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AQUELES QUE
NUNCA SE ENCONTRARAM
Aqueles que nunca se encontraram,
Atravessando a noite dos lugares e
das idades,
Procuraram longamente sobre mil faces
E sobre mil palavras, entre eles murmuradas,
O eco doloroso do vento que espalha
Dourados e nuvens, tristes nevoeiros
Sem tréguas e sem alegria, a sombra
dos olhares,
Esses olhos sem esperança, os únicos
que eu amo.
Mas eles partiram, tão cansados!, e
sonhadores,
Na noite sem fim do seu destino,
Tornando vão o coração e maldita a
alma
Num desleixo de mil dores.
Teríamos vivido dias cheios de
glória,
Dias desconhecidos, dias triunfantes…
Dos que sempre afagam a memória
E os corações demasiado velhos de
pálidas crianças.
Mas o tempo vencedor, a hora
retumbante,
Levam-nos bem longe, nos seus
abandonos,
Àqueles que jamais conheceram esta
vida,
Numerosos, por vezes filhos das
pálidas estações.
ODE À
ALEGRIA
Ah, não falemos mais desta longa
tristeza,
Dos sonhos desfeitos, das esperanças
cansadas,
Que nos magoaram por excesso de
carícias
Não nos perdoando não as termos
visto.
Esqueçamos também os dias de
indiferença
Em que acreditámos poderíamos
repousar…
Mas isso foi, oh meu Deus, a mais
triste errância;
Saberíamos nós ainda tudo recomeçar?
Nesta tarde eu quero uma ode cheia de
alegria,
Cheia de juventude, de risos e
algazarra,
Bem afastada duma sombra preguiçosa,
Do velho desespero, e dos nossos dias
tão desanimados…
Porque nós estaremos sentados, ou de
pé à volta das mesas
E alegres, cheios de risos
formidáveis!
E o fogo crepitante lançará os seus
reflexos
Na noite, nos nossos olhos e nos
nossos corações.
Elvira dançará lentas melopeias,
Nós beberemos cantando infinitas
alegrias
- E, livres, vencedores, orgulhosos
dos nossos anos
Amaremos sem fim no calor das noites.
O Autor - JEAN HAUTEPIERRE nasceu
em Lille, França, em 1967. Além de poeta (Prélude au siège, 1989), é também
dramaturgo, com várias tragédias em verso (Néron, Tristan et Yseult, Louis
XIII), algumas das quais foram representadas. A epopeia Le Siège é de 2007. Tem
dedicado especial atenção à promoção do teatro contemporâneo em verso. Traduziu
a poesia completa de Edgar Allan Poe (em 2008), de que foi produzido um recital
em 2010 no Teatro de Nesle, em Paris. Traduziu também a correspondência entre
Fernando Pessoa e Aleister Crowley (Les secrets de la Bouche de l’Enfer, 2015).
Publicou uma narrativa à maneira de Lovecraft, Les Hurlements de la vallée
maudite, em 2005. Intervem na imprensa, na rádio e na Internet. Recebeu o
Prémio da Sociedade dos Amigos de Maurice Rollinat, de que é membro destacado.
Prepara actualmente uma edição das
suas obras poéticas não teatrais, Les Idoles, 1982-1986 e Le testament de la
Licorne, criação poética após 1986. Membro da Maison de la Poésie, em cuja
revista Le Coin de Table tem publicado poemas, e da Fondation Émile Blémond.
Promoveu a obra de outros poetas, publicando de 1995 a 2007 o boletim La Lettre
de Jean Hautepierre, em que trimestralmente inseria antologias de poetas
contemporâneos.
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