Alfonso Bonifacio
Não podendo sair do Fahrenheit 451, que
livro quererias ser?
Posso
escolher três? Aí vão: “O homem da montanha” de Dino Buzzati, “As minas de
Salomão” de Ridder Haggard - mas não na tradução (incompleta) revista pelo Eça,
que é à portuguesa curta - com as encenações duma rota para todas as viagens: ”Fui-me deitar. E levei toda a noite a sonhar
com o deserto, diamantes e animais ferozes e com o infortunado aventureiro morto
de fome nas vertentes geladas dos montes Suliman” e as páginas marcadas a
fogo de “O pássaro pintado” de Jerzy Kosinski.
Já alguma vez ficaste apanhadinho
por uma personagem de ficção?
Sim, por várias: o Axel Munthe de “O livro de San Michele, o sir Charles
Ravenstreet de “Os mágicos” de J.B.Priestley, a mrs. Dolloway de Virgínia
Woolf, o Herbeleau de Jean Husson… E porque não o Danny April de Bill
Ballinger, na sua busca desesperada da pureza e do amor absoluto no magnífico thriller “Versão Original”?
Qual foi o último livro que compraste?
Foram quatro e não um – e todos
em espanhol (há já muito tempo, por uma questão de “localização”, que não
compro livros novos em língua portuguesa, essa tarefa está agora reservada a um
dos meus filhos): “El viaje de Simbad” de Tim Severin, roteiro muito real (as
costas do Malabar… as terras de Oman…) construído sobre os mapas do ficcionado
aventureiro árabe; o “Dalí” de Lluís Llongueras acabadinho de sair na Ediciones
BSA; o “Mentiras fundamentales de la Iglesia Católica”, uma análise séria e
competente de Pepe Rodríguez também na BSA; as “Prosas” de Cláudio Rodriguez,
onde se arrolam em menos de 300 páginas (é o suficiente…) tudo o que o grande
poeta nos deixou – e, como que fazendo parte do pacote, as suas “Poesias”
oferecidas na horinha…
Qual o último livro que leste?
“Os grandes cemitérios sob a Lua” de Georges
Bernanos.
Que livros estás a ler?
Como leio/releio vários ao mesmo
tempo posso dizer três? “Os filhos do
capitão Grant”, de Verne; “A costa das Syrtes”, de Gracq; “A vida essa
aventura” do grande biólogo Jean Rostand.
Que livros (cinco) levarias para uma ilha deserta?
Depois de meditação algo aturada:
“A ponte sobre o Drina” de Ivo Andric, tributo ao real, ao sonho e à sua mútua
interpenetração; “Alain Decaux raconte” - tributo à História, para não perder o
continente; “A montanha mágica” de Mann, tributo ao exactamente porque sim; “Os
triunfos de Eugène Valmont” de Robert Barr, para manter na ilha o champanhe
gelado; e “En compagnie des vieux peintres” de Léo Larguier, para saber ver o
horizonte enquanto esperava o barco que me levaria definitivamente de regresso.
(Passado sob as barbas dos
guardas-marinhas, o “Diário” do Amiel na edição velhinha - a mais completa - da
Stock…).
A quem vais passar este testemunho e porquê?
Ao Floriano Martins da “Agulha”,
porque Fortaleza também é a minha debilidade.
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