segunda-feira, 8 de março de 2021

Para um minuto de meditação - 72

 


ns, Os Filhos da Nação



Voltar a ser “radical”, largar a obsessão por “lugares” e os “objetivos pequeno-burgueses”: o que exigem os críticos internos do BE.

(Dos jornais)

 

   A célebre «revolução permanente», tendo em vista a substituição de uma direcção aburguesada... por uma nova direcção a aburguesar.

   Uma anedota bem triste, da parte de moçoilos e moçoilas desprovidos de quaisquer méritos intelectuais ou académicos, e que, nascidos em berço de ouro, teimam em ludibriar os cidadãos mais pobres e ignorantes, culpando insistentemente o «grande capital» que tanto gostam de alimentar. É vê-los, nos pátios das faculdades, a fumar Marlboro e beber Coca-Cola.

   Em todo o caso, confirmam-se as minhas suspeitas: o sr. Bernardo Ferrão, em conluio com Fernando Rosas e Francisco Louçã e Mariana Mortágua, tem trazido o BE de volta à ribalta, assim pretendendo substituir o Chega! e outros por um partido que, tendo sido cúmplice de crimes governamentais, dificilmente voltará a conquistar a confiança dos eleitores. 

Tiago Queirós


Dois poemas de José Pascoal

 

O MUNDO FECHADO

 

Não sei o que faço aqui,

Neste bocado de chão

Comido pelas formigas,

Nesta hora cinzenta

Como o asfalto gasto da estrada,

Nesta página atravessada

Por soluços e relâmpagos.

Não me interessam

As notícias do desengano

E do desempenho,

Não me interessam as vozes

Que clamam por doses bem servidas

De raiva,

Não me interessam os interesses.

Mas ainda não sei o que faço aqui,

A fazer de eu mesmo,

Porque sou eu mesmo

E o meu medo

De não ser reconhecido por ti

Na rua dos teus passos.

 

 

APARELHO AUDITIVO

 

Falamos muito do silêncio

E não nos damos conta do ruído

Das cidades em chamas.

 

Cantamos de cabeça descoberta

Canções antigas como a terra

Do fogo e do diabo.

 

Só ouvimos a música dos poços

E dos pântanos secos na memória,

Depósito de sombra.

 

Até que a Ceifeira nos seque a palavra.


António Mourão, Que povo é este, que povo

 



quinta-feira, 4 de março de 2021

Para um minuto de meditação - 71

 

Desiste de traduzir poema por não ser negra

     Escritora ia traduzir poema lido no dia da tomada de posse de Joe Biden, pela jovem poetiza Amanda Gorman, mas começaram a chover críticas nas redes sociais por ela não ser negra.

(Dos jornais)

 

  Eu chamaria a isto racismo do mais hediondo. Para traduzir um poema de uma poetisa americana é preciso ter em linha de conta a raça? A raça é chamada para isto? Então poderíamos concluir que dar um emprego ou admitir um casamento, que são situações muito mais permanentes e com aspectos vivenciais mais fortes, por maioria de razão, deveriam ter também em linha de conta a raça. É racismo puro, cru e duro e como tal deve ser considerado e apontado a dedo.

Luis Teixeira-Pinto


   Tenho traduzido, e publicado, de há vários anos autores negros, em vista simplesmente do seu valor e alta qualidade. Sem levar em conta, claro, a cor da sua pele. Será que doravante apanharei em cima com proibição de o fazer? Mas que imbecilidade é esta? Ou será, isso sim, uma atitude de cunho totalitário? Como dizia Shakespeare, algo está de facto pôdre neste reino duma “Dinamarca” absurda que buscam incrementar.

   Impõe-se que, sem nos intimidarmos, repudiemos estas manifestações de simples velhacaria mal orientada.

Nicolau Saião


    De notar a cobardia moral da tradutora, especialista galardoada que tinha sido indicada pela própria poetisa, que após ser atacada pelos “activistas” nas redes sociais se apressou a pedir desculpa (?).

   Um episódio sinistro, que demonstra como o supremacismo negro é tão repugnante como o supremacismo branco.

