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CONSULTA DE
ROTINA
- Então, doutor,
como tem passado? Pergunta logo o clínico
Que há muito
conheço e com o qual é a confiança
Já grande. Ambos
sabemos bem não ser muita a esperança
De os hábitos
agora alterar… Mera gestão de danos
Vamos fazendo, o
passado não se pode substituir
Nem a inércia que
transporta. Felizmente há as drogas.
Sobre elas o
médico escreve, não pára, e quase acorda
Quando lhe
pergunto se posso ser claro e grosso. Inferir
É com ele, mas o
que eu observo, desculpar-me-á a franqueza
E desfio queixas
várias, constantes ou intermitentes
Do foro de
diversos órgãos. Mais ou menos persistentes
Incómodas,
ridículas… Fica abalado, vejo-lhe a surpresa
- Não exagere,
diz ele. Calma e verá que tudo se trata
Tome mais isto e
aquilo… Se o não curar também o não mata.
EXPECTATIVA
Não estou
particularmente preocupado. À cautela
Conservo no
entanto a agenda livre. Adiei, não marquei
Novos
compromissos a que agora não sei se poderei
Dar vazão ou cumprimento.
É uma temporal janela
Assim
salvaguardada, talvez por prudência e precaução.
Nas mãos da
medicina mais moderna me entrego, coisa pouca
Mas às vezes o
diabo está nos pormenores, é ele a louca
Da casa, não é
garantido o prognóstico do cirurgião.
Tenho fé na
estatística, na sorte confio, o optimismo
Não me abandonou.
Mas mesmo assim convém estar preparado.
Conformado aceito
esse custo num tempo um tanto alongado
Mais um na
multidão, na capoeira não cabe qualquer heroísmo…
Vou gerindo o
calendário, processo que hoje tem o seu início
E no fim logo se
verá … quão longo o provisório sacrifício.
in “18
Poemas de Hospital”
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