O
PÉ DE PENÉLOPE
A mulher de Ulisses, enquanto esperava, a sabedoria
Encontrou, de dominar o tempo - que nunca mais passava…
Ao tapete que tecia o avanço para trás puxava
Desfazendo à noite o que tinha feito durante o longo dia.
Tu, oh meu amor, olhas para o pé, à noite quase o vendo
Mais inchado e vermelho do que de manhã ele se encontrava;
É o exercício, a prática que ao horário calhava
Lento te parecendo o tempo, na clepsidra escorrendo …
Mas o fadário de ambas não é assim muito diferente.
Resultado garantido, ainda que em prazo incerto
E o tempo, hoje como então, custe a passar. Convém que perto
Não percas essa vã ciência, és uma entre a mais gente.
A nova forma de tecer está, talvez, em ver o pé.
Pé de Penélope, agora o teu. É tudo questão de fé.
TERNURA
E OCASIÃO
Todos os dias, agora, sobretudo ao fim de semana
Arranjei uma outra rotina, e gosto-a qual ácido sal;
À hora de antemão fixada vou-te ver ao hospital
E lá fico, enquanto me deixam, os dois na mesma cama.
Tens um ar de menina a quem muito custa assim passar
Tanto tempo que medes em função desse diário momento;
Varia às vezes o teu aspecto, frágil contentamento
Face ao fim que está quase, quase, ou vem mais devagar…
Nada ficaste a dever ao destino, e eu me comovo
Ao pensar no que te aconteceu, sem nada teres feito;
A rasoira não despega e tem-te deixado a eito
Azar e má-sorte, o que correu mal e o que é novo.
Bem vejo, oh meu amor, como os dias te custam a passar
E grande é a aspiração, e direito, de te ver voltar.
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