suas expressões faciais (ou melhor dizendo, a ausência das mesmas), e a sua linguagem corporal admirável, que é em si mesma um tratado da arte de fazer humor, herdeira do “slapstick/paródia” dos inícios do cinema mudo.

Referindo-se à sua obra em geral, mas não a este filme em particular, que como já foi referido, só estrearia em Portugal dois anos depois do artigo da Presença, Régio, sempre perspicaz, define a obra de Buster Keaton em poucas frases: “os seus cenários entram nele, como ele sai para os seus cenários, e a resistência da matéria ou o poder dos elementos são colegas com quem ele brinca, luta, sanha… A sua fantasia vai do burlesco ao macabro, apanha este mundo e os outros. Cómico? Ele diverte como poucos; mas, como Charlot ultrapassa o cómico por ser um grande poeta”.

Como o próprio Keaton referia, numa entrevista dos anos 60, em que com humildade extrema recusava os epítetos de “génio”, e honrando os seus inícios no mundo do Vaudeville, a sua ambição foi “sempre apenas a de fazer rir, de conseguir as gargalhadas”.

Concluo esta minha breve apresentação, mais uma vez, com as prescientes opiniões de José Régio, em que o crítico se confessa: “tu estás mais ou menos a ditar-me estas coisas. Tenho a meu lado a tua máscara longa e séria – esculpida em madeira?, em pedra?, em osso?, em carne?, por um Deus excêntrico ou por um artista negro. Essa máscara, não sei se ela é um processo, uma confissão, ou uma ironia. Mas eu também estou a ser muito sério quando falo de ti. Não obsto a que me apeteça brincar um pouco…

Falar de Pamplinas, como, sem pintar as ideias com um pouco de fantasia?”.

 

(Texto lido no Centro de Artes do Espectáculo de Portalegre, no âmbito do Ciclo “Cinema e José Régio”, integrado no programa da evocação do cinquentenário da morte de José Régio, organizado pela Casa Museu José Régio - junho de 2019)


Charles Chaplin, Luzes da ribalta

 



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