segunda-feira, 17 de abril de 2023

Dois poemas de Jean Hautepierre

 

NEVOEIRO, NEVOEIRO, NEVOEIRO SOBRE O CANAL


Canal de Nieuport, 7 de Janeiro de 2017


Nevoeiro, nevoeiro, nevoeiro sobre o canal.

Tudo se dissolve nesta tarde de Outono,

Tudo se dissolve nesta luz cinzenta

As correntes, o céu, o sol e a terra.

 

Tudo parece fugir para longe - e o horizonte,

Último reflexo do sonho nessa bruma,

Parte para longe logo que a noite se ilumina,

E tudo desaparece nessas estações mortas.

 

Nevoeiro, nevoeiro, cidadela das sombras,

O teu surdo véu extingue tudo o que é vivo;

Tudo morre em ti, tudo morre até à noite

- E o horizonte, e os astros sem número.

 


 

TIRÉSIAS


Ele via na noite, ele via através dos sonhos,

Ele via no eco duma sombra que foge,

Mesmo através dos céus por onde o nevoeiro se estende

- E até quando tudo se afogava no fluxo do esquecimento.

 

O mundo era para ele um vento, um sopro, uma onda

Onde tudo se confundia e vibrava; um éter

Percorrendo sem cessar a sua alma vagabunda,

Rainha de todos os tempos e todos os universos.

Tudo lhe falava: o voo duma ave, o fumo

Que subia, serpenteando entre as nuvens…

 

E ele fixava a vida, a luz, e a maneira

Dos seus grandes olhos espantados devorando-lhe o rosto,

Os seus olhos que percebiam os tempos e os espaços,

Os seus olhos, apagados, como sóis que tivessem morrido.

 

Tradução de Cristino Cortes


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