Poema periférico do meu operador
Um
vago primo que nasceu em Salvaterra
Brilhou
na baliza nos Jogos de Amsterdão
Sereno
com seu coração em pé de guerra
Ele
voava no ar com a leveza de um balão.
Chegava sempre aos dois cantos da
baliza
Quando olhava para o campo tudo media
Com os seus olhos na medida mais
precisa
Separando devagar a amargura e a
alegria.
Todas
as derrotas e as vitórias acumuladas
São
quase calendário privativo do jogador
Que
joga parte da sua vida nas bancadas
Na
multidão que o aplaude num clamor.
As mãos desse vago primo tinham magia
Que foi depois herdada pelo meu
operador
Mãos tão precisas num ritual de
cirurgia
Que assim vai separando a morte do
amor.
Poema periférico do telefone
Eu
ouvi a tua voz numa estação
À
espera do comboio para o Rossio
De
todo inesperada foi esta ligação
Que
veio trazer calor a um dia frio.
Valores de pressão e temperatura
Havia vento onde outrora foi ribeira
Um tempo e uma distância na procura
Dum olhar que é janela sobranceira.
Eu
ouvi a tua voz numa estação
De
repente havia um retrato antigo
Na
luz do comboio uma multidão
Foi
diluída num crime sem castigo.
De gente que de súbito se escondia
Em autocarros em táxis em paragens
No meio da tarde nasceu uma alegria
Nas palavras da promessa das viagens.
in
“40 poemas periféricos”
(Apenas
Livros Editora)
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