segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Dois poemas de António Cândido Franco

 




GONÇALO DUARTE (1935-1986)

PROCURA-SE


Gonçalo Duarte

papagaio cinzento

com cauda bem vermelha

calção branco

pescoço sujo

mas acetinado

fugiu no sábado dia quatro

de maio

 

é sociável

tem olhar descansado

mas não dá a mão a ninguém

usa a destra para pintar

e a esquerda para agarrar

 

deve andar entre a Mouraria

o alto da igreja de São Mamede

e a frontaria

de Belas Artes

 

nos dias de Sol

gosta de se alcandorar nas partes altas

e nas noites de névoa e cinza

nas ravinas que dão para o rio

 

canta de madrugada

mas passa os dias no mesmo sítio

com a mãozinha levantada

pincel firme

a pintar o naufrágio de  Alcácer Quibir

 

agradece-se a quem souber do seu paradeiro

que contacte o restaurante Beira Gare

na esquina da estação do Rossio

 

 

António Cândido Franco

11 Abril de 2015

 

 

CAIXA DE VESTIR PARA DRAGÃO

DE CRUZEIRO SEIXAS

 

 

 

E tardou de mais ao nardo

na exigente nave fora e fartou-se

 

Tudo deu até margaça do Norte

foi sina possante nas Astúrias

 

Domara ao longo da sala um único verso

baliu raposa num revólver por púlpito na praça

 

Faro, faroleiro, o que está lá onde o mapa salga

 

De laço na aorta ia adiante

poço de ar com que fui ao Bei

 

Adonai dei e desandei

ardem-me tarte e boi-touro em meia hora

 

Tâmara de Ninive ó lãs ardentes

 

Ele dá-se ao desquite do idílio que se abana

na erva que passa

 

Cal será e não destapará para já o cabeção


António Cândido Franco

 

10/4/2016


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