terça-feira, 23 de agosto de 2022

Perguntas de Lino Mendes, respostas de NS

 

A NOSSA LÍNGUA

 

1)- A LÍNGUA é viva porque naturalmente aparecem novas palavras e, as que existem, podem passar a ter (mais) outros significados?

Entretanto há quem considere que “os idiomas se adaptam às pressões do ambiente e são determinados pela estrutura social dos seus falantes". E que as línguas mais faladas tendem a ser mais simples.

O que tem a dizer sobre o assunto?


NS – Sim, tudo isso tal como refere.

 Os idiomas adaptam-se, tal como é aqui dito – mas nunca um idioma pode ser forçado a adaptar-se, mais grave ainda se o for por motivos de baixa política ou por oportunismo de qualquer ordem (comercial, industrial, etc)!

  A adaptação é um facto natural e que decorre de uma progressiva junção da passagem do tempo e das transformações que essa passagem produz. Nunca pode ser forjada artificialmente – no caso de o ser só produzirá frutos mortos, tal como sucede com o famigerado acordo ortográfico: imprudente, ridículo e frequentemente insano.

 A língua é um instrumento de comunicação. Se a comunicação (como na nossa sociedade fundamentalmente dominada por ritmos ao serviço do interesse imediatista dos grupos argentários) se vulgariza ou primariza, é lógico que a língua se torne mais simples (eu diria antes mais simplista ou, mesmo, mais simplória…).

 

2)-Concorda que as novas “entradas” nos dicionários se verifiquem ao critério dos editores, e não haja uma “comissão científica” que o avalize?


 NS – Não concordo. Deixar-se tal caso ao critério dos editores é semelhante a deixar-se ao critério de um qualquer editor a estruturação de um livro de zoologia, ou de química, ou de física…

  A língua é um organismo vivo, parafraseando Aristóteles e que, deixado ao sabor de gentes frequentemente interesseiras, pode sofrer tratos de polé que o magoem irreversivelmente.

 

3)-O que justifica a alteração ortográfica? Por exemplo, a alteração de “pharmácia” por “farmácia”.


NS - Há simplificações que fazem sentido – quando tal não colide com a clareza, a adequação e, digamo-lo também, a própria elegância linguística.

  Mas nada justifica que se altere uma língua porque tal foi exigido ou ardilosamente sugerido por entidades políticas, etc, visando apenas a subordinação de um povo falante e escrevente (com uma determinada criatividade!) a interesses de momentâneos dominadores, de talha grosseira ou oportunista ainda por cima!


4)-Não seria antes de considerar uma “Língua–Mãe” sendo as outras suas sucedâneas? Não será que o grande problema está no “falar” e não no “escrever”?


 NS – Falemos claro! Sem subterfúgios e sem temores estimulados pelo “politicamente correcto” ao serviço dos que, fingindo-se democratas, não o são realmente. A língua portuguesa é a língua criada pelo colectivo português, pelas gentes de Portugal. Depois, é de levar em conta que esse falar e escrever portugueses, tendo navegado para outros locais e sendo adoptado por outras gentes, muito legitimamente ganhou outros tons e outras características. É o falar, o escrever, de outras humanidades. Muito próprio e muito digno! Mas não se venha exigir que nós, por sermos menos milhões que esses milhões de falantes, abandonemos a nossa especificidade, constrangendo-nos a falar de forma artificial, escrever de forma artificial com o único intuito de, sabe-se lá por quanto tempo, os donos do nosso viver colectivo fazerem mais facilmente negócios e abancarem melhor à mesa dos banquetes em que se envolvem com outros da mesma igualha, como eles fazedores de fortuninhas!


5)-Haverá outros interesses para além do “cultural"?


NS – Eu diria mesmo mais, como os primos Duponts do Tintin: interesses culturais devem ser a última coisa em que esses fabianos pensaram/pensarão…! E tem-se visto, agora que já passaram uns anos sobre o desconchavo, que interesses culturais só lá estarão para disfarçar a protérvia e nada mais!


6)-Agradeço que acrescente tudo o que considere de essencial…


NS – Apenas acrescentaria que é triste, é lamentável, que se tenha artilhado uma manobra deste tipo (acordo ortográfico) que não foi acordo nenhum, mas apenas a maneira de curvar a língua portuguesa, de forma arbitrária, autoritária e ardilosa, a manobrismos de baixa estirpe e muito baixa cultura. Desta pessegada não saiu nada de válido, nada de cultural se acrescentou. Apenas ficou provado como gentes de letras grossas (ou grossistas…de tipo em estilo intendência) pode agir impunemente ou quase por dispor do poder político. Imagina-se, por exemplo, a França ou a Inglaterra, países que têm espinha dorsal linguisticamente falando, a alterarem o seu idioma para agradarem ou acatitarem seja quem for? Eu diria que a alteração que esses mandantes têm tentado e estabeleceram como regra abstrusa lhes retrata a figura: gente sem decoro e sem verticalidade… para mais não dizer. E por aqui me fico…!


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