segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Para um minuto de meditação - 128

 

PARA QUE A TERRA NÃO ESQUEÇA…




   Por oportuno e lúcido transcrevemos, com vénia ao seu autor, este texto de João Pedro Pimenta, que se debruça com propriedade sobre a figura do estadista e democrata luso recentemente desaparecido.

  Nota adenda - Os de muitíssimo boa memória talvez recordem que, por decisão ética tomada naquela altura, fiz parte da Comissão de Honra (Portalegre), da candidatura de Jorge Sampaio à presidência da República. Refiro ainda que o mesmo, já presidente, galardoou Mário Cesariny com a Ordem da Liberdade – tendo-se deslocado a sua casa, onde ele se encontrava doente, para lhe entregar o colar honorífico.

  Foi pouco depois desse acto – quando tal entrou no noticiário e conhecimento nacional - que alguns turiferários ditos “esquerdistas” bolsaram inanidades contra a acção e contra o Poeta, chegando um deles, notório estalinista e semi-intelectual, a referir que a distinção não devia ter sido outorgada a alguém que ele descrevia de forma aqui irreproduzível – o que dá bem o nível rasteiro e obsceno de quem assim falava.

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Ainda sobre Jorge Sampaio, já quase tudo se disse, de bom, sobretudo, e de mau, bem menos, e merecido. Mas gostaria de acrescentar um ponto sobre o político que pela postura, carreira e até a cor do cabelo poderia perfeitamente ser um parlamentar trabalhista britânico. Acerca do momento mais polémico da sua presidência, a nomeação de Santana Lopes e a dissolução do Parlamento seis meses depois, convocando as eleições que depois dariam o poder a Sócrates, relembro que apesar das críticas que a direita lhe teceu então, ficaram ainda assim aquém das que a esquerda lhe disparou ao decidir convidar Santana a formar governo. Provavelmente a maioria acha hoje que ele faria melhor em convocar logo eleições (e o PSD em escolher a então segunda figura do governo, Manuela Ferreira Leite, para o liderar, quatro anos do que sucedeu mais tarde).    

   Mas decidiu não o fazer e com isso atraiu a fúria da esquerda. Ferro Rodrigues demitiu-se da liderança do PS nesse mesmo dia, indignado com a decisão presidencial. Saramago disse que "a democracia acabara em Portugal". Francisco Louçã retorquiu que era "o princípio do fim do 25 de Abril". Na festa do Avante desse ano usaram-se t-shirts anti-Sampaio. E como na noite seguinte, precisamente, morreu de súbito Maria de Lurdes Pintassilgo, não faltou quem dissesse explicitamente que tal se deveria ao desgosto da decisão de Sampaio. Em suma, provavelmente nunca nenhuma figura da esquerda (nem da direita) portuguesa atraiu tanto os ódios do seu espectro político como Jorge Sampaio.    

   Curiosamente, muitos destes correligionários aplaudiram dez anos depois a constituição da "geringonça", que, tal como no governo Santana, se baseava numa maioria parlamentar.

   Que o "cenoura", como carinhosamente lhe chamavam, descanse em paz.


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