Lúcio Teles Maia


Dois poemas de José do Carmo Francisco

 


Fernando Aguiar



A água de 1956

 

Na manhã de Abril

quando não me disseram

(nem poderiam ter dito)

«A tua mãe morreu»

Porque (todos o sabemos)

as mães de facto não morrem

apenas o seu corpo se esconde

nos degraus da terra e do silêncio.

Nessa manhã de Abril

senti que toda a terra secou

não toda a terra mas apenas

a que ficou entre os meus pés

e a terra propriamente dita.

Lembrei-me então de como

essa secura só poderia ser

de facto resolvida pela água

uma certa água de 1956

trazida em cântaros vermelhos

do Poço do Povo para os louceiros

com dois intervalos para o bojo.

Havia um pano branco a tapar o sol

que entrava por uma telha de vidro.

Havia uns papéis com motivos berrantes

a servirem de naperon nas prateleiras.

Havia o ar, o peso do ar de 1956

e só a memória desse ar me segurou.

Havia uma rodilha feita de um lenço azul

comprado na Feira Grande de Rio Maior.

Havia (enfim) a água de 1956

aquela que hoje me poderia matar a sede

ou resolver de vez a secura da terra

debaixo dos meus pés suspensos

como naquela manhã de Abril.  

 

Poema sem direcção nem código postal

A rua onde te encontrei de raspão

A sair e a entrar de um autocarro

Foi rio de lavadeiras de sabão e pedra

E canções de galeras velozes na estrada.

Hoje estou arrependido de ter dito adeus

Tão depressa entre as duas portas de fole

Sem tempo para pedir a tua direcção actual

E o código postal respectivo e obrigatório.

A vida é um mistério, nunca um negócio

Quarenta e oito anos depois fiquei calado

Quando deveria falar de moradas e de ruas

E dar-te ao mesmo tempo o meu telemóvel.  

A estrada onde foi outrora uma ribeira limpa

Com lavadeiras a cantar nas manhãs de sol

É o mesmo lugar cento e quarenta anos depois

Quando o nome de Sete Rios se justificava.

Perdi teu nome todo na porta do autocarro

O mesmo nome que como o meu num repique

Se seguiu a um baptizado na mesma pia sagrada

Da igreja paroquial da fotografia a preto e branco.

 

in  40 Poemas Periféricos”


Das letras, das artes & doutras coisas

 

Com bola branca... bola preta



Carlos Martins, col. Nicolau Saião


   Alguns confrades, através dos tempos, têm-me perguntado se conto escrever um livro, maior ou menor, de memórias – em vista da vida razoavelmente preenchida que os meus anos me ofertaram.

  Tenho respondido que, por ser algo preguiçoso nisso de pôr em tomo encorpado o meu percurso, não tenho pachorra para tal desiderato. Além de que dou, assim o digo sinceramente, bastante apego à minha privacidade.

   O que tenho feito, isso sim, é referir-me aqui e acolá a lembranças diversas, ao acaso do que acontece e vem à colação.

   O que podeis ler a seguir é um exemplo do que afirmo. Boas lembranças, lembranças positivas…E algumas amarguras…

    Aqui as deixo pois, caros leitores & amigos.

 

