NEVOEIRO, NEVOEIRO,
NEVOEIRO SOBRE O CANAL
Canal de Nieuport, 7 de Janeiro de 2017
Nevoeiro, nevoeiro, nevoeiro sobre o canal.
Tudo se dissolve nesta tarde de Outono,
Tudo se dissolve nesta luz cinzenta
As correntes, o céu, o sol e a terra.
Tudo parece fugir para longe - e o horizonte,
Último reflexo do sonho nessa bruma,
Parte para longe logo que a noite se ilumina,
E tudo desaparece nessas estações mortas.
Nevoeiro, nevoeiro, cidadela das sombras,
O teu surdo véu extingue tudo o que é vivo;
Tudo morre em ti, tudo morre até à noite
- E o horizonte, e os astros sem número.
TIRÉSIAS
Ele via na noite, ele via através dos sonhos,
Ele via no eco duma sombra que foge,
Mesmo através dos céus por onde o nevoeiro se estende
- E até quando tudo se afogava no fluxo do esquecimento.
O mundo era para ele um vento, um sopro, uma onda
Onde tudo se confundia e vibrava; um éter
Percorrendo sem cessar a sua alma vagabunda,
Rainha de todos os tempos e todos os universos.
Tudo lhe falava: o voo duma ave, o fumo
Que subia, serpenteando entre as nuvens…
E ele fixava a vida, a luz, e a maneira
Dos seus grandes olhos espantados devorando-lhe o rosto,
Os seus olhos que percebiam os tempos e os espaços,
Os seus olhos, apagados, como sóis que tivessem morrido.
Tradução de Cristino Cortes
Sem comentários:
Enviar um comentário