Com bola branca... bola preta
Carlos Martins, col. Nicolau Saião
Alguns confrades, através dos tempos, têm-me perguntado se
conto escrever um livro, maior ou menor, de memórias – em vista da vida
razoavelmente preenchida que os meus anos me ofertaram.
Tenho respondido que, por ser algo preguiçoso
nisso de pôr em tomo encorpado o meu percurso, não tenho pachorra para tal
desiderato. Além de que dou, assim o digo sinceramente, bastante apego à minha
privacidade.
O que tenho feito, isso sim, é referir-me
aqui e acolá a lembranças diversas, ao acaso do que acontece e vem à colação.
O que podeis ler a seguir é um exemplo do
que afirmo. Boas lembranças, lembranças positivas…E algumas amarguras…
Aqui as deixo pois, caros leitores &
amigos.
“Para
além do José do Carmo Francisco, do Cesariny e do António Luís Moita, mais
chegados por razões de contacto e afectividade, outros confrades houve que se
sentiram tocados pelas minhas coisas e que, mesmo, me ajudaram (com a simples
simpatia ou o apreço expresso...com uma atitude de estima que desaguou em apoio
para sair aqui e acolá...com a tentativa praticada de palavras públicas): Maria
Estela Guedes, sensível, interventiva e fraternal, com o seu notabilíssimo
TriploV; Floriano Martins, irmão de diferentes e múltiplos talentos, que me permitiu
ir ao Brasil onde, com outros confrades, participei na Feira do Livro de Fortaleza
e que sempre me deu lugar na revista Agulha que com tanto aprumo dirige; Mário
Castrim, que me publicou abundantemente no canónico suplemento “Juvenil” do
Diário de Lisboa e que fez as primeiras análises criticas que recebi ao que eu
escrevia; João Rui de Souza, que efectuou a Introdução ao "Os olhares
perdidos" (os jornais ou folhas literárias "au point" nem
se lhe referiram ou, quando muito, puseram uma ou duas frasezinhas a respeito);
Álvaro Guerra, que me publicou frequentemente nos suplementos do “República”,
onde trabalhava; António Osório, que me carteava e me ofereceu todos os seus livros
e que - estas coisas não se esquecem - chegou a ir ver-me, aquando do meu
internamento por ter sido operado a um rim c/pedra, ao hospital de Carnaxide;
José Bento, que me exprimiu variadas vezes o seu apreço p'las minhas coisas e
veio assistir propositadamente, com Abel Teixeira, José Carlos Breia e A.L.Moita,
à minha conferência sobre Cézanne proferida na Esc. Sup. de Educação de
Portalegre (os três estiveram também comigo
quando, no Solar do Vinho do Porto, em Lisboa, houve a sessão doada aos autores
do Prémio Revelação desse ano) e fez comigo uma emissão do "Mapa de
viagens"(Título: "Portugal e Espanha em verso"); Diniz Machado,
que publicou material meu na LER e aceitou participar nesse programa de rádio
que eu então realizava em Portalegre (Título da emissão: "O olho e a lupa
- sobre a Literatura Policial"); José Manuel Capêlo, que me recebeu várias
vezes na sua casa em Lisboa e fez com que eu entrasse - contra a vontade dos
editores/poetas nortenhos, que achavam a minha poesia muito heterodoxa...
- no livro colectivo "Sete poetas portugueses contemporâneos" e pagou
do seu bolso a minha parte da edição; Orlando Neves, poeta de vulto e
portalegrense que nunca se esqueceu da terra onde nascera e que em andanças e
colaborações diversas me incluiu muitas vezes na sua revista “Sol XXI”; Emídio
Santana, que deu a lume no seu “A Batalha” vários artigos de minha lavra, bem
como o seu correligionário Francisco Quintal no jornal que dirigia; Manuel da
Fonseca que, com Francisco Dias da Costa, me incluiu na antologia "Poetas
alentejanos do século vinte" e me visitou na minha casa de Portalegre; Valter
Hugo Mãe, que por várias vezes me publicou nas revistas que orientava; Matilde
Rosa Araújo, sempre cordial, participativa e que esteve comigo em diversas
iniciativas culturais; José Manuel Anes, hermetista de valor, em sessões e
andanças de variado teor; Henrique Madeira, que me deu guarida no seu "Jornal
de Poetas & Trovadores”; o arquitecto Mário de Oliveira, que na altura
dirigia a Galeria O País, onde me apresentei como pintor pela primeira vez na
capital e sempre "torceu" por mim; Manuel Inácio Pestana, que até falecer
foi o director de "Callípole", depois orientada pelo nosso conviva
sempre atento Joaquim Saial, na qual colaborei adrede; directores do Boletim da
Casa José Régio sita em Vila do Conde (Eugénio Lisboa/Isabel Cadete Novais),
que me publicaram o texto onde arrolava lembranças sobre a minha relação com o
Centro de Estudos da Casa-Museu de Portalegre e, por mão de Isabel Cadete, me
foram oferecidos os exemplares que me faltavam daquela revista; António
Miranda, confrade brasileiro, que me publicou com pormenor na sua página pessoal;
Eduarda Dionísio, que além de me publicar na sua revista “Abril em Maio”, me
suscitou a efectuar uma palestra durante a Semana Cultural promovida pela sua Associação;
depois de um período de involuntário apagamento,
José Luís Peixoto, que me convidou a publicar na revista 365 que editava em conjunto
com Fernando Alvim; Tiago Gomes, da revista "Bíblia" - que além de me
publicar participou comigo em sessão efectuada na Biblioteca portalegrense, sem
que lhe tenham pago a despesa a que se tinham obrigado, com o intuito de me
ferirem (pagaram um ano mais tarde, devido à minha insistência); o Prof.