   “Para além do José do Carmo Francisco, do Cesariny e do António Luís Moita, mais chegados por razões de contacto e afectividade, outros confrades houve que se sentiram tocados pelas minhas coisas e que, mesmo, me ajudaram (com a simples simpatia ou o apreço expresso...com uma atitude de estima que desaguou em apoio para sair aqui e acolá...com a tentativa praticada de palavras públicas): Maria Estela Guedes, sensível, interventiva e fraternal, com o seu notabilíssimo TriploV; Floriano Martins, irmão de diferentes e múltiplos talentos, que me permitiu ir ao Brasil onde, com outros confrades, participei na Feira do Livro de Fortaleza e que sempre me deu lugar na revista Agulha que com tanto aprumo dirige; Mário Castrim, que me publicou abundantemente no canónico suplemento “Juvenil” do Diário de Lisboa e que fez as primeiras análises criticas que recebi ao que eu escrevia; João Rui de Souza, que efectuou a Introdução ao "Os olhares perdidos" (os jornais ou folhas literárias "au point" nem se lhe referiram ou, quando muito, puseram uma ou duas frasezinhas a respeito); Álvaro Guerra, que me publicou frequentemente nos suplementos do “República”, onde trabalhava; António Osório, que me carteava e me ofereceu todos os seus livros e que - estas coisas não se esquecem - chegou a ir ver-me, aquando do meu internamento por ter sido operado a um rim c/pedra, ao hospital de Carnaxide; José Bento, que me exprimiu variadas vezes o seu apreço p'las minhas coisas e veio assistir propositadamente, com Abel Teixeira, José Carlos Breia e A.L.Moita, à minha conferência sobre Cézanne proferida na Esc. Sup. de Educação de Portalegre  (os três estiveram também comigo quando, no Solar do Vinho do Porto, em Lisboa, houve a sessão doada aos autores do Prémio Revelação desse ano) e fez comigo uma emissão do "Mapa de viagens"(Título: "Portugal e Espanha em verso"); Diniz Machado, que publicou material meu na LER e aceitou participar nesse programa de rádio que eu então realizava em Portalegre (Título da emissão: "O olho e a lupa - sobre a Literatura Policial"); José Manuel Capêlo, que me recebeu várias vezes na sua casa em Lisboa e fez com que eu entrasse - contra a vontade dos editores/poetas nortenhos, que achavam a minha poesia muito heterodoxa... - no livro colectivo "Sete poetas portugueses contemporâneos" e pagou do seu bolso a minha parte da edição; Orlando Neves, poeta de vulto e portalegrense que nunca se esqueceu da terra onde nascera e que em andanças e colaborações diversas me incluiu muitas vezes na sua revista “Sol XXI”; Emídio Santana, que deu a lume no seu “A Batalha” vários artigos de minha lavra, bem como o seu correligionário Francisco Quintal no jornal que dirigia; Manuel da Fonseca que, com Francisco Dias da Costa, me incluiu na antologia "Poetas alentejanos do século vinte" e me visitou na minha casa de Portalegre; Valter Hugo Mãe, que por várias vezes me publicou nas revistas que orientava; Matilde Rosa Araújo, sempre cordial, participativa e que esteve comigo em diversas iniciativas culturais; José Manuel Anes, hermetista de valor, em sessões e andanças de variado teor; Henrique Madeira, que me deu guarida no seu "Jornal de Poetas & Trovadores”; o arquitecto Mário de Oliveira, que na altura dirigia a Galeria O País, onde me apresentei como pintor pela primeira vez na capital e sempre "torceu" por mim; Manuel Inácio Pestana, que até falecer foi o director de "Callípole", depois orientada pelo nosso conviva sempre atento Joaquim Saial, na qual colaborei adrede; directores do Boletim da Casa José Régio sita em Vila do Conde (Eugénio Lisboa/Isabel Cadete Novais), que me publicaram o texto onde arrolava lembranças sobre a minha relação com o Centro de Estudos da Casa-Museu de Portalegre e, por mão de Isabel Cadete, me foram oferecidos os exemplares que me faltavam daquela revista; António Miranda, confrade brasileiro, que me publicou com pormenor na sua página pessoal; Eduarda Dionísio, que além de me publicar na sua revista “Abril em Maio”, me suscitou a efectuar uma palestra durante a Semana Cultural promovida pela sua Associação;  depois de um período de involuntário apagamento, José Luís Peixoto, que me convidou a publicar na revista 365 que editava em conjunto com Fernando Alvim; Tiago Gomes, da revista "Bíblia" - que além de me publicar participou comigo em sessão efectuada na Biblioteca portalegrense, sem que lhe tenham pago a despesa a que se tinham obrigado, com o intuito de me ferirem (pagaram um ano mais tarde, devido à minha insistência); o Prof. Agostinho da Silva, com quem muito me carteei e visitei várias vezes na sua casa do Abarracamento de Peniche onde mantivemos largas e frutuosas conversas e que, aquando da sua vinda a Portalegre para uma sua sessão na Escola Fradesso da Silveira, veio à minha casa do Atalaião para me abraçar e suscitar a participar no evento (tive ocasião de o evocar e a essas relações, com um texto comovido, na Sessão de Homenagem levada a efeito pela Camara Municipal de Sesimbra em conjunto com o Círculo de Estudos Agostinho da Silva; Amadeu Baptista, além do director, que me publicou na "Saudade" e no seu blog pessoal; Antonio Sáez Delgado, pelo interesse de quem saí na "Espacio/Espaço escrito" espanhola de Badajoz e proferi palestras nessa cidade; António Salvado, que além de ser estupendo confrade me deu a lume onde tem podido, tal como seu filho Pedro; António Ventura, historiador, que na sua “A Cidade” me deu espaço e, sendo director do Centro de Estudos, sempre me favoreceu como o responsável e o amigo; C.Ronald, alto poeta da sulista brasileira Santa Catarina, recentemente falecido, confrade epistolar de muitos anos que me ofereceu todas as suas obras e chegou a dedicar-me um livro de antologia; Levi Condinho, que buscou sem sucesso fazer sair uma crítica adequada sobre o meu primeiro livro; Joaquim Montezuma de Carvalho, que vindo em visita à “Velha Casa” com seu cunhado, o estimado médico portalegrense dr. Ascensão, me publicou n’O Primeiro de Janeiro onde tinha um suplemento cultural e incluiu na antologia “A um Amigo” dedicada a Eugénio de Andrade; Palácios da Silva, escultor e pintor prematuramente falecido, que sempre me acompanhou nas exposições feitas na galeria que Carlos Martins teve no Baixo Alentejo, bem como noutros lugares do país onde expusemos; Francisco José Viegas, que expressamente me pediu um texto sobre Régio visto pelos olhos de quem era nessa altura o responsável (contra a vontade de alguns malandrecos portalegrenses...) no Centro de Estudos José Régio e que noticiou no seu programa de TV o meu "Os olhares perdidos..."; José Carlos Pires Antunes, companheiro de vários talentos, que deu à estampa crónicas minhas nos jornais da Grande Lisboa a que estava ligado; Alfredo Pérez Alencart, por acção de quem fui o poeta luso convidado nos “Encontros Ibéricos” promovidos pela Univ. de Salamanca e tendo como homenageado Miguel de Unamuno; Nuno Rebocho, que apesar do seu assumido "mau feitio"(sic dele), com cordialidade me deu espaço em órgãos a que esteve ligado e nunca me discriminou ou esqueceu o companheirismo dos tempos do suplemento juvenil do “Diário de Lisboa”; José Angel Leyva, que na sua “La Outra Gaceta” mexicana incluiu um bloco alargado de poesia e pintura minhas; Fernando Guerreiro, que tudo fez para que eu visse incluída, com toda a liberdade, na Black Sun Editores a minha versão de poemas de Lovecraft; Cristino Cortes, que me incluíu em antologias por ele efectivadas; José Carlos Marques, que me abriu as portas da sua exemplar "DiVersos - revista de poesia e tradução"; Edson Cruz, autor do Novo Mundo, que me deu a lume nos seus Cronópios e Musa Rara e me arrolou nas antologias “Musa Fugidia” e “O que é Poesia”; Pedro Sevylla de Juana, de Valdepero e cidadão do mundo, que traduziu poemas meus em espanhol; sustentadores de blogs, de que cito "Tempo Dual" e "Quartzo, Feldspato & Mica"; Vítor Silva Tavares, que no seu &Etc do “Jornal do Fundão” publicou o que pôde de minha autoria;  Soares Feitosa e Renato Suttana, que no Brasil me publicaram nas páginas interactivas que dirigiam; devo ainda epigrafar o engenheiro José Alberto Reis Pereira, sobrinho de Régio, que após ter sabido que eu fora destacado na “Casa-Museu” do Poeta (com apreço e estima, pelo então presidente do município portalegrense João Transmontano) se congratulou com o facto e me elogiou publicamente por diversas vezes, além de outras atenções que não esqueço; Cruzeiro Seixas, que me ofereceu publicações sobre a sua Obra, me visitou várias vezes no “Centro de Estudos” da Casa-Museu quando vinha em trabalho à Fábrica de Tapeçarias local e que, junto de confrades, sempre deixou uma palavra fraternal a meu respeito; Nuno Oliveira, meu amigo de infância que, enquanto foi presidente da Rádio Portalegre, me solicitou realizasse o programa “Mapa de Viagens”(pago sempre a tempo) e possibilitou que nunca ali fosse ostracizado como depois passou a suceder depois que ele cessou funções; Amílcar Santos, que esteve presidente do município portalegrense, possibilitou a saída de dois livros meus e me deu ensejo de ir lançar a Paris e Bruxelas, em 1999, o meu “Flauta de Pan” e, no mesmo ano, participar no Canadá na Semana Cultural de Toronto, na qual fiz uma palestra e me foi dedicado um sarau de poesia, minha e de poetas por mim declamados; Jules Morot, que além de outras gentilezas amigas fez o prefácio do meu “Escrita e o seu contrário”, a sair em breve na Amazon pela mão do nosso Floriano Martins; Feliciano Falcão, médico analista e homem de cultura, que aquando do meu “saneamento” (de chefe-de-redacção do semanário “A Rabeca”, que ele dirigia) pelos totalitários que o haviam capturado 2 meses após o golpe de Abril, pois me rebelara contra a censura que eles queriam fosse habitual, me pagou do seu bolso (sem disso fazer alarde e sem o publicitar) o ordenado que eu ali ganhava, ficando eu a ajudar nas suas funções específicas o seu genro Manuel Elias; o Bispo da diocese de Portalegre, D. Augusto César, que sabendo perfeitamente não ser eu nem crente nem praticante, nunca me hostilizou, como certos beneméritos queriam, antes pelo contrário sempre me tratou com urbanidade e estima (escrevi livremente no “O Distrito de Portalegre” sem constrangimentos) e fez questão, quando o município me galardoou com a medalha de mérito cívico e cultural, em ser ele a entregar-ma na sessão pública respectiva; António Cândido Franco, que na sua revista “A IDEIA” me tem interpelado, arrolado e entrevistado com aprumo e largueza; José Pascoal, que na sua Gazeta me tem publicado com cordial apreço; e, por último, o prof. João Ribeirinho Leal que, furando o ostracismo a que desde certa altura fui votado por certos sectores da cidade e do publicismo, continua a dar notícias a meu respeito no programa da rádio local que efectua nos sábados de manhã há vários anos.


