quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Dois poemas de Jean Hautepierre traduzidos por Cristino Cortes

 


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AQUELES QUE NUNCA SE ENCONTRARAM

 

Aqueles que nunca se encontraram,

Atravessando a noite dos lugares e das idades,

Procuraram longamente sobre mil faces

E sobre mil palavras, entre eles murmuradas,

O eco doloroso do vento que espalha

Dourados e nuvens, tristes nevoeiros

Sem tréguas e sem alegria, a sombra dos olhares,

Esses olhos sem esperança, os únicos que eu amo.

Mas eles partiram, tão cansados!, e sonhadores,

Na noite sem fim do seu destino,

Tornando vão o coração e maldita a alma

Num desleixo de mil dores.

 

Teríamos vivido dias cheios de glória,

Dias desconhecidos, dias triunfantes…

Dos que sempre afagam a memória

E os corações demasiado velhos de pálidas crianças.

Mas o tempo vencedor, a hora retumbante,

Levam-nos bem longe, nos seus abandonos,

Àqueles que jamais conheceram esta vida,

Numerosos, por vezes filhos das pálidas estações.

 

 

ODE À ALEGRIA

 

Ah, não falemos mais desta longa tristeza,

Dos sonhos desfeitos, das esperanças cansadas,

Que nos magoaram por excesso de carícias

Não nos perdoando não as termos visto.

 

Esqueçamos também os dias de indiferença

Em que acreditámos poderíamos repousar…

Mas isso foi, oh meu Deus, a mais triste errância;

Saberíamos nós ainda tudo recomeçar?

 

Nesta tarde eu quero uma ode cheia de alegria,

Cheia de juventude, de risos e algazarra,

Bem afastada duma sombra preguiçosa,

Do velho desespero, e dos nossos dias tão desanimados…

 

Porque nós estaremos sentados, ou de pé à volta das mesas

E alegres, cheios de risos formidáveis!

E o fogo crepitante lançará os seus reflexos

Na noite, nos nossos olhos e nos nossos corações.

Elvira dançará lentas melopeias,

Nós beberemos cantando infinitas alegrias

- E, livres, vencedores, orgulhosos dos nossos anos

Amaremos sem fim no calor das noites.

 

*

O Autor - JEAN HAUTEPIERRE nasceu em Lille, França, em 1967. Além de poeta (Prélude au siège, 1989), é também dramaturgo, com várias tragédias em verso (Néron, Tristan et Yseult, Louis XIII), algumas das quais foram representadas. A epopeia Le Siège é de 2007. Tem dedicado especial atenção à promoção do teatro contemporâneo em verso. Traduziu a poesia completa de Edgar Allan Poe (em 2008), de que foi produzido um recital em 2010 no Teatro de Nesle, em Paris. Traduziu também a correspondência entre Fernando Pessoa e Aleister Crowley (Les secrets de la Bouche de l’Enfer, 2015). Publicou uma narrativa à maneira de Lovecraft, Les Hurlements de la vallée maudite, em 2005. Intervem na imprensa, na rádio e na Internet. Recebeu o Prémio da Sociedade dos Amigos de Maurice Rollinat, de que é membro destacado.

Prepara actualmente uma edição das suas obras poéticas não teatrais, Les Idoles, 1982-1986 e Le testament de la Licorne, criação poética após 1986. Membro da Maison de la Poésie, em cuja revista Le Coin de Table tem publicado poemas, e da Fondation Émile Blémond. Promoveu a obra de outros poetas, publicando de 1995 a 2007 o boletim La Lettre de Jean Hautepierre, em que trimestralmente inseria antologias de poetas contemporâneos.


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