PÁSSARO
E AREIA
Sei
que é muito difícil pensar em ti com as mãos feridas pela saudade
ainda
imagino como as tuas palavras cantam com ternura
A
voz alegre e sangrenta com a qual tu imitas os pássaros
As
batidas dos teus dedos destruindo a distância
-
Acho que nesse arpejo tu resumes toda a tua tristeza -
Às
vezes acho que tu és uma palavra melancólica que se perde nas tardes
Achas
estranho pensar assim?
E
é que em ti às vezes também é fácil perceber a solidão moderna com que amaldiçoas as ruas.]
O
golpe terrível com que quebras os vazios.
Tu
podes estar preocupada com a mediação que existe no homem morto e na arma]
E
talvez te preocupes com o sorriso caricioso das crianças perdidas
E
podes preocupar-te com a borda delineada empilhada com os mortos
É
por isso que me encontro em ti
Porque
é fácil ver nos teus olhos a transbordante ternura de que falamos
E
essa é a única coisa que nos salva da morte.
Eu
tenho que terminar contando-te
Que
às vezes quando penso em ti
Imagino-te
pássaro e areia
E
vais ver o quão terno eu me imagino nas tuas mãos.
(Tradução de Nicolau Saião)
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