quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Maria Estela Guedes, Graffiti em bifes de peru

 

                                                                            Para a Maria Azenha

Ela sonhou que eu escrevia poemas
Em bifes de peru…
Porquê, Federico?
Ora, porque leu aqueles em que uso cálamo,
Giz, bic esfera fina
                            Rotring, lápis, tablet
Saltando, de resto, sobre a saudosa Tippa
- era a marca da minha máquina de escrever –
E saltando também sobre computadores
                     De modelos do Jurássico
Até chegar ao Amstrad e outros que tais…
Hoje tenho um laptop muito bom
                      Pequeno
Leve e veloz como um galgo
                               Sofisticado
                                     É nele que escrevo agora.

Deixei o bife a marinar na expectativa
De agulhas que não sejam agressivas
Apontem só para a tatuagem…
                 Não escreviam os antigos
Em curtido
E porventura fedorento pergaminho?
Gosto dos materiais de escrita
Gosto de manuscrever
                             Saudades que sinto
De grafitar postais ilustrados
                          E papel vegetal com marcador
                                 Dourado e tinta-da-china!        

Foi isso, Federico,
                  O que a levou aos bifes de peru
Isso e alguma carnuda obesidade.
Tendes toda a razão.
Acho que já escrevi numa dúzia de suportes
E com ferramentas várias
                    Falta só escrever sobre um corpo
        Moreno, cheiroso a vinho novo
Todo com dedos de agulha grafitado.


Do livro Conversas com Federico García Lorca (inédito)


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