segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Um poema de Luís Borja (El Salvador, 1985-2021)

 

PÁSSARO E AREIA

 

Sei que é muito difícil pensar em ti com as mãos feridas pela saudade

ainda imagino como as tuas palavras cantam com ternura

A voz alegre e sangrenta com a qual tu imitas os pássaros

As batidas dos teus dedos destruindo a distância

- Acho que nesse arpejo tu resumes toda a tua tristeza -

Às vezes acho que tu és uma palavra melancólica que se perde nas tardes

Achas estranho pensar assim?

E é que em ti às vezes também é fácil perceber a solidão moderna com que amaldiçoas as ruas.]

O golpe terrível com que quebras os vazios.

Tu podes estar preocupada com a mediação que existe no homem morto e na arma]

E talvez te preocupes com o sorriso caricioso das crianças perdidas

E podes preocupar-te com a borda delineada empilhada com os mortos

É por isso que me encontro em ti

Porque é fácil ver nos teus olhos a transbordante ternura de que falamos

E essa é a única coisa que nos salva da morte.

Eu tenho que terminar contando-te

Que às vezes quando penso em ti

Imagino-te pássaro e areia

E vais ver o quão terno eu me imagino nas tuas mãos.

 

(Tradução de Nicolau Saião)


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