terça-feira, 26 de julho de 2022

Dois poemas de Jean Hautepierre (trad. de Cristino Cortes)

 

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PLUTÃO

 

Eu sou Aquele que reina no meio dos Infernos,

Senhor dos tormentos e das escuras margens

E dos grandes medos que roem os rostos,

E das sombras gritando no retinir dos ferros!

 

Reino sobre um povo acabrunhado pelo sofrimento,

Embriagado pelos cantos duma infelicidade eterna.

Sísifo excitado que se esmaga e recomeça;

O Estige e o Aqueronte correm no seu fluxo vencedor.

 

Eu vejo o infinito, pálido de indiferença,

O meu imenso universo de chamas e de noite

Acompanhado pelo Cerbero - e como ele eu me aborreço

Porque eu já vi muitas coisas, demasiado vi esta sombria batalha

Em que a Dor, a minha mestra, nunca fica satisfeita;

E na longa noite pelas nuvens percorrida,

Pelas chamas, pelas fúrias roendo as carnes feridas,

Dilacerando tudo com o seu infindável e terrível ardor,

O meu escravo, o Tempo, o grande Perseguidor.

 

 

DEMÉTER

 

Os campos inteiros, extensões douradas

Agitavam-se ao vento, orgulhosas vítimas,

E o fogo que dourava as suas extremidades

Jamais teve um tão belo cenário;

 

E na imensidão do azul, qual ilha majestosa,

Uma nuvem branca atravessando os céus

Rolava com lentidão a sua massa volumosa

As suas catedrais de água e sonhos enevoados.

 

De repente, estalando as suas paredes numa dança eterna,

Fazia cair sobre tudo as pesadas chuvas de Verão,

Brilhante, fugida das sombras e da ausência,

Trotava sobre um carro de ouro, no ar imaculado,

A loura Deméter, a rainha dos campos de trigo.


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