segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Nicolau Saião – Entrevista dada à revista mexicana BLANCO MOVIL



João Garção



 01 | ¿Ante de las noticias de prensa te sientes más cerca o lejos del mundo que allí te informan?

 

Resposta NS – Depende do jornal…e do jornalista. Umas deixam-me mais próximo, outras afastam-me, porque infiro que me estão a mostrar um mundo apenas virtual e enganoso, por razões que tenho por falaciosas ou mesmo retintamente falsas.

 

02 | ¿Alguna vez llegaste a una conclusión satisfactoria sobre el motivo que te lleva a escribir o este acaso es un tema que jamás te preocupó?

 

R – Claro que me preocupou, digamos, ou melhor: me intrigou. No meu caso pessoal concluí que escrevo para não morrer, como afirmei recentemente numa entrevista dada a um poeta brasileiro. Neste não morrer fica tudo incluído: a solidariedade com os seres e as coisas, o trabalho específico da demanda na escrita, o perfume de viver (título dum trabalho meu), a amargura de ter que deixar o mundo, tudo o que nos faz ser homens no universo.

 

03 | Reflexionando sobre la tradición literaria de tu país, ¿Cuáles libros crees que nunca deberían haber sido escritos y por qué motivo?

 

R – Sem personalizar - também porque um rol cabal seria extenso e atravancaria uma resposta salubre e sucinta: aqueles livros que alguns escrevem para estabelecer o domínio de opressões sociais, religiosas ou políticas. Ou seja, todos os livros desses “escritores” que fazem das suas obras nefandas armas de extermínio moral, que geralmente tenta preceder outros extermínios.

   E, também, aqueles livros medíocres que as capelinhas infames dum meio societário infame tentam epigrafar como valorosos, criando o ambiente lamentável da mentira e da burla intelectual.

 

04 | ¿El método de trabajo es fundamental y indispensable a la creación artística?

 

R – É, pelo menos, muito útil para que a criação artística chegue a bom porto. Picasso referia que uma obra de arte é um terço de inspiração e dois terços de transpiração e eu estou em crer que assistia muita razão a esta aparente “boutade” do grande pintor malaguenho.

 

05 | Cuando estás en algún lugar público en que tocan el himno de tu país, ¿cómo reaccionas y por cuál razón?

 

R – Sinto simultaneamente gosto e vergonha: gosto porque esse hino existe na sequência da instauração de uma sociedade que se buscou mais justa (republicana) e porque sintetiza ideais de liberdade e democracia. Vergonha porque esse hino é também usado por gente desacreditada, mesmo nefasta, que se serve dele para lançar poeira nos olhos dos cidadãos sobre os quais tripudia cinicamente.

 

06 | ¿Cuál acontecimiento en tu país, en los últimos 25 años, te provocó indignación?

 

R – Vou generalizar: a contínua e perversa mancebia, o repugnante conúbio, em que têm vivido certos sectores políticos arrivistas e o totalmente desacreditado, dum ponto de vista ético, sistema judicial em que se espojam governantes, causídicos, magistrados e forças obscuras de irmandades. É isso que constitui o cancro que está a destroçar o meu país.

  Sem generalização: as tentativas imperiosas surgidas ultimamente de instaurar de novo a censura e o controle do pensamento, por parte de magistrados altamente colocados e de áulicos políticos sempre dispostos a tudo e prontos para tudo.

 

07 | Arte, ciencia, religión – ¿Cuáles de esas tres corrientes, a lo largo de la historia de la humanidad, causó más daño al hombre?

 

R – A religião, sem qualquer dúvida. E que continua a causar. Pese às declarações piedosas dos chefes de todas as religiões, estas não são mais que instrumentos de domínio mental, espiritual, físico e social. O que individualmente ou sectorialmente possam ter feito de positivo certos indivíduos ou instituições não oblitera ou apaga os crimes e sufocações que fizeram e continuam a fazer as chamadas “religiões reveladas”. Elas partiram, na verdade e continuam a apoiar-se, na simulação e na impostura. Nos casos mais marcados, na violência nua e crua e no crime, conceptual ou expresso pela repressão.

 

08 | ¿Crees que la vida de una persona puede ser regida, de manera separada, por la lógica o por la suerte?

 

R – Creio que por ambas. Tem alguma lógica, por exemplo, que Evariste Galois, um dos maiores matemáticos de todos os tempos (o criador do “grupo de operações”), tenha morrido aos 22 anos na sequência de um duelo para defender a honra duma senhora que mal conhecia e tenha levado a noite que o precedeu a escrever as trinta e tal páginas que imortalizariam o seu nome?

   Talvez tenha, mas é uma lógica que me escapa…

 

09 | ¿El mito aun existe o no pasa de un efecto publicitario aplicado a la industria, a la moda, al consumo?

 

R – Acho que existe ainda. Mais: que certos artistas o têm purificado e até incrementado. No entanto, sem dúvida que os donos dessas áreas que referes, sempre ávidos e frequentemente oportunistas, o tentam poluir, deformar, capturar para servir os seus duvidosos interesses. Compete-nos a nós, criadores e homens de bem, à guisa de bravos guardiões da Távola ou do Segredo, preservá-lo e mesmo vivificá-lo.

 

10 | ¿Cuáles son los actos más importantes sucedidos en la cultura en general, y en la literatura en particular, en los últimos 25 años en tu país?

 

R – O aprofundamento da liberdade de expressão, por um lado. A possibilitação, nomeadamente mediante os meios interactivos, da difusão de obras de qualidade que os sectores egoístas ou cínicos, que dominam certos meios editoriais, doutra forma teriam impedido ainda mais fortemente de aparecerem à luz dos dias…e das montras.

 

CODA | ¿Cómo convives con los seres que están en tu vida?

 

R – Há, feliz e infelizmente, vários tipos de seres que quer queiramos quer não estão na nossa vida: os que amamos/estimamos e nos amam/estimam; os que detestamos ou nos detestam; os que vivem noutro plano (animais e vegetais) e, finalmente, os que sem estarem já connosco no entanto vivem na nossa memória. Com os primeiros convivo bem, sulcados ambos pelos ritmos do tempo. Com os segundos não convivo, ou convivo sob a égide do desprezo salutar que lhes voto. Com os terceiros relaciono-me através do apreço e do carinho de ser vivente. E com os quartos mediante a saudade e a nostalgia mais pura.

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