terça-feira, 15 de março de 2022

Um poema de Floriano Martins

 

Sou eu: o nome, as letras
em que te arrastas, as perguntas que iniciam
a travessia de tua dor.

Noite inquieta sob escombros.
Delicado tambor das tormentas. Tua sombra vem vindo
ao ninho de minhas sílabas errantes.

Tua sombra erguida. Intimidade de cinzas
onde a dor o lábio toca. Formas ressurgidas do caos.
Prolongas teu ser em tudo o que me falta.

Noite submersa em tremores.
Esplendor de infernos devassados. Pousa tua mão
na esfera crepitante de meus sentidos.

Uma prova: o livro que conduz
ao templo. Missal de cinzas. Teu corpo soprado mil vezes,
a queimar mais e mais longe de ti.

 

in “Tumultúmulos” (1994)


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