Nikos Ghika
O NOVO ALADINO
Se tivesse uma lâmpada
como tinha Aladino
que iria eu fazer para Pasárgada?
Ser amigo de rei
tem desvantagens.
Não precisava de um rei
para escolher a cama desejada
e nela a mulher
com quem bulisse.
Primeiro,
queria uma casa com relvado,
entre campo e praia,
sem vizinhos amáveis
que são uma chatice.
Amigos
isso sim
quantos quisessem vir.
Mas nunca mais de dois
de cada vez.
Queria
uma cama de água
com comando,
para sentir a calma das lagunas
a lua das marés
e dos riachos
o sussurro fresco.
A mulher é que era o drama:
olhos que falassem fundo,
esguia e louca
feita malagueta,
frescura de água de coco
e o doce da carambola.
Mas nada de escravatura.
Nua ou velada,
só viesse
quando o ritmo lhe pedisse
ou a isso fosse levada.
E pouco mais queria.
Escrever por acaso.
A melodia
do meu galgo solto.
E, na iridiscência
do meu copo
o reflexo inquieto
da memória.
A
CASA
No caminho
olho as janelas
donde já ninguém espreita
e as portas
a que só o vento bate.
O homem
levantou as paredes,
pôs as telhas,
e por baixo do fumeiro
a pedra do fogo
e a panela de ferro.
No canto mais escuro
escondeu a cama
onde dormia
e fazia os filhos.
Arroteou a terra,
fez a horta
e mais tarde a cerca
onde o porco
chafurdava os restos.
Dos filhos, muitos,
só ficaram dois:
um áspero e rude
a quem o pai deixou as cabras
e outro que cedo morreu.
Os restantes perderam-se
por oficinas, fábricas,
áfricas, que a imaginação debulhava
em frutos, terras úberes
e o bronze das mulheres.
O último deixou a casa
a que nada o prendia.
No silencio que só os ratos roem
pairam fiapos do riso
que a madeira range,
das lágrimas
que ressumam das paredes.
Apodrece o esqueleto.
Vai ruindo
a velha casa.
Já ninguém se lembra
de quem lá vivia.
Do livro “Outro Lado”
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