segunda-feira, 13 de março de 2023

José do Carmo Francisco, Primeira pessoa do singular

 


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   Fui Juiz Social no Tribunal de Família e Menores de Lisboa entre 1993 e 2016. Participei como «juiz asa» em dezenas de audiências de julgamento e ouvi juízes, pais, crianças, assistentes sociais, advogados, testemunhas, oficiais de justiça, guardas da PSP, etc. Primeiro foi nas Varas no Alto do Parque, depois foi numa Rua perto do Edifício Imaviz e, mais tarde, no Campus da Justiça. Foram muitos anos a ouvir histórias; como na peça de Pirandello «Para cada um sua verdade» e no meu caso a verdade tem muitas versões. Por tudo isso fui espectador interessado do filme «Spotlight» de 2015 cuja história se passa no interior de um dos mais importantes jornais dos EUA – o Boston Globe. Um dos aspectos mais curiosos do enredo do filme é que foi a leitura dos Anuário da Arquidiocese de Boston que permitiu perceber as deslocações anuais dos sacerdotes nas várias paróquias. Como num jogo de dominó as peças foram-se juntando. As últimas imagens do filme antes da onda de telefonemas, mostram as camionetas a saírem das garagens carregadas de jornais. Um jornal não deixa de ser uma empresa que só existe graças aos seus lucros, vive de vender notícias aos assinantes e aos compradores em quiosque e mesmo que o jornalista seja o historiador do quotidiano, mesmo que o jornal seja o livro de todos os dias, o assunto não deixa de ser o que é – um jornal é uma empresa, não é uma IPSS. A vida não começa nem acaba no «Spotlight». Os abusos sobre as crianças são mais elevados nas famílias, nos prédios, nos bairros e nas escolas. Sempre que tocam as pandeiretas sobre três por cento são noventa e sete por cento que ficam remetidas ao silêncio. A nódoa permanece mas a pandeireta deixou de se ouvir.      


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