LAVO A CAMISA
Lavo,
pela última vez, a camisa do meu pai,
que
morreu. A camisa cheira a suor. Lembro-me
deste
suor desde a minha infância, tantos anos
lhe
lavei as camisas e a roupa interior,
secava-as
num fogão de ferro no atelier
e
ele vestia-as por passar.
De
entre todos os corpos no mundo, animais, humanos,
um
só exalava este suor.
Inspiro-o
pela última vez. Ao lavar
a
camisa destruo-o para sempre.
Agora
só as pinturas que cheiram a óleos
lhe
sobrevivem.
Tradução de Francisco Craveiro de Carvalho,
com base em versão inglesa de Czeslaw Milosz
& Leonard Nathan
Sem comentários:
Enviar um comentário