ENQUANTO O DIA BRILHA
Lat mig verka
mellan dagen brinner.
Carl
Milles
Enquanto
o dia brilha – que eu trabalhe.
E
brilha tarde o muito longo dia do estio.
Sobre
ele não chega quase a cair a escuridão.
Mas
dentro nem sempre arde já o mesmo fogo.
A
obra é tantas vezes sombra e quiçá logro.
A
cada dia o tempo encurta a própria vastidão.
A
mão por vezes treme e a tesoura o fio
ameaça
cortar. Que o corte nos não calhe!
Olho
para o tempo imaginário que se esvai.
O
poente avista-se agora já no horizonte.
A
mão já não pode obedecer como inda agora.
Porém,
o olhar encontra na memória, aonde vai,
o
teu olhar sereno – e aí bebe a sua fonte.
Ardendo
ainda, em ti pacificado é que ele demora.
QUARENTA
E SEIS
Traz
o calor no verão os frutos
Traz
o ar tépido memória de uma pátria
O
pêssego com sua carne tenra
O
melão as graínhas A semente que somos
A
pera A maçã com seu perfume antigo
Exalando
A casa no verão pousada
E
as cerejas vermelhas as cerejas brancas
A
cerdeira por sobre o muro nos caminhos
E
o morango tão raro O morango
quando
o morango era raro As amoras
As
amoras no pó da estrada Os figos
com
seu ventre aberto sua areia cariciosa
E
as bagas sem nome Céu de outras esferas
No
verão demoras com os frutos
Amadurece
a memória de uma boca
O
fruto de uma pátria A pátria de um sabor
De
ti que trazes frutos Que és o fruto
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