    (Quanto à  marginalização a que sempre fui submetido por responsáveis de órgãos de comunicação "de referência", isso deve-se tanto quanto percebo ao seguinte: 1. Clara incultura e incapacidade de ler os que não sejam vedetas evidentes ou por aí; 2. Necessidade de irem em frente com sua razão muito própria: as estantes da literatura e da escrita serem o que eles determinam; assim sendo, este não pode cá entrar (como é que explicariam então o rosto do acervo que sem cessar montam ou desmontam para efeitos de comércio mental ou mesmo social?); 3. Intolerância/ repúdio pelos que não fazem parte da equipa (política, social, de confraria, etc.) e eu não faço de facto parte: não andei com eles na Faculdade, não alinho no/s seu/s partido/s, sempre fui dotado de uma certa vitalidade de maneiras...(Em Portugal a vida das literaturas também é muito física...E eu, como fui em moço pugilista e esgrimista, tive sempre a segurança suficiente para dizer na cara de certos fulanos o que de facto pensava deles sem temer levar uma sova...Contra mim falo: não tenho nem nunca tive, digamos, feitio para beijar a mão a putas e putos literatos...ou gente "atravessada" - e isso é mortal entre nós, apesar de ser um indíviduo pacífico que quase nunca utilizou  os músculos distribuídos por oitenta e tal quilos...
    Não me admiro, nem tenho qualquer amargura por isso. Só me indigno porque isso dá sinal da cafilagem que vigora entre nós (nesta democracia apenas tendencial) e mediante a qual enganam as pessoas (e isso é um dado político-sociológico que importa reter)."

