segunda-feira, 11 de outubro de 2021

José do Carmo Francisco, Breve dissertação para uma rua de Lisboa

 


    Não por acaso (e nada acontece por acaso) há quem chame às ruas de uma cidade «artérias» e poderia também chamar-lhe «veias» pois a cidade, qualquer cidade, não deixa de ser um corpo e o sangue ora venoso ora arterial corre no coração dos seus habitantes sejam eles naturais ou adoptados. No meu caso pessoal posso dizer que sou «lisboeta» desde 1966 e esta Rua (Academia das Ciências) sempre fez parte dos meus roteiros. Por aqui passei a caminho do Hospital de Jesus, do Cinema São Jorge e do Instituto Britânico. No primeiro caso para ser operado duas vezes a um quisto dermóide gigante, no segundo caso era sempre ao Domingo de manhã que o Cineclube Católico dava as suas sessões no Cinema São Jorge, no terceiro caso para estudar inglês que muito útil foi no meu trabalho no Departamento Operacional de Estrangeiro do Banco Português do Atlântico (1966-1996) e mais tarde (2005) quando a minha filha mais velha casou com um súbdito britânico nascido na cidade de York. Tanto quanto sei esta Rua da Academia das Ciências começou por se chamar Rua do Arco a Jesus sendo este Jesus, nada mais e nada menos, o Convento quase ao lado da Rua, do Hospital e da Igreja do mesmo nome que era ao tempo (1935) paroquial das Mercês (e julgo que ainda se mantém) e é curioso porque no ano do livro «Ruas de Lisboa» não tinha dístico municipal nem número de polícia. Há fotógrafos que dizem que a vida é a preto e branco e não a cores; continuo a pensar que eles têm toda a razão. Esta rua por onde tenho passado desde 1966 até hoje 2021 nada tem das cores artificiais; continua a preto e branco como as minhas lágrimas e o meu sangue pisado.  


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