João Garção
01 | ¿Ante de las noticias de prensa te
sientes más cerca o lejos del mundo que allí te informan?
Resposta
NS – Depende do jornal…e do jornalista. Umas deixam-me mais próximo, outras
afastam-me, porque infiro que me estão a mostrar um mundo apenas virtual e
enganoso, por razões que tenho por falaciosas ou mesmo retintamente falsas.
02 | ¿Alguna vez llegaste a una
conclusión satisfactoria sobre el motivo que te lleva a escribir o este acaso
es un tema que jamás te preocupó?
R
– Claro que me preocupou, digamos, ou melhor: me intrigou. No meu caso pessoal
concluí que escrevo
para não morrer, como afirmei
recentemente numa entrevista dada a um poeta brasileiro. Neste não morrer fica tudo incluído: a solidariedade com os
seres e as coisas, o trabalho específico da demanda na escrita, o perfume
de viver (título dum trabalho meu), a
amargura de ter que deixar o mundo, tudo o que nos faz ser homens no universo.
03 | Reflexionando sobre la tradición
literaria de tu país, ¿Cuáles libros crees que nunca deberían haber sido
escritos y por qué motivo?
R
– Sem personalizar - também porque um rol cabal seria extenso e atravancaria
uma resposta salubre e sucinta: aqueles livros que alguns escrevem para
estabelecer o domínio de opressões sociais, religiosas ou políticas. Ou seja,
todos os livros desses “escritores” que fazem das suas obras nefandas armas de
extermínio moral, que geralmente tenta preceder outros extermínios.
E, também, aqueles livros medíocres que as
capelinhas infames dum meio societário infame tentam epigrafar como valorosos,
criando o ambiente lamentável da mentira e da burla intelectual.
04 | ¿El método de trabajo es fundamental
y indispensable a la creación artística?
R
– É, pelo menos, muito útil para que a criação artística chegue a bom porto.
Picasso referia que uma obra de arte é um terço de inspiração e dois terços de
transpiração e eu estou em crer que assistia muita razão a esta aparente
“boutade” do grande pintor malaguenho.
05 | Cuando estás en algún lugar público
en que tocan el himno de tu país, ¿cómo reaccionas y por cuál razón?
R
– Sinto simultaneamente gosto e vergonha: gosto porque esse hino existe na
sequência da instauração de uma sociedade que se buscou mais justa
(republicana) e porque sintetiza ideais de liberdade e democracia. Vergonha
porque esse hino é também usado por gente desacreditada, mesmo nefasta, que se
serve dele para lançar poeira nos olhos dos cidadãos sobre os quais tripudia
cinicamente.
06 | ¿Cuál acontecimiento en tu país, en
los últimos 25 años, te provocó indignación?
R
– Vou generalizar: a contínua e perversa mancebia, o repugnante conúbio, em que
têm vivido certos sectores políticos arrivistas e o totalmente desacreditado,
dum ponto de vista ético, sistema judicial em que se espojam governantes,
causídicos, magistrados e forças obscuras de irmandades. É isso que
constitui o cancro que está a destroçar o meu país.
Sem
generalização: as tentativas imperiosas surgidas ultimamente de instaurar de
novo a censura e o controle do pensamento, por parte de magistrados altamente
colocados e de áulicos políticos sempre dispostos a tudo e prontos para tudo.
07 | Arte, ciencia, religión – ¿Cuáles
de esas tres corrientes, a lo largo de la historia de la humanidad, causó más
daño al hombre?
R
– A religião, sem qualquer dúvida. E que continua a causar. Pese às declarações
piedosas dos chefes de todas
as religiões, estas não são mais que instrumentos de
domínio mental, espiritual, físico e social. O que individualmente ou
sectorialmente possam ter feito de positivo certos indivíduos ou instituições
não oblitera ou apaga os crimes e sufocações que fizeram e continuam a fazer as
chamadas “religiões reveladas”. Elas partiram, na verdade e continuam a
apoiar-se, na simulação e na impostura. Nos casos mais marcados, na violência
nua e crua e no crime, conceptual ou expresso pela repressão.
08 | ¿Crees que la vida de una persona
puede ser regida, de manera separada, por la lógica o por la suerte?
R
– Creio que por ambas. Tem alguma lógica, por exemplo, que Evariste Galois, um
dos maiores matemáticos de todos os tempos (o criador do “grupo de operações”),
tenha morrido aos 22 anos na sequência de um duelo para defender a honra duma
senhora que mal conhecia e tenha levado a noite que o precedeu a escrever as
trinta e tal páginas que imortalizariam o seu nome?
Talvez
tenha, mas é uma lógica que me escapa…
09 | ¿El mito aun existe o no pasa de un
efecto publicitario aplicado a la industria, a la moda, al consumo?
R
– Acho que existe ainda. Mais: que certos artistas o têm purificado e até
incrementado. No entanto, sem dúvida que os donos dessas áreas que referes,
sempre ávidos e frequentemente oportunistas, o tentam poluir, deformar,
capturar para servir os seus duvidosos interesses. Compete-nos a nós, criadores
e homens de bem, à guisa de bravos guardiões da Távola ou do Segredo,
preservá-lo e mesmo vivificá-lo.
10 | ¿Cuáles son los actos más
importantes sucedidos en la cultura en general, y en la literatura en particular,
en los últimos 25 años en tu país?
R
– O aprofundamento da liberdade de expressão, por um lado. A possibilitação,
nomeadamente mediante os meios interactivos, da difusão de obras de qualidade
que os sectores egoístas ou cínicos, que dominam certos meios editoriais,
doutra forma teriam impedido ainda
mais fortemente de aparecerem à luz dos dias…e das montras.
CODA | ¿Cómo convives con los seres que
están en tu vida?
R
– Há, feliz e infelizmente, vários tipos de seres que quer queiramos quer não estão
na nossa vida: os que amamos/estimamos e nos amam/estimam; os que detestamos ou
nos detestam; os que vivem noutro plano (animais e vegetais) e, finalmente, os
que sem estarem já connosco no entanto vivem na nossa memória. Com os primeiros
convivo bem, sulcados ambos pelos ritmos do tempo. Com os segundos não convivo,
ou convivo sob a égide do desprezo salutar que lhes voto. Com os terceiros
relaciono-me através do apreço e do carinho de ser vivente. E com os quartos
mediante a saudade e a nostalgia mais pura.
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