segunda-feira, 19 de abril de 2021

Um poema de Pedro Sevylla de Juana

 




Exaltação de Portalegre

 

 

                                                    Aos meus amigos portalegrenses,

                                                    e aos que ainda não o são.

 

 

Arrastando os pesados grilhões incorpóreos

da arbitrária angústia vital,

unidos aos ferros presidiários de múltiplos pesares

e uma debilidade física extrema,

com os sapatos gastos e as roupas descosidas

- Heccehomo, Peergynt -

pela rua de Elvas entrei em Portalegre ao meio-dia.

 

Eu viajava desprezando os ditados do Destino

sem bússola nem rádio, sem quadrante nem mapa

em busca da terra do queijo e do azeite

das maçãs, cortiça, nozes e castanhas;

e a entidade superior dominada pela fúria

dispôs de tão calamitosa chegada.

 

Portalegre é um dos assentamentos cidadãos

que o homem elevou sobre colinas,

subidas e descidas, alguma planura

perfil de fêmea exuberante e mutável.

 

Não sei se foi o sossego de parques e jardins

a serenidade achada na Corredoura

o murmúrio da água surgindo das fontes

o magistério tímido dos museus

a repousada algaravia da Praça da República

ou a beleza serena (beleza comovente?) de igrejas e conventos;

ignoro se influiu na minha decisão

a perfeita simetria da Sé Catedral,

a solidez do Castelo e a Muralha

a sincera amabilidade das pessoas

somadas ao animoso acolhimento da biblioteca;

mas de Portalegre fiz ponto de partida

dando um golpe de timão à existência

 

Se tivesse chegado três mil anos antes

eu  pastor de ovelhas entre sobreiros nus

a minha memória hospedaria a jornada inesquecível

aproveitada pelo desditoso Lysias,

- filho de Dionisio e neto bastardo de Zeus -

abatido e esperançado em partes iguais

para colocar a primeira pedra da Amaia

- Atalaião, Ribeiro de Baco -

iniciando umas obras ainda em marcha:

novos bairros que se afastam do centro antigo

e da sua frágil harmonia

em constante perigo.

 

A formosa Maia fez-se aldeia,

foi crescendo até ser vila e ser cidade

e hoje é a branca e ocre Portalegre

urbe de coração generoso

onde permanecerá meu alento

quando eu morrer de todo.


(traduzido do espanhol pelo autor)

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