OS MEUS TRÊS PECADOS DADA
Sobe, sobe a colina
oh roda esmagada roda
quebrada pupila amarga
amargo abrunho dos bosques
oh tu que sobes assobiando
e que és um cobertor velho
o hino das crianças amadas.
Os olhos dos papagaios são bolinhas
enganadoras.
Vós não sois deuses, mantilhas
ou escuros guarda-chuvas, nem mecanismos
de toque
de alvorada.
Vós sois o anfitrião dum Amphion sem
lira
uma vela sem poesia
uma majestade sem reflexos de música
o nascimento semanal dum girassol
- o girassol da minha prece –
e os meus olhos de roda quebrada
que envio ao grande mágico Merlin.
Para me castigar irei imolar-me numa
adega.
Este é o pecado do fogacho quase
extinto.
Ah sorte malina!
Beber uísque numa flor-de-lis
discussão espiritual da minha traição a
sós
com a sua imagem
e depois dormir, dormir até que uma
esmola
dos olhos tombada deslizasse nas minhas
veias
Mas o que dei ao papagaio
não, para vós não é –
Amizade não se escreve em estenografia.
E é sempre essa roda, esse suplício
quebrado que me atormenta.
Para consertá-lo tomo
Merlin como testemunha
a escada como ícone
o vidro como microscópio
o copo como microscópio
e as minhas belas pupilas
como a linguagem mais formosa.
E depois, já que tudo acabou
iremos deitar abaixo
o edifício construído
sobre uma prisão e um suplício
na adega das discussões espirituais
do seu calvário de uísque.
(Este poema da co-fundadora e directora da
revista “Projecteur” e mulher do poeta Paul Dermée foi extraído de “L’Aventure
Dada”.)
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