 

Post Scriptum – Pese à sua modéstia, não posso deixar de me referir com relevo a um confrade, a princípio contacto literário mas, depois, amigo pessoal sempre presente, sem o qual outros acontecimentos não poderiam ter tido lugar, nomeadamente o meu blog “Casa do Atalaião”, dada a minha ineficiência internáutica…

   Refiro-me a Joaquim Simões, mano que pela sua fraternidade, mesclada com o seu bom-humor de pessoa de bem, tem sido para mim, através do tempo, um gosto e um refrigério sem jaça.

 

ns


Jona Lewie, Louise (We get it right)

 



segunda-feira, 1 de março de 2021

Para um minuto de meditação-70

 


ns



Líder da JS exige "esclarecimentos"

do novo presidente do Tribunal Constitucional


     Miguel Costa Matos foi o convidado desta semana da Vichyssoise. Diz que vai ser vacinado quando o chamarem, por dever cívico, quer o BE de volta ao barco e explicações do novo presidente do TC.

                                                                       (Dos jornais)



    “Há pessoas que observam as regras de honra como se vêem as estrelas: de longe.”

                                                                      Victor Hugo

                                                                                       

    Mais um que usa o “politicamente correcto” para, como os inquisidores, cada vez mais restringir as liberdades tão arduamente conquistadas.

                                                               Duarte Figueiroa Rego


Três poemas de António Luís Moita

 

ARIANA

                                       ao Abel Teixeira

                       

Do pouco ou nada feito não revelo

qual o passo que dei ou que vou dar.

Do enxofre e mercúrio digo apenas

que se mordem, que mútuos se contêm,

que todo o sal é lágrima de Maio.

 

Poderei dizer mais: que o fogo é lento

e húmida é a via. A seca, não.

(Nunca o rápido amor me dá contento.

Nem há cultura fácil, fácil vento.

Qualquer trigo veloz sabe a traição).

 

Digo ainda, da via, que são sete

as águas deste denso e longo mar.

Ao terceiro degrau já se promete

o peixe que prateia, a crepitar.

São porém as sereias. Não cardume.

O verdadeiro peixe – que é de lume –

a seu tempo virá, mas devagar.

 

Primeiro, há-de toldar-se em nevoeiro

o velo, vinte vezes (só morrendo

vinte vezes terríveis se renasce).

Entretanto, uma aberta: o arco-íris.

Depois, de novo, a noite, a fermentar-se.

 

Haverá, de manhã, menos indício

na espuma da maré, no barco estreito,

do que nos olhos puros de quem vê,

ou antes, adivinha.

 

- Tu,  que me segues, crê:

No ovo luz a vinha!

 

FULCANELLI

 

Ao microscópio, gotas de cristal.

Á vista desarmada, pó vermelho.

Uma pitada leve, como o sal,

um fervilhar – e eis prata o que era estanho.

 

Só que da mão depende o bem que tenho,

o gesto firme, próprio, sem o qual

teria tudo apenas o tamanho

que tem, antes da luz, a catedral.

 

Assoprador? Adepto? Não sei bem…

Sei que todo me dou, que nada espero,

que por amor somente transmutei

na semente mais viva o vil minério.

 

Prata quis. Prata fiz. Ouro farei

mordendo as águas turvas do mistério.

 

MANSÃO FILOSOFAL

 

Erguem-se os dedos. Crispam-se no todo.

Mas algo falta para o todo ser.

Algo que mora num dedal de fogo,

nessa palavra que não sei dizer

 

mas salta certa, célere, no sopro

irreprimível que de Urano vem

dar de repente vida nova ao corpo,

ceder razão ao que razão não tem.

 

É o dédalo negro, o labirinto,

a chave justa para libertar

no firmamento a névoa do que sinto.

 

Mas é também oráculo. O olhar.

O ver, sem fim, distinto, o indistinto

no desfazer da pedra tumular.

 

                                             in “CIDADE SEM TEMPO”


José Manuel Anes, Breves notas sobre Alquimia

 


Nicolau Saião, A criação do mundo

(cartão para tapeçaria)



A Alquimia é uma prática iniciática e espiritual em que se trabalha com e sobre a matéria, “sacrificando-a”, fazendo-a passar por um processo sacrificial de “morte e ressurreição” – do “Solve” ao Coagula”, desde o “nigredo” ou Obra ao Negro, a destruturação, ao “albedo” ou Obra ao Branco, a purificação e por último ao “rubedo” ou Obra ao Rubro, a fase última de exaltação e espiritualização da matéria, que a conduz a uma derradeira modificação de “estado”, uma verdadeira transmutação. Salientemos a analogia da Alquimia com o Xamanismo, no que toca à “morte” e decomposição da matéria nos seus princípios – “solve”, “separatio”, “obra ao negro” – seguida da sua integração, purificação e exaltação – “coagula”, “conjunctio”, “obras ao branco e ao rubro”, processo fim do qual a matéria atinge um “estado extático”, isto é, tem um “novo corpo”.

