terça-feira, 12 de julho de 2022

Quatro poemas de Rui Magalhães

 

Ele segue a corrente até antes da fonte

e aí observa as nuvens

reflectidas na terra pura.

É esse o seu modo de tornar-se cego

e de esquecer a bondade que lhe tenta o coração.

 

*

 

Pela madrugada

quando o sol nasce e a noite se apaga

o viajante compreende que o prodígio da luz

traz com ele o esquecimento das memórias mais sagradas.

Deixa por isso que o fogo esmoreça

e parte em busca da verdadeira noite.

 

*

 

O viajante é também um peregrino do silêncio.

Nessa condição observa os pássaros

e espanta-se com a filosofia que eles esbanjam

num rumor de alegria.

Os pássaros fazem-lhe lembrar o que ficou para trás

a condenação que o fez viajante

e a viagem que o fez homem.

 

*

 

À medida que se aproxima da presa

aumenta-lhe a tensão na alma

e nas pernas sente o coração acelerado.

Ao contrário

a presa completamente pacificada com a sua sorte

ignora sabiamente a ansiedade do caçador.

É assim que presa e caçador são acolhidos

pelo bosque magnânimo que a ambos condena.


in O viajante exposto à verdade das coisas


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