Agostinho da Silva, com quem muito me carteei e visitei várias vezes na sua
casa do Abarracamento de Peniche onde mantivemos largas e frutuosas conversas e
que, aquando da sua vinda a Portalegre para uma sua sessão na Escola Fradesso
da Silveira, veio à minha casa do Atalaião para me abraçar e suscitar a
participar no evento (tive ocasião de o evocar e a essas relações, com um texto
comovido, na Sessão de Homenagem levada
a efeito pela Camara Municipal de Sesimbra em conjunto com o Círculo de Estudos
Agostinho da Silva; Amadeu Baptista, além do director, que me publicou
na "Saudade" e no seu blog pessoal; Antonio Sáez Delgado, pelo
interesse de quem saí na "Espacio/Espaço escrito" espanhola de Badajoz
e proferi palestras nessa cidade; António Salvado, que além de ser estupendo confrade
me deu a lume onde tem podido, tal como seu filho Pedro; António Ventura,
historiador, que na sua “A Cidade” me deu espaço e, sendo director do Centro de
Estudos, sempre me favoreceu como o responsável e o amigo; C.Ronald, alto poeta
da sulista brasileira Santa Catarina, recentemente falecido, confrade epistolar
de muitos anos que me ofereceu todas as suas obras e chegou a dedicar-me um
livro de antologia; Levi Condinho, que buscou sem sucesso fazer sair uma
crítica adequada sobre o meu primeiro livro; Joaquim Montezuma de Carvalho, que
vindo em visita à “Velha Casa” com seu cunhado, o estimado médico portalegrense
dr. Ascensão, me publicou n’O Primeiro de Janeiro onde tinha um suplemento
cultural e incluiu na antologia “A um Amigo” dedicada a Eugénio de Andrade; Palácios
da Silva, escultor e pintor prematuramente falecido, que sempre me acompanhou
nas exposições feitas na galeria que Carlos Martins teve no Baixo Alentejo, bem
como noutros lugares do país onde expusemos; Francisco José Viegas, que expressamente
me pediu um texto sobre Régio visto pelos olhos de quem era nessa altura o
responsável (contra a vontade de alguns malandrecos portalegrenses...) no Centro de Estudos José Régio e que noticiou no seu programa de TV o meu
"Os olhares perdidos..."; José Carlos Pires Antunes, companheiro de
vários talentos, que deu à estampa crónicas minhas nos jornais da Grande Lisboa
a que estava ligado; Alfredo Pérez Alencart, por acção de quem fui o poeta luso
convidado nos “Encontros Ibéricos” promovidos pela Univ. de Salamanca e tendo como
homenageado Miguel de Unamuno; Nuno Rebocho, que apesar do seu assumido "mau
feitio"(sic dele), com cordialidade me deu espaço em órgãos a que esteve
ligado e nunca me discriminou ou esqueceu o companheirismo dos tempos do suplemento
juvenil do “Diário de Lisboa”; José Angel Leyva, que na sua “La Outra Gaceta”
mexicana incluiu um bloco alargado de poesia e pintura minhas; Fernando
Guerreiro, que tudo fez para que eu visse incluída, com toda a liberdade, na
Black Sun Editores a minha versão de poemas de Lovecraft; Cristino Cortes, que me
incluíu em antologias por ele efectivadas; José Carlos Marques, que me abriu as
portas da sua exemplar "DiVersos - revista de poesia e tradução";
Edson Cruz, autor do Novo Mundo, que me deu a lume nos seus Cronópios e Musa
Rara e me arrolou nas antologias “Musa Fugidia” e “O que é Poesia”; Pedro
Sevylla de Juana, de Valdepero e cidadão do mundo, que traduziu poemas meus em
espanhol; sustentadores
de blogs, de que cito "Tempo Dual" e "Quartzo, Feldspato
& Mica"; Vítor Silva Tavares, que no seu &Etc do “Jornal do Fundão”
publicou o que pôde de minha autoria; Soares Feitosa e Renato Suttana, que no Brasil
me publicaram nas páginas interactivas que dirigiam; devo ainda epigrafar o engenheiro
José Alberto Reis Pereira, sobrinho de Régio, que após ter sabido que eu fora
destacado na “Casa-Museu” do Poeta (com apreço e estima, pelo então presidente
do município portalegrense João Transmontano) se congratulou com o facto e me
elogiou publicamente por diversas vezes, além de outras atenções que não esqueço;
Cruzeiro Seixas, que me ofereceu publicações sobre a sua Obra, me visitou
várias vezes no “Centro de Estudos” da Casa-Museu quando vinha em trabalho à
Fábrica de Tapeçarias local e que, junto de confrades, sempre deixou uma palavra
fraternal a meu respeito; Nuno Oliveira, meu amigo de infância que, enquanto foi
