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TRATADOS DA SOMBRA
3. O que discute sempre o poema é a ideia
da personalidade. Somos gloriosos na paródia
de nossos próprios atos. Será este o
progresso
da consciência? Há uma grave teia de
anomalias
que se fia na expressão dos dias. Whitman
dilacerado por sua humanidade, Bataille
deslocado
por seu riso solto. Quais os antecedentes
conjurados da dor, as sombras pronunciadas
por suas visões? À luz particular de cada
cena as ideias são sempre distintas. O poema
não repercute senão o material de sua
memória.
Desconfia do homem quando se recusa a criar.
Ressurgem as formas da dor de sua
metafísica:
– "muda-me a cada toque o tolo que sou
em ti".
4. O poeta cai de suas metáforas. Ensaiamos
o enigma comum de situação e lugar, porém
não suportamos o peso das coisas que em nós
se preparam. Sempre ignoramos o espetáculo
de nossas ruínas, distinto cenário onde atua
o homem como o verme da própria espécie.
Ainda que se renove o poeta com suas perdas,
resta um raminho ausente, uma corda, uma
visão
da beleza, uma ilusão do ser, algo que torna
incessante a queda e o poema um código de
falhas.
Na cena que se retrata, o mesmo súbito
relâmpago:
– "O que fiz de ti?" – Livro
decomposto
em repetições. Hamlet encharcado de ilusões.
Haverá sempre algo ali, impossível de se
seguir.
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