Este
livro de Ernesto Rodrigues (1956) parte da história de uma família: «Eu tinha
dez anos quando meu avô morreu, no Natal de 1966. Defensor do homem livre aquém
e além-Atlântico, aventurou-se na terceira margem – a da dignidade – que exige
independência de corpo e espírito, sejam indivíduos ou nações. Cumprindo
promessas, escrevo esta história, sem ficção, como um sorriso de criança.» A
amplitude do tempo da narrativa é 266 anos centrada no avô do narrador
(1870-1966) e a sua geografia inclui Rio de Janeiro, Lisboa, Torre de Dona
Chama, Ponta Delgada, Porto, Londres, Paris e Budapeste. Sendo a narrativa a
saga de uma família (assunto particular) integra na sua tessitura várias
figuras públicas das Artes e das Letras (assunto geral) como Marcos Portugal, Gomes
Freire de Andrade, Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Correia Garção, Castro
Alves, Joaquim Nabuco, Machado de Assis ou Jaime Batalha Reis. Há sempre um
fundo público e geral no discurso privado e particular como na página 28: «A
vida de soldado não é melhor. – Lá isso… Um soldado a mais é um lavrador a
menos. É a terra que perde.» Um outro exemplo, página 50: «O primeiro choque
deu-se numa esquina discreta: um senhor vendia um negro a preço módico «por ser
dia de festa». Vendia um ser humano assim, sem estados de alma, como se fosse
um objecto triste, disponível, arrematável. O céu, impávido.» O título do livro
tem base na página 54: «Nas margens estreitas das ruas, caminhavam pela
terceira». O que fica de ontem para hoje é claro na página 91: «A má vontade
contra os portugueses espalhava-se na sombra das conversas». Um livro a não
perder.
(Editora: Guerra e Paz, Foto da capa:
Marc Ferrez, Design da capa: Ilídio J.B. Vasco, Paginação: André Cardoso,
Revisão: André Morgado, Apoio: Câmaras Municipais de Mirandela e de Bragança)
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