A ERC JOSAMU JOVE
Nós os
intocáveis, os imundos, recusamos
nossa vida à condição comum.
Porque é intemporal a rosa que nos leva
entre o dia e a noite.
Nós os derrotados, impuros, oferecemos
nossa miséria a um significado
oculto e diferente –
asa branca na varanda
nome escrito nos telhados
estrada atravessando a terra de ninguém
Nós os últimos dos últimos coroamos
impérios e jardins
CARTA
esqueço-te
com a terna complacência do silêncio
habitual
das horas no seu movimento
e
no entanto restou um perfume quase imperceptível
do
olhar por uma vez aceite
em
mim, um olhar que julguei
fosse
o meu amor, a ilusão
de
um gesto que olhamos como
se
nos pertencesse e no entanto
nos
é alheio.
Eu
havia contribuído integralmente.
A
terra foi por um instante pura
através
do teu corpo elástico e pausado.
ÚLTIMO POEMA POSSIVELMENTE DE AMOR
recorda
como
se os dias não fluíssem em dias
e
para ti fosse um nítido jogo de músculos
meu
braço no teu corpo anfiteatro
da
mais pura derrota rumo às constelações
eis-me
descoberta
de
tudo que se arrisca sem limites
construído
pela coloração de globos de vidro
iluminados
e submersos
para
o teu nome
um
novo mecanismo de linguagem
para
o teu corpo
memória
ciclo perfeito
dos
meus desejos de pedra e de violência
tu
única
para quem fui adeus
o homem sem comédia
O autor dos livros “Paralelo W” e “A Estrela Rutilante”, falecido aos 36
anos de idade em Setembro de 71, ficou como um dos poetas mais significativos
da segunda leva surrealista.
Aqui
lhe celebramos a memória e a sua poesia de singular qualidade.
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