A mais bela reflexão sobre “a viagem” não a
fez o tal político avis rara que deu
duas vezes a volta ao planeta sem sair do gabinete e recebeu, por tal feito, os
correspondentes emolumentos. Nem o tal escritor de sucesso que faz viagens de
propósito – que horror! – para depois escrever buques que os interessados e os
artolas irão consumir regalados. Nem sequer o estimável Xavier de Maistre, com
o seu “Voyage au tour de ma chambre” que nos compraz e nos excita pela evidente
convicção e o eficaz discurso literário.
De facto, quem me parece ter feito a tal
superlativa reflexão que em 9 páginas arruma de vez a questão, foi mesmo
Vicente Blasco Ibañez – e de que maneira inteligente, criativa, realmente
lúcida e poética! Exacto, o mesmo autor de “Os 4 cavaleiros do Apocalipse”, de
“Sangue e arena” cinematograficamente protagonizado por um Tyrone Power novinho
pero todo un hombre – o outro, em fita, tinha por lá o Glenn Ford, a
Ingrid Thulin, o Charles Boyer...
O livro – “A volta ao mundo dum novelista”
(3 volumes) – foi publicado em Espanha, na França, nos E.U.A. faz este mês
precisamente 92 anos. É, pois, um livro antigo – como se tivesse sido escrito
mesmo agora. Leiam as páginas sobre Nova Iorque, sobre a China, sobre as ilhas
perdidas do Pacífico e depois venham falar comigo. Sujeito de razão e coração
este Ibañez e ainda por cima um democrata de antes quebrar que torcer.
Se não encontrarem nos escaparates (saíu por
cá em 44 na Livraria Peninsular Editora, em bela tradução de Agostinho Fortes)
ameacem o editor de lhe ferrarem um tiro caso não reedite. Nunca uma doce
ameaça faria tanto sentido.
Recomenda-se aos aventureiros/as e aos muito
adultos - a todos os que souberam conservar o seu vibrante coração de
adolescentes sem remorsos.
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