terça-feira, 19 de abril de 2022

Dois poemas de H. P. Lovecraft

 


Greta Knutson



A COLINA DE ZAMÁN

 

  A grande colina erguia-se perto da velha cidade,

  Um penhasco contra o fundo da rua mais povoada;

  Verdejante e cheia de bosques, cá de baixo parecia escura

  E dominava com a sua altura

  O campanário junto à curva da estrada.

 

  Há duzentos anos que se ouviam rumores

  Sobre o que ocorria nessa ladeira que o homem devia evitar ...

  Histórias de veados e de pássaros estranhamente mutilados

  Ou de garotos perdidos cujos pais tinham cessado de esperar.

 

  Certo dia o carteiro não achou o povoado no seu lugar

  E ninguém voltou a ver os habitantes ou as casas;

  As pessoas vinham de Aylesbury e ficavam-se a olhar...

 

  No entanto, todos diziam ao carteiro que era um ingénuo

  Ou estava louco   por dizer que conseguira descortinar

  Os olhos carnívoros das altas colinas e as bocarras

  Abertas de par em par.

 

 

O PORTO

 

  A dez milhas de Arkham descobrira um carreiro

  Ao longo da falésia alcantilada de Boyton Beach

  E aguardava o momento em que o ocaso coroa

  A crista que assoma por sobre o vale de Innsmouth.

 

  Ao longe, no mar alto, uma vela vogava

  Branqueada por árduos anos de velhos ventos,

  Carregada com o mal de algum facto inexplicável.

  E não ergui, assim, mão ou voz para saudá-la.

 

  Veleiros de Innsmouth! Ecos de idas memórias

  De tempos já longínquos; a noite ia caindo,

  Bem cerrada, quando cheguei ao topo

  De onde era meu hábito olhar a povoação.

 

  Além estão os campanários e os telhados... Mas, olhai!

  As trevas

  Propagam-se nas ruas, tenebrosas como tumbas!


(Tradução de Nicolau Saião)

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