segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Dois poemas de José Carlos Costa Marques

 


Paul Burlin



LIRA


O preço que se paga é este: ninguém,

Na língua onde nascemos, esta palavra

Profere. Prece aos deuses, punhal que crava

Na pomba e no cordeiro, e o sangue tem

 

Para o sacrifício. Ou então, o que retém

O mistério iniciático, ou ainda a lavra

Fecunda aberta onde dos cereais a mãe

Extrai a virgem que a nada responde, cabra

 

Que nenhum bode cobre, mas cujos pés

Nosso destino são – doce, suave, embalador,

Mas cuja verdade se revela de través.

 

Hino de amor e espuma, hino de dor,

Tragédia e trevas que a esfinge fez.

Enigma e luz, irrespondível clamor.

 

           

METEOROLOGIA


Vento forte na faixa ocidental,

A pele o capta, a ciência o mede.

Os sentidos são o que o corpo pede,

A razão, transviada, perde-se no mal.

 

Investiguemos, e negaremos os sentidos.

Sintamos – e a razão é fútil.

Filosofia busca a teia inconsútil

Que visão, gosto e pele, entre gemidos

 

De dor e fogo, tecem, bem tecida.

Poesia, essa, é deixar razão de lado,

Tudo sentir, estremecer com o que sente.

 

Mas não. Poesia é, apesar da mente

Estreita, de que Platão não é culpado,

A sensação maior à maior razão unida.

 

in “POÉTICA DA GAVETA


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