GONÇALO DUARTE (1935-1986)
PROCURA-SE
Gonçalo Duarte
papagaio cinzento
com cauda bem
vermelha
calção branco
pescoço sujo
mas acetinado
fugiu no sábado
dia quatro
de maio
é sociável
tem olhar
descansado
mas não dá a mão
a ninguém
usa a destra para
pintar
e a esquerda para
agarrar
deve andar entre
a Mouraria
o alto da igreja
de São Mamede
e a frontaria
de Belas Artes
nos dias de Sol
gosta de se
alcandorar nas partes altas
e nas noites de
névoa e cinza
nas ravinas que
dão para o rio
canta de
madrugada
mas passa os dias
no mesmo sítio
com a mãozinha
levantada
pincel firme
a pintar o
naufrágio de Alcácer Quibir
agradece-se a
quem souber do seu paradeiro
que contacte o
restaurante Beira Gare
na esquina da estação
do Rossio
António
Cândido Franco
11
Abril de 2015
CAIXA
DE VESTIR PARA DRAGÃO
DE
CRUZEIRO SEIXAS
E tardou de mais
ao nardo
na exigente nave
fora e fartou-se
Tudo deu até
margaça do Norte
foi sina
possante nas Astúrias
Domara ao longo
da sala um único verso
baliu raposa num
revólver por púlpito na praça
Faro, faroleiro,
o que está lá onde o mapa salga
De laço na aorta
ia adiante
poço de ar com
que fui ao Bei
Adonai dei e
desandei
ardem-me tarte e
boi-touro em meia hora
Tâmara de Ninive
ó lãs ardentes
Ele dá-se ao
desquite do idílio que se abana
na erva que
passa
Cal será e não
destapará para já o cabeção
10/4/2016
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