quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Dois poemas de Cristino Cortes

 




SUMA SÍNTESE

(I)

Das carícias, augúrios, da noite ao beijo da manhã

Se inscreve o trajecto que em pura síntese sustém o mundo:

Arco que do convite conduz à despedida, no fundo

Fecha o claro círculo da donzela que é sempre louçã.

 

Falo do seu ponto de vista, na verdade tanto faz.

Acaricia, é acariciada, beija e é beijada

Entra no reino da noite, antes da alva é acordada:

Dia obrigatório como intervalo no que mais apraz.

 

Pelos carinhos nas trevas ingressa na descontracção

No prazer, no à vontade, na alegria de todo o ser;

O ósculo da manhã é o vestíbulo do que há que fazer

Um adeus que lhe deixa consolado e forte o coração…

 

Das carícias da noite ao beijo consagrando a aurora

Abarcando a inteira vida, certo em toda e qualquer hora.

 

 

SUMA SÍNTESE

(II)

Pode ser tão só imaginado. Podem as circunstâncias

Ser impedimento, obstáculo mais ou menos temporário

As carícias da noite por aí se ficarem, no vário

Fluxo da existência a flor não se abrir em sua fragrância.

 

Não importa. O espírito vai à frente, é secundário

Se o corpo não acompanha o desejado movimento.

Fica a memória e a intenção, para nesse momento

Esculpir o que não tem de ser regular ou ter horário.

 

Os afagos da noite são promessa, fundam o desejo

Do que no compasso mais próximo será sempre o melhor;

O beijo da manhã tão só recordatória desse amor

Exposto ao tempo, de muitas formas activando o ensejo.

 

Das carícias da noite ao beijo da manhã eu hoje canto

Envolto em gratidão, ternura, e um espantado espanto.


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