segunda-feira, 3 de abril de 2023

Nicolau Saião, Por quem os sinos dobram

 



    Obra-prima de Ernest Hemingway, o famoso romance com este título provindo de um poema do autor cristão John Donne afixa uma atitude de humaníssima interrogação perante as amarguras do mundo e, mais do que isso, perante os actos discricionários que, desde os mais pequenos caciques de província até aos ditadores de Nações, conspurcam a existência pacífica e civilizada das sociedades, criando uma espécie de vida paralela, antidemocrática e assente na mentira, no confusionismo, na difamação e na baixa calúnia.

 O que visam é criar um estado de coisas sensível à intimidação, para que através da cedência moral e ética não se tenham forças para efectuar o repúdio de manipulações ilegítimas, de negações da vida íntegra: o que ultimamente se tem passado com a criminosa clonagem de seres humanos é um exemplo do que pretende essa propaganda. Mas não é o único: em determinados locais, busca-se interditar a acção de pessoas de boa-fé, que desmascaram ou combatem gente eivada de cinismo e que chega a servir-se de instituições respeitáveis. O objectivo é bem claro: estabelecer o seu autoritarismo sobre os destroços que desejam criar.

  A este propósito, ocorre-me o que sucedeu em França, nos anos 30, com um homem de grande nobreza de carácter: diversos sujeitos, atacados nos seus privilégios indevidos e maliciosos pelo escritor François Janin, brilhante orador e amigo de escritores destacados tais como Gilbert Cesbron, Jules Jacob e Robert Weiglé - confidente de Saint-John Perse - desencandearam contra ele acções que configuravam um verdadeiro “assassinato de carácter”, visando impedi-lo de esclarecer a opinião pública sobre os jogos de influencias que os norteavam. Durante dois anos tudo tentaram, apoiados em gente sem moral, venal e maldosa.

   No entanto, ajudado pela força da razão e também pelos escritores seus amigos, que igualmente se destacariam no combate contra os nazis, François Janin desmascarou os energúmenos, que a seu tempo ali tiveram o seu simbólico Waterloo.

  E foi lembrando-se duma conversa que em dada altura com ele manteve, durante a qual ele lhe citara a frase de Donne, que Hemingway epigrafou o título famoso.

  De facto, por quem dobram os sinos? Não é apenas pelos que morrem, mas por todos os que a felonia, a venalidade e o falso testemunho tentam prejudicar na sua integridade. Quando, simbolicamente, a morte por algum tempo se sobrepõe à vida, a mentira à verdade – eis que se ouve um plangente som de sinos dobrando. Por isso é que as pessoas de bem devem recusar os tentames dos que, servindo-se das falsas analogias (caso da clonagem) ou das calúnias soezes, buscam violar as consciências das populações e das pessoas decentes, para melhor estabelecerem o seu reinado de horizontalidade moral.

   E se é verdade que, como diz a conhecida frase, “a maldade não prevalecerá contra a verdade dos justos”, é preciso que as pessoas de boa-fé ergam um muro de honradez que corte o passo aos que se servem de ardilosas camuflagens para se furtarem a que os reconheçamos como aqueles que sempre buscaram perpetuar o calvário humano. 


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