Paul Burlin
LIRA
O preço que
se paga é este: ninguém,
Na língua
onde nascemos, esta palavra
Profere.
Prece aos deuses, punhal que crava
Na pomba e
no cordeiro, e o sangue tem
Para o
sacrifício. Ou então, o que retém
O mistério
iniciático, ou ainda a lavra
Fecunda
aberta onde dos cereais a mãe
Extrai a
virgem que a nada responde, cabra
Que nenhum
bode cobre, mas cujos pés
Nosso
destino são – doce, suave, embalador,
Mas cuja
verdade se revela de través.
Hino de amor
e espuma, hino de dor,
Tragédia e
trevas que a esfinge fez.
Enigma e
luz, irrespondível clamor.
METEOROLOGIA
Vento forte
na faixa ocidental,
A pele o
capta, a ciência o mede.
Os sentidos
são o que o corpo pede,
A razão,
transviada, perde-se no mal.
Investiguemos,
e negaremos os sentidos.
Sintamos – e
a razão é fútil.
Filosofia
busca a teia inconsútil
Que visão,
gosto e pele, entre gemidos
De dor e
fogo, tecem, bem tecida.
Poesia,
essa, é deixar razão de lado,
Tudo sentir,
estremecer com o que sente.
Mas não.
Poesia é, apesar da mente
Estreita, de
que Platão não é culpado,
A sensação
maior à maior razão unida.
in “POÉTICA DA GAVETA”
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