Carlos Álvarez Cruz - Jerez de la Frontera,
dezembro de 1933.
De família
republicana, o seu pai foi fuzilado durante a guerra civil. Mais tarde, passou
alguns anos na prisão pela sua oposição ao franquismo, chegando a conhecer o
exílio. Esses eventos marcaram profundamente a sua obra poética.
Participou
na homenagem ao poeta Antonio Machado em Baeza, em 20 de fevereiro de 1966,
organizada, entre outros, por Jesús Vicente Chamorro.
Foi
finalista do Prêmio Antonio Machado com a obra “Escrito nas paredes”. A
tradução dinamarquesa desta obra propiciou-lhe o prêmio bienal Lovemanken para
poetas dinamarqueses em 1963.
Autor,
entre outros, dos poemários “O uivo do lobisomem”, “Os poemas do bardo”,
“Papéis encontrados por um preso”…
A sua
poesia, inventiva e frequentemente experimental, tem também claros indícios de
empenhamento social. (ns)
OS DIAS QUANDO NASCEM SÃO OS MESMOS
Os
dias, quando nascem, são os mesmos.
Nenhum
presságio anuncia o que se esconde
e espreita
pela sua cobertura.
A
luz do sol que invade lentamente
os
objetos, o sonho,
vai
despovoando o túmulo de imagens.
Diário
onde
um lento cansaço nos avisa
muito
pontual e teimoso a cada ciclo
do
retorno final ao seu começo,
o
sol,
nunca
é uma garantia da luz plena,
satisfação
alcançada, trabalho preciso,
viagem
brilhante.
Porque
no final do dia existe a morte,
e,
no meio, as palavras antigas
aquela
marca como fogo,
que
gostam do veneno que nos enevoa ...
e
a lua ...
e
a lua, meu amor, assalta-me por vezes
vinda
do espelho mais inofensivo,
(se
houver um espelho que possa ser sem culpa)
e do
canto onde dorme uma árvore.
(se
houver uma árvore sem um galho balançando).
PARA
MIM NÃO HÁ LUGAR
Não
há lugar para mim. O homem tem isso
de
comum entre os homens, como o lobo
o
tem na sua ninhada.
Todos
sabem o porquê e o onde
da
sua raiz semeada ...
e
o canal do seu impulso, e como dar ao vento
a
vela desdobrada
dar
ao filho um dia distante
a
tocha levantada
e
gentilmente apoiar a sua cabeça
maculada
no seu travesseiro.
Só
eu fiquei sem uma resposta
sobre
a encruzilhada
onde
na luz mais branca da noite
a
pegada é notada
de
um homem que mata, e de um lobo
de
inocente mirada.
(Tradução de nicolau saião)
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