segunda-feira, 13 de março de 2023

Um poema de Ana Swir


 LAVO A CAMISA


Lavo, pela última vez, a camisa do meu pai,

que morreu. A camisa cheira a suor. Lembro-me

deste suor desde a minha infância, tantos anos

lhe lavei as camisas e a roupa interior,

secava-as num fogão de ferro no atelier

e ele vestia-as por passar.

De entre todos os corpos no mundo, animais, humanos,

um só exalava este suor.

Inspiro-o pela última vez. Ao lavar

a camisa destruo-o para sempre.

Agora só as pinturas que cheiram a óleos

lhe sobrevivem.

 

Tradução de Francisco Craveiro de Carvalho,

com base em versão inglesa de Czeslaw Milosz & Leonard Nathan


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