quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Dois poemas de Carlos Alvarez

 


   Carlos Álvarez Cruz - Jerez de la Frontera, dezembro de 1933.

   De família republicana, o seu pai foi fuzilado durante a guerra civil. Mais tarde, passou alguns anos na prisão pela sua oposição ao franquismo, chegando a conhecer o exílio. Esses eventos marcaram profundamente a sua obra poética.

   Participou na homenagem ao poeta Antonio Machado em Baeza, em 20 de fevereiro de 1966, organizada, entre outros, por Jesús Vicente Chamorro.

   Foi finalista do Prêmio Antonio Machado com a obra “Escrito nas paredes”. A tradução dinamarquesa desta obra propiciou-lhe o prêmio bienal Lovemanken para poetas dinamarqueses em 1963.

   Autor, entre outros, dos poemários “O uivo do lobisomem”, “Os poemas do bardo”, “Papéis encontrados por um preso”…

   A sua poesia, inventiva e frequentemente experimental, tem também claros indícios de empenhamento social. (ns)

 

OS DIAS QUANDO NASCEM SÃO OS MESMOS

Os dias, quando nascem, são os mesmos.

Nenhum presságio anuncia o que se esconde

e espreita pela sua cobertura.

A luz do sol que invade lentamente

os objetos, o sonho,

vai despovoando o túmulo de imagens.

Diário

onde um lento cansaço nos avisa

muito pontual e teimoso a cada ciclo

do retorno final ao seu começo,

o sol,

nunca é uma garantia da luz plena,

satisfação alcançada, trabalho preciso,

viagem brilhante.

Porque no final do dia existe a morte,

e, no meio, as palavras antigas

aquela marca como fogo,

que gostam do veneno que nos enevoa ...

e a lua ...

e a lua, meu amor, assalta-me por vezes

vinda do espelho mais inofensivo,

(se houver um espelho que possa ser sem culpa)

e do canto onde dorme uma árvore.

(se houver uma árvore sem um galho balançando).

 

 

PARA MIM NÃO HÁ LUGAR

 

Não há lugar para mim. O homem tem isso

de comum entre os homens, como o lobo

o tem na sua ninhada.

Todos sabem o porquê e o onde

da sua raiz semeada ...

e o canal do seu impulso, e como dar ao vento

a vela desdobrada

dar ao filho um dia distante

a tocha levantada

e gentilmente apoiar a sua cabeça

maculada no seu travesseiro.

Só eu fiquei sem uma resposta

sobre a encruzilhada

onde na luz mais branca da noite

a pegada é notada

de um homem que mata, e de um lobo

de inocente mirada.

 

(Tradução de nicolau saião)


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