presidente da Rádio Portalegre, me solicitou realizasse o programa “Mapa de Viagens”(pago
sempre a tempo) e possibilitou que nunca ali fosse ostracizado como depois passou
a suceder depois que ele cessou funções; Amílcar Santos, que esteve presidente
do município portalegrense, possibilitou a saída de dois livros meus e me deu
ensejo de ir lançar a Paris e Bruxelas, em 1999, o meu “Flauta de Pan” e, no
mesmo ano, participar no Canadá na Semana Cultural de Toronto, na qual fiz uma
palestra e me foi dedicado um sarau de poesia, minha e de poetas por mim declamados;
Jules Morot, que além de outras gentilezas amigas fez o prefácio do meu “Escrita
e o seu contrário”, a sair em breve na Amazon pela mão do nosso Floriano
Martins; Feliciano Falcão, médico analista e homem de cultura, que aquando do
meu “saneamento” (de chefe-de-redacção do semanário “A Rabeca”, que ele
dirigia) pelos totalitários que o haviam capturado 2 meses após o golpe de Abril,
pois me rebelara contra a censura que eles queriam fosse habitual, me pagou do seu
bolso (sem disso fazer alarde e sem o publicitar) o ordenado que eu ali ganhava,
ficando eu a ajudar nas suas funções específicas o seu genro Manuel
Elias; o Bispo da diocese de Portalegre, D. Augusto César, que sabendo perfeitamente
não ser eu nem crente nem praticante, nunca me hostilizou, como certos beneméritos
queriam, antes pelo contrário sempre me tratou com urbanidade e estima (escrevi
livremente no “O Distrito de Portalegre” sem constrangimentos) e fez questão,
quando o município me galardoou com a medalha de mérito cívico e cultural, em
ser ele a entregar-ma na sessão pública respectiva; António Cândido Franco, que
na sua revista “A IDEIA” me tem interpelado, arrolado e entrevistado com aprumo
e largueza; José Pascoal, que na sua Gazeta me tem publicado com cordial
apreço; e, por último, o prof. João Ribeirinho Leal que, furando o ostracismo a
que desde certa altura fui votado por certos sectores da cidade e do
publicismo, continua a dar notícias a meu respeito no programa da rádio local
que efectua nos sábados de manhã há vários anos.
(Quanto à marginalização a que sempre fui
submetido por responsáveis de órgãos de comunicação "de referência",
isso deve-se tanto quanto percebo ao seguinte: 1. Clara incultura e incapacidade
de ler os que não sejam vedetas evidentes ou por aí; 2. Necessidade de irem em
frente com sua razão muito própria: as estantes da literatura e da escrita serem
o que eles determinam; assim sendo, este não pode cá entrar (como é que
explicariam então o rosto do acervo que sem cessar montam ou desmontam para efeitos
de comércio mental ou mesmo social?); 3. Intolerância/ repúdio pelos que não fazem
parte da equipa (política, social, de confraria, etc.) e eu não faço de facto
parte: não andei com eles na Faculdade, não alinho no/s seu/s partido/s, sempre
fui dotado de uma certa vitalidade de maneiras...(Em Portugal a vida das
literaturas também é muito física...E eu, como fui em moço pugilista e
esgrimista, tive sempre a segurança suficiente para dizer na cara de certos fulanos
o que de facto pensava deles sem temer levar uma sova...Contra mim falo: não
tenho nem nunca tive, digamos, feitio para beijar a mão a putas e putos
literatos...ou gente "atravessada" - e isso é mortal entre nós,
apesar de ser um indíviduo pacífico que quase nunca utilizou os músculos
distribuídos por oitenta e tal quilos...
Não me admiro, nem tenho
qualquer amargura por isso. Só me indigno porque isso dá sinal da cafilagem que
vigora entre nós (nesta democracia apenas tendencial) e mediante a qual
enganam as pessoas (e isso é um dado político-sociológico que importa
reter)."
Post Scriptum
– Pese à sua modéstia, não posso deixar de me referir com relevo a um confrade,
a princípio contacto literário mas, depois, amigo pessoal sempre presente, sem
o qual outros acontecimentos não poderiam ter tido lugar, nomeadamente o meu
blog “Casa do Atalaião”, dada a minha ineficiência internáutica…
Refiro-me a Joaquim Simões, mano que pela sua
fraternidade, mesclada com o seu bom-humor de pessoa de bem, tem sido para mim,
através do tempo, um gosto e um refrigério sem jaça.
ns
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