Café Moderno
Foram chegando um a um os familiares
Do Café Moderno, em Pontevedra.
E agora, dez exatas horas da manhã
No relógio de parede
Ei-lo quase cheio
Mesmo na esplanada corrida por uma aragem fria
Vinda dos salgados miasmas da ria.
Lugar de tertúlias, ainda guarda essa memória
Nas madeiras aconchegantes
Nos
marmóreos tampos das mesas
Nos grandes quadros cujas cenas bucólicas
Cobrem as citadinas paredes.
E eu sinto o teu cheiro, Federico.
Usavas perfume discreto
Fumavas cigarrilha elegante
Os sapatos sempre engraxados
Luzindo como a caneta de tinta permanente.
À
tua frente
O caderno de capa preta
Fininho para o guardares no bolso
Do colete
Sem te deformar a silhueta.
Manuscreves
Como eu que teclo
Agora
Imaginando-te em ato de concentrada
Redação.
Menino, o teu infantil manuscrito
Nem parece ter
crescido
Na contemplação das paredes da Alhambra
Cobertas de
caligrafia sublime!
Cheira a café, cheira a tabaco, cheira à tua poesia.
Escreveste aqui, na cadeira em que me sento
Embora sem tablet, Federico, embora
Sem telemóvel
E sem esse grande luxo para substituir bibliotecas
Que é a Internet com a sua Wikipédia!
Apenas tinta, caneta e papel
E apesar de tão pobre em ferramentas
Ao alto céu subiste do flamingo.
Tão poucos meios
Mas foi aqui
Na Praza de San Xosé
Ainda não tinha sido postada
Ao centro
A tertúlia em bronze dos
Intelectuais e artistas do teu orbe
Foi aqui, no Café Moderno, aberto
Em Pontevedra em 1903
Que redigiste algum do teu moderno
Poeta
en Nueva York.
(Do poemário “Conversas
com Federico Garcia Lorca”)
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