 Este novo estado da matéria, em que os alquimistas acreditam ser possível de atingir, inclui a Pedra dos Filósofos e por fim a Pedra Filosofal, com propriedades medicinais – o Elixir da Longa Vida - e transmutatórias – quer na Argiropeia (fabricação da prata), quer na Crisopeia (fabricação do ouro). Estas aplicações da Pedra Filosofal são apenas demonstrações do seu poder mas, segundo o preceito tradicional – e para os que acreditam na Arte transmutatória -, não devem constituir o fim último do alquimista sob pena de ele se transformar num “assoprador de carvões”, um homem obcecado pela “aura sacra fames”.

Na Alquimia verdadeira tem de haver uma íntima associação entre o operador, o alquimista e a matéria, desde a fase de preparação até às fases de evolução da mesma. O alquimista é assim modificado, espiritualizado, num processo evolutivo que acompanha o da matéria. Esse processo alquímico poderá recorrer à captação do um “espírito universal” e/ou a excitação de um “fogo secreto” interior à matéria.

  

 

Teoria e Filosofia alquímicas; imaginário, símbolo, mito e rito

 

Como dissemos, a Alquimia é, em grande parte, uma aplicação do Hermetismo alexandrino, exemplarmente simbolizado pela Tábua de Esmeralda, atribuída a Hermes Trismegisto - que é um modelo de muita literatura alquímica posterior e mesmo da prática alquímica até aos nossos dias -, a qual passamos a transcrever:

É verdade, certo e sem nenhuma dúvida. Tudo o que está em baixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está em baixo, para realizar os milagres de uma só coisa. Da mesma maneira que todas as coisas procedem dum Único, do mesmo modo, por adaptação, elas nasceram dessa coisa única. O seu pai é o Sol e a sua mãe a Lua. O vento trouxe-o no seu ventre e a Terra é a sua ama. (o Único) É o pai de todos os milagres do mundo. O seu poder é perfeito, se ela (essa coisa única) é convertida em terra. Separa a terra do fogo e o subtil do grosseiro, suavemente e com grande prudência. Ele eleva-se da terra ao céu e torna a descer sobre a terra, recebendo assim a potência das realidades superiores e inferiores Deste modo, tu ganharás a glória do mundo inteiro e toda a obscuridade se afastará de ti. É a potência das potências, que estende a sua vitória sobre todas as coisas subtis e penetra todas as coisas sólidas. Assim foi criado o microcosmo, segundo o modelo do macrocosmo. Assim e deste modo se fazem as aplicações maravilhosas. Eis porque eu sou chamado de Hermes Trismegisto, pois eu possuo as três partes da sabedoria do mundo inteiro. Perfeito é o que eu disse da obra solar.

        Como se vê o projecto do alquimista é prometeico, convidando-o a realizar no seu laboratório - no microcosmo -, a utopia alquímica, assumindo um papel demiúrgico de re-criação. Este mito alquímico fundador – que lembra outros mitos familiares à Antropologia, como o dos Dogon estudado por Griaule (“Dieu d’eau”) - vai repercutir-se ao longo da história da Alquimia, com algumas pequenas variações.

Baseada num claro “dualismo sexual”, - ver os capítulos “Le monder sexualisé” e “Terra mater. Petra genitrix”, da clássica obra de Mircea Eliade, Forgerons et alchimistes (com tradução portuguesa “Ferreiros e alquimistas”), onde ele refere a “embriologia mineral” dos alquimistas -, o simbolismo da Alquimia parte das oposições binárias: Sol/Lua, Pai/Mãe, Enxofre/Mercúrio, Ouro/Prata, Fogo/Água, masculino/feminino, esperma/menstruo, activo/passivo, etc. A Grande Obra alquímica é a união do elemento masculino, o Enxofre, com o elemento feminino, o Mercúrio, falando os diversos autores em “união” e “geração”. Esta dimensão sexual da Alquimia foi explorada por Jung na sua célebre obra Psicologia e Alquimia, tendo Bachelard feito, antes, algo semelhante em A Psicanálise do fogo.

