Não por acaso (e nada acontece por acaso)
há quem chame às ruas de uma cidade «artérias» e poderia também chamar-lhe
«veias» pois a cidade, qualquer cidade, não deixa de ser um corpo e o sangue
ora venoso ora arterial corre no coração dos seus habitantes sejam eles
naturais ou adoptados. No meu caso pessoal posso dizer que sou «lisboeta» desde
1966 e esta Rua (Academia das Ciências) sempre fez parte dos meus roteiros. Por
aqui passei a caminho do Hospital de Jesus, do Cinema São Jorge e do Instituto
Britânico. No primeiro caso para ser operado duas vezes a um quisto dermóide
gigante, no segundo caso era sempre ao Domingo de manhã que o Cineclube
Católico dava as suas sessões no Cinema São Jorge, no terceiro caso para
estudar inglês que muito útil foi no meu trabalho no Departamento Operacional
de Estrangeiro do Banco Português do Atlântico (1966-1996) e mais tarde (2005)
quando a minha filha mais velha casou com um súbdito britânico nascido na
cidade de York. Tanto quanto sei esta Rua da Academia das Ciências começou por
se chamar Rua do Arco a Jesus sendo este Jesus, nada mais e nada menos, o
Convento quase ao lado da Rua, do Hospital e da Igreja do mesmo nome que era ao
tempo (1935) paroquial das Mercês (e julgo que ainda se mantém) e é curioso
porque no ano do livro «Ruas de Lisboa» não tinha dístico municipal nem número
de polícia. Há fotógrafos que dizem que a vida é a preto e branco e não a
cores; continuo a pensar que eles têm toda a razão. Esta rua por onde tenho
passado desde 1966 até hoje 2021 nada tem das cores artificiais; continua a
preto e branco como as minhas lágrimas e o meu sangue pisado.
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