 Sistematizemos, então os conceitos - que não designam corpos químicos (elementos, compostos ou substâncias), entenda-se, mas que designam qualidades - nos quais assenta a teoria alquímica: 

Dimensão estática:

- duas “naturezas”: pai/mãe, masculino/feminino, fixo/volátil, activo/passivo, quente/frio, Sol/Lua, Enxofre/Mercúrio;

- três “princípios”: Enxofre, Mercúrio e Sal; este terceiro princípio, mediador entre os dois primeiros – e por vezes simbolizado pelo Bispo que casa o Rei e a Raínha -, embora implícito desde cedo, foi explicitado por Roger Bacon, Basílio Valentim e Paracelso.

- quatro “elementos”: Terra, Água, Ar e Fogo, da velha teoria grega associada a Anaximandro, Aristóteles, entre outros;

- a “quinta essência”, que pode fazer correspondência com o Sal e que se denomina por vezes o quinto elemento, o Éter, ou a Quinta Essência.

Saliente-se a importância estrutural da binaridade e da ternaridade no simbolismo alquímico.

- Dimensão dinâmica:

- em dois momentos: Solve e Coagula, Separar e Reunir, Morte e Ressurreição; como vimos, há uma clara raíz xamânica neste “desmembramento”, nesta “morte”, à qual se segue uma “ressurreição num novo corpo;

            - em três momentos: Obra ao Negro (Nigredo) – a morte sacrificial da matéria - » Obra ao Branco (Albedo) – a purificação da matéria - » Obra ao Rubro (Rubedo) – a exaltação da nova matéria, ressurgida, renascida -, isto é, as três cores da Grande Obra alquímica.

Uma vez mais a binaridade e a ternaridade, desta vez não na dimensão estática, mas na dimensão dinâmica do processo alquímico.

                                                                                 José Manuel Anes

NOTAS

Texto extraido do meu livro “Uma Introdução ao Esoterismo ocidental e suas Iniciações” – Arranha Céus ed., 2015 (2ª. ed.)

            Para maior desenvolvimento consultar o meu livro:

“A Alquimia e os alquimistas contemporâneos e as novas espiritualidades” - Ésquilo – 2010




Mozart, Concerto para piano nº 21 - Andante

 



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Para um minuto de meditação - 69

 


ns



Covid-19

Carta aberta às televisões pede informação sóbria

e critica "obsessão opinativa"

    Dezenas de personalidades assinam uma carta aberta dirigida às televisões generalistas a pedir contenção na informação sobre a pandemia e a criticar o que consideram ser o excesso informativo, o tom agressivo usado nalgumas entrevistas e a “obsessão opinativa”.

                                                                                                (Dos jornais)

 

     Pelos signatários se conhece o objectivo. Temos pessoal do PCP, das FP 25, da cultura de esquerda, etc., gente que amou os países que controlavam os respectivos media. Que a comunicação social é longa e repetitiva não há dúvidas. Que sendo subsidiada exprime a voz de quem a subsidia também não temos dúvidas. A única dúvida é: - então o que é que pretendem mais? 

                                                                                                   J Sm

 

   A dada altura “discretamente” inserida no meio da epístola em que se expandem, os signatários verberam e citamos “o apontar incessante de culpados, os libelos acusatórios contra responsáveis do Governo e da DGS”.

   Aqui é que bate o ponto. É este o facto que a nosso ver realmente os move! O resto é apenas “ganga” habilmente disposta para indrominar ingénuos de boa fé.

   E quando se sabe que recentemente a gerência governamental distribuiu milhões para “ajudar” as têvês e outros órgãos informativos da corda, percebe-se porque é que estes senhores e senhoras (tudo gente das extremas antes e depois de Abril) afinal ainda pretendem mais apertão.

    Ainda mais “orientação” e controle? Como nos “sóbrios” tempos dos gulags?

                                                                                    José Bernardo da Gama


Aos confrades, amigos, adeptos e simpatizantes

     Devido a um problema informático de última hora, não nos será possível fazer a postagem desta semana.    Esperando resolvê-